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"Hoje não sei quem manda na Bombril"

O empresário Ronaldo Sampaio Ferreira, o maior credor da Bombril, teme ver dilapidado o patrimônio da empresa fundada por seu pai nos anos 40

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Em meio a tantos desencontros e disputas na Justiça, os resultados financeiros da Bombril começam a apresentar uma melhora tímida. No primeiro trimestre deste ano, o lucro foi de 13,4 milhões de reais contra um prejuízo de 22,1 milhões de reais no mesmo período de 2004. Esses números, no entanto, foram conquistados às custas de diminuição das vendas. "A ordem do dia agora é diminuir volume de vendas e aumentar os preços cobrados dos varejistas", diz Valmir Camilo, presidente do conselho de administração da Bombril. Em alguns casos, segundo ele, o preço de tabela para grandes redes de varejo quase dobrou nos últimos seis meses. A queda na produção resultou num programa de demissão voluntária, que desligou 500 dos cerca de 2 000 funcionários da companhia.

As medidas tomadas pelos gestores judiciais só tornaram ainda mais atribulado o relacionamento entre eles e o empresário Ronaldo Sampaio Ferreira, o maior credor da Bombril, fundada pelo seu pai Roberto Sampaio Ferreira em 1948. Ferreira é hoje o maior credor da Bombril. Há dez anos, ele espera receber pela venda de sua participação na companhia ao italiano Sergio Cragnotti, dono do grupo Cirio. A gestão judicial passou a vigorar a seu pedido, há dois anos, para proteger a gestão da companhia da influência de Cragnotti, enquanto a Justiça não definisse quem é o dono da companhia.

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O clima entre as duas partes piorou quando o interventor judicial José Paulo Sousa empreendeu uma dança das cadeiras entre os executivos, em novembro do ano passado. A mudança incluiu a indicação de um novo presidente do conselho de administração, Camilo. Um mês mais tarde, Camilo demitiu os dois executivos de confiança de Ferreira Fernando Rezende, no conselho de administração e Gustavo Ramos, no conselho fiscal. Desde a destituição de seus conselheiros, Ferreira diz estar sem informações sobre o que acontece na empresa. "Os conselheiros de Ronaldo estavam causando problemas porque divergiam das decisões que tomávamos", diz Camilo. "O mais estranho é que os meus conselheiros foram destituídos, mas o do Cragnotti permaneceu", diz Ferreira.

Ferreira se refere ao conselheiro de administração Waldir Sant Ana. No final do ano passado, Sant Ana foi multado em 50 000 reais por colaborar com o esquema de fraude de Cragnotti, que tornou a Bombril o maior caso de lavagem de dinheiro com uma única empresa já comprovado pela Comissão de Valores Mobiliários, a CVM. Os investigadores da comissão verificaram que Cragnotti e seus assessores sugaram mais de 500 milhões de reais do caixa da companhia enquanto estiveram no controle. Camilo tem uma explicação para ter mantido Sant Ana. "Como conhecedor das manobras de Cragnotti, Sant Ana é útil para conseguirmos acabar com todos os resquícios daquelas operações", diz Camilo.

A nova gestão iniciou uma grande reestruturação operacional, em março deste ano. Naquele mês, foi fechada uma das três linhas de produção de lã de aço da companhia, localizada em Minas Gerais. Restaram duas uma no Nordeste e outra em São Paulo. As máquinas foram lacradas e trazidas para São Paulo. "Como o volume de venda caiu, não precisávamos mais delas", diz Camilo. As fábricas do Nordeste e de São Paulo deixaram de operar em três turnos para operar apenas em dois. "Pedi pela gestão judicial e pago por ela desde então para me sentir mais seguro", diz Ferreira. "Mas hoje tenho medo de ver o patrimônio dilapidado em vez de protegido. Hoje não sei quem manda na Bombril."

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