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Previ está em plena fase de ajustes na composição da carteira

"Tudo o que pode ajudar o desenvolvimento do Brasil interessa à Previ, mas tenho de me preocupar em garantir, primeiro, a aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil", diz Sérgio Rosa, presidente do fundo de previdência dos funcionários

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.

Antes de assumir a presidência da Previ, Sérgio Rosa nunca havia sido executivo. "Aprendi a ler os balanços dos grandes bancos durante as negociações salariais", lembra. Ainda assim, o que mais o preocupa no cargo não é a barafunda de números com os quais ele tem que lidar. "Os números se aprende a ler, e sempre vai ter muita gente para ajudar a checar. O que importa é tomar as decisões certas", afirma. Por semana, Rosa e a diretoria da Previ dão a palavra final sobre cerca de 20 assuntos diferentes, dos mais prosaicos às grandes definições sobre os investimentos do fundo, passando pelas disputas societárias que mobilizam cinco escritórios de advocacia.

Rosa se preocupa mesmo é com o tamanho da responsabilidade que carrega. É uma preocupação justificada. Ao longo da história da Previ, vários de seus presidentes estiveram envolvidos em escândalos políticos ou financeiros. Hoje, por lei, os gestores de um fundo de pensão podem ser responsabilizados criminalmente por má gestão dos recursos do fundo, inclusive com a prisão, o que antes não acontecia. O histórico, somado ao volume dos investimentos dos fundos, atraem atenção da opinião pública e dos políticos. "É diferente ser o diretor de participações e ser o presidente da Previ. É você o responsável final pelas decisões que afetam os aposentados do banco e, em última instância, podem afetar a economia brasileira", resume o próprio Rosa.

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Essa responsabilidade se amplia quando se considera que a política, até muito recentemente, era determinante para os rumos adotados pelo fundo. Várias decisões foram tomadas com base em interesses políticos dos governos da ocasião. Muitas dessas aquisições se transformaram no que hoje se classifica na Previ como "ativos em reestruturação". Em valores de hoje, eles somam 3 bilhões de reais, o equivalente a 4% do total de investimentos. São os "micos" do passado que passam por uma fase de recuperação, com alongamento de dívida, mudança de gestão e injeção de mais capital. Alguns são resgatados, como aconteceu com a Perdigão, que saiu do buraco para ser uma empresa lucrativa e bem administrada.

Outros, como o parque temático Magic Park, em Aparecida do Norte, que custou 39,4 milhões de reais mas acabou vendido por algo próximo de 3 milhões, viraram prejuízo irremediável. Outros ainda preocupam, mas ensaiam recuperação, como a Brasil Ferrovias. "O fundo é rentável, mas poderia ser bem mais, se tantas decisões não tivessem sido tomadas por gente vinculada a governos", opina o professor do Ibmec e ex-presidente da CVM Fábio Fonseca.

Nos últimos anos, essa a tendência se inverteu. Os fundos de pensão estão investindo na formação profissional de seus técnicos e na adoção de códigos de ética e governança corporativa, tanto internamente como nas empresas em que têm participações. Sérgio Rosa se declara preocupado em reforçar esse movimento.

Ele tem condições para fazer isso. Seu antecessor, Luiz Tarquínio Ferro, teve a gestão tumultuada pela briga política entre governo e oposição. Nomeado pela administração tucana, Tarquínio enfrentou várias disputas com os três diretores petistas eleitos pelos funcionários sobre como administrar a Previ. Um desses diretores era Sérgio Rosa, responsável justamente pela gestão dos investimentos. Tarquínio, que presidiu o fundo de dezembro de 1998 a dezembro de 2002, diz que Rosa foi um bom colega, apesar das divergências. "Mas é inegável que hoje ele tem um ambiente muito mais tranqüilo para fazer o que é necessário", observa. Com relativa tranqüilidade dentro de casa, resta a Rosa cuidar de resolver os problemas deixados por outras administrações.

Há uma série de ajustes a fazer na composição da carteira. Por determinação legal, a Previ terá de reduzir suas aplicações em ações dos atuais 61% do total para 50% até 2012. Por ano, 700 milhões de reais serão deslocados para outras aplicações, das quais a renda fixa é a maior atração. No ano passado, o fundo comprou debêntures da Suzano , da Cemig e da Braskem. Além disso, reservou para este ano 350 milhões de reais para um fundo de capital de risco. Está em curso uma licitação para escolher o gestor.

Por enquanto ainda é pouco, segundo a avaliação do diretor de investimentos do fundo, Luiz Carlos Aguiar. "O nível de oferta desses produtos (para investimentos em renda fixa) é muito pequeno para o nosso apetite." Além disso, por restrição legal, a Previ não pode compra debêntures de empresas com faturamento menor do que 500 milhões de reais. Hoje, 90% da carteira de renda fixa da Previ está aplicada em títulos da dívida pública.

Na algibeira dos que buscam os recursos dos fundos de pensão, há ainda as PPPs, as parcerias público-privadas que são a grande promessa na área de infra-estrutura e movimentam o mercado. Mas elas representam investimentos em renda variável e não devem receber, pelos critérios técnicos, grandes aportes de recursos pela Previ. "Tudo o que pode ajudar o desenvolvimento do Brasil interessa à Previ, mas tenho de me preocupar em garantir, primeiro, a aposentadoria dos funcionários do BB", diz Rosa.

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