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Prazo para regulamentação das apostas esportivas se encerra nesta segunda. O que acontece agora?

Decreto de 2018 do governo de Michel Temer estabelecia que o arcabouço de regras deveria ser criado no prazo de dois anos, prorrogáveis por outros dois

Indústria de apostas esportivas deve movimentar R$ 6,3 bilhões neste ano no país, segundo a consultoria britânica H2 Gambling Capital (Grupo Globo/Reprodução)
MB

Marcos Bonfim

Publicado em 12 de dezembro de 2022 às 07h58.

A cada intervalo comercial pipocam campanhas publicitárias de casas de apostas esportivas nas TVs pelo país. Jogadores e ex-jogadores de futebol são as principais estrelas em ações de marketing das empresas em uma indústria que deve movimentar 6,3 bilhões de reais neste ano no país, segundo a consultoria britânica H2 Gambling Capital.

Em pleno crescimento, o mercado ainda carece de regulamentação. Isto é, o estabelecimento de regras que definem como determinada atividade deve ser executada ou explorada comercialmente.

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O setor foi impulsionado no Brasil por um decreto assinado no apagar das luzes do governo de Michel Temer, em 12 de dezembro de 2018, liberando as apostas e a adoção de estratégias de comunicação e patrocínios pelo setor.

O texto estabelecia, no entanto, que o arcabouço de regras deveria ser criado no prazo de dois anos, prorrogáveis por outros dois pelo Ministério da Fazenda (no governo atual, caberia ao Ministério da Economia).

Com o prazo vencendo nesta segunda-feira, 12, o tema não andou e, segundo o ministério, "ainda está em estudo no governo".

Qual o impacto da ausência de regulamentação

Apesar do fim do prazo, especialistas em direito desportivo ouvidos pela reportagem afirmam que o fim do prazo não deve ter impacto nem para as casas de apostas nem para os seus clientes.

Isso ocorre porque as empresas não estão localizadas em território nacional. Por causa da Lei das Contravenções, de 1941, do governo de Getúlio Vargas, as casas não podem operar a partir do Brasil porque se enquadram na categoria de jogos de azar.

Regularmente, os sites operam dos seus países de origem, caso das inglesas Bet365 e Betfair, ou de paraísos fiscais, como a brasileira Pixbet, sediada em Curaçao. Ou seja, todo o dinheiro vai para o exterior e, no fim do dia, não gera retorno ao país.

“Hoje, essas empresas criam produtos relacionados ao esporte brasileiro, ao mercado para que consumidores brasileiros façam as apostas, mas para todos os efeitos é como se eles tivessem fazendo um negócio jurídico ou uma contratação com uma empresa estrangeira. E, por isso, a legislação aplicável é a estrangeira. Não havendo, portanto, a regulamentação nada muda”, afirma Luiz Marcondes, advogado, professor de direito desportivo e presidente honorário do Instituto Ibero-Americano de Direito Desportivo.

Por que a regulamentação é um importante

A regulamentação é esperada pelo mercado para que traga transparência à indústria em relação às regras do jogo e também crie um ambiente de segurança jurídica, hoje inexistente. É uma ação importante também para os apostadores, que estão sujeitos às leis dos países dos sites de apostas e sem respaldo na legislação brasileira.

Outra expectativa é de que as casas sejam liberadas a operar diretamente do Brasil, o que poderia significar a entrada de investimentos e a geração de empregos.

“A ausência de regulamentação pode trazer prejuízos a todos os envolvidos no segmento. O governo não recebe tributos, os clientes não têm uma referência clara sobre as casas de apostas confiáveis e os operadores não possuem a segurança jurídica necessária para escalar seu investimento em território nacional”, afirma Alexandre Fonseca, country manager daBetano no Brasil.

Trabalhando com um cenário de regulamentação em 2023, a H2 Gambling Capital projeta que a indústria poderia chegar a R$ 11,2 bilhões em 2024. Em 2027, cinco anos depois, alcançaria em torno de R$ 17,9 bilhões.

De acordo com Marcondes, a complexidade do tema, dentro de um ambiente político conturbado, pode ter contribuído para que a pauta não avançasse. O ganho em relevância, como demonstrado ao longo da Copa, pode ajudar a romper algumas barreiras.

“Está claríssimo que nós temos aí um fato social super relevante que gera bilhões e nós sabemos que gera, por isso eu imagino que ele seja logo pauta do governo”, afirma.

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