Postos em mutação
Revendedores de combustíveis mudam de perfil e ampliam a oferta de serviços
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
O setor de combustíveis passou por transformações radicais nos últimos 20 anos. Houve o aumento da produção do petróleo (o Brasil já está entre os 20 maiores produtores do mundo), a ascensão e a queda da produção do álcool e as mudanças na ponta da distribuição com a remodelação dos pos tos e do seu mix de serviços. Só em São Paulo há cerca de 2 000 postos para abastecer os mais de 5 milhões de veículos registrados.
Após a segunda crise do petróleo, em 1979, o Proálcool uniu a indústria, a agricultura e o varejo para fazer dos veículos a álcool um sucesso. De lá para cá, muita coisa mudou. Em 1985, em São Paulo, consumiam-se 60 litros de álcool para cada 100 de gasolina. No ano passado, a proporção foi de 13 por 100. Se considerados a gasolina e o álcool, o consumo entre 1995 e 2001 caiu cerca de 20% na capital. A queda ocorreu por causa da implementação do rodízio de veículos em 1997 e, mais recentemente, pela perda do poder aquisitivo da população.
Na ponta da distribuição, com a criação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 1997, ocorreu a liberação da obrigatoriedade de marcas, o que levou a uma mudança nas bandeiras em São Paulo. O mercado, até então dividido entre as grandes marcas (Shell, BR, Ipiranga, Esso e Texaco ainda possuem 65% dos postos), assistiu ao desaparecimento da bandeira Atlantic e ao surgimento da Agip. Mas a grande transformação foi nos chamados postos de "bandeira branca" ou de "pequenos distribuidores", que totalizam hoje perto de 700 unidades na cidade. Outra mudança é o surgimento dos postos com gás natural veicular (GNV): apesar do elevado custo de implantação, já somam mais de 70 unidades na capital.
Um dado relevante é que a área do rodízio de veículos concentra a economia e os negócios de São Paulo. Essa região -- equivalente a 10% do território do município, onde vive só 14% da população -- reúne 34% dos postos da capital, 51% dos chefes de família de alta renda e 50% dos empregos formais.
Outro aspecto importante é a mudança no mix de produtos e serviços oferecidos nos postos. Quase 90% dos postos na capital realizam troca de óleo, mas apenas cerca da metade faz a lavagem completa do carro. Além disso, 30% dos postos já têm loja de conveniência, que desponta como um novo canal de distribuição -- são mais de 550 lojas na cidade. Há também cerca de 250 caixas eletrônicos de bancos instalados nos postos. Muitos complementam o mix com lavanderia, farmácia, floricultura, videolocadora e até agências de automóveis.
A forma de pagamento também vem mudando. O vale-transporte, largamente aceito pelos perueiros, pode ser trocado por combustível em mais de um terço dos postos. Cabe notar que 85% dos postos que aceitam passe ou vale-transporte localizam-se fora da área de rodízio. Como normalmente eles pagam 1,25 real para um valor de face de 1,40 real, o preço médio da gasolina tende a ficar mais alto na periferia do que na área mais rica da cidade. Só falta, além de tudo, estar "batizada".
Radiografia dos postos | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Fontes: ANP/Estudos |
Tadeu Masano, doutor em planejamento urbano pela FAU-USP, é professor na Fundação Getulio Vargas de São Paulo e presidente da consultoria Geografia de Mercado