Negócios

Por que as empresas brasileiras desistem da Bolsa

São Paulo, 2 de dezembro (Portal EXAME) O número de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) continua diminuindo ano a ano. Em 2002, 33 empresas deixaram de negociar seus papéis, enquanto apenas oito decidiram se registrar no mercado acionário. Detalhe: dessas oito, somente uma, a CCR (Companhia de Concessões Rodoviárias), efetivamente […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

São Paulo, 2 de dezembro (Portal EXAME) O número de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) continua diminuindo ano a ano. Em 2002, 33 empresas deixaram de negociar seus papéis, enquanto apenas oito decidiram se registrar no mercado acionário. Detalhe: dessas oito, somente uma, a CCR (Companhia de Concessões Rodoviárias), efetivamente passou a negociar ações no pregão neste ano. Nos últimos três anos, o total de empresas que cancelaram o registro na Bovespa chega a 121, e apenas 30 se associaram à Bovespa. Outro dado: em 1999, a Bovespa movimentava até R$ 1 bilhão por dia; hoje os recursos giram em torno de R$ 400 milhões.

Mais que refletir apenas o desânimo do investidor com o mercado acionário, esses números também refletem o desinteresse e a resistência das companhias brasileiras em lançar ações na Bolsa ou em manter seu capital aberto. Nem mesmo o Novo Mercado, lançado em dezembro de 2000 nos moldes da Nasdaq americana para favorecer a transparência e facilitar o financiamento de empresas emergentes, tem servido de consolo. Das dezenas de empresas que manifestaram interesse em lançar ações no Novo Mercado, apenas duas aderiram efetivamente: a CCR e a Sabesp.

Há basicamente dois tipos de empresas saindo do mercado acionário brasileiro: subsidiárias de multinacionais e empresas brasileiras de porte médio ou pequeno, cujos papéis têm pouca liquidez. Entre as do primeiro tipo figuram nomes como Pirelli e White Martins. Nas do segundo estão a Vega Engenharia, a rede atacadista Makro e a fabricante gaúcha de armas Amadeo Rossi. Procuradas pelo Portal Exame, todas essas empresas que fecharam capital evitaram falar no assunto.

Mas os motivos para a decisão não são difíceis de descobrir. Para quem tem o apoio de uma matriz no exterior, com os juros brasileiros e a baixa liquidez das ações, é mais vantajoso tomar dinheiro emprestado da empresa-mãe. Sai muito mais barato , afirma Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Senior e vice-presidente da Associação dos Analistas de Mercado de Capitais (Abamec).

Também é muito mais interessante para companhias multinacionais que suas filiais sejam de capital fechado porque, assim, a matriz tem mais flexibilidade para distribuir resultados pelos diversos países da melhor forma que lhe convier. No país de origem, ela só precisa apresentar o balanço consolidado , diz um consultor de empresas que prefere não ser identificado. Isso significa, afirma o consultor, pagar menos imposto no país onde a carga tributária for mais pesada.

Muitas empresas também têm chegado à conclusão de que a atual relação custo-benefício não justifica a manutenção da condição de capital aberto. As despesas são muito altas e o preço das ações está muito depreciado , diz Alfried Plöger, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). De acordo com ele, dependendo do porte da companhia, o custo anual de manutenção de uma S/A pode variar entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão. Esse total inclui gastos com auditoria, publicação de balanços e fatos relevantes em jornais, além de taxas pagas a instituições como a própria Bovespa e a CVM.

Para uma pequena ou média empresa, qualquer um percebe que a conta pode ficar alta demais. Mas muita gente considera que o desinteresse delas pelo mercado acionário também se explica por uma razão cultural. O empresário brasileiro, de forma geral, detesta prestar contas , afirma Edson Vaz Musa, que presidiu a Rhodia por 12 anos e já participou do conselho de administração de várias empresas. Para Musa, a maioria das pequenas e médias não está preparada para as exigências de transparência que são crescentes, por exemplo, no Novo Mercado. Esse segmento da Bovespa é destinado a negociar apenas ações de empresas que se comprometam, entre outras exigências, a dar mais poderes aos acionistas minoritários.

Além da falta de poder decisório, outra queixa freqüente dos investidores e acionistas minoritários é a carga tributária cobrada sobre as aplicações em renda variável. Desde janeiro, o Imposto de Renda sobre os rendimentos com ações passou de 10% para 20%, taxa igual à cobrada na renda fixa. Enquanto os juros permanecerem estratosféricos, não haverá estímulo para o mercado de capitais , diz Plöger, da Abrasca.

Há, porém, quem acredite que já seja possível, sim, ver uma luz no final do túnel do mercado de ações. O número de empresas saindo da Bolsa deve começar a diminuir , diz Waldir Luiz Corrêa, presidente da Associação Nacional dos Investidores no Mercado de Capitais (Animec), entidade que defende os acionistas minoritários. Ele acredita que o que vem ocorrendo nos últimos anos é uma depuração no mercado e que esse processo já está quase no fim. Com as novas exigências, só devem permanecer na Bolsa empresas dispostas a cumprir as regras de boa governança, o que é bom , diz Corrêa.

Há, inclusive, quem tenha provado que é possível, sim, usar a Bolsa como meio de captação de recursos em pleno período de vacas magras no mercado acionário mundial. É o caso da Marcopolo, empresa do Rio Grande do Sul, fabricante de carroçarias de ônibus. Neste semestre, ela fez uma emissão de 30 milhões de novas ações e conseguiu captar R$ 95 milhões. A captação no mercado acionário pode até chegar a ser mais custosa do que se fosse feita em bancos. Afinal, temos o compromisso de dar bom retorno ao acionista, caso contrário ele deixa o dinheiro dele no banco, não aplicado nos nossos papéis , diz Carlos Zignani, diretor de relações com investidores da Marcopolo. Mas ele afirma que o acionista, como parceiro, espera o retorno do investimento e sabe que o resultado não se dá no curto prazo nem tem data marcada para acontecer, ao contrário de um empréstimo bancário.

Além da Marcopolo, algumas poucas empresas também começam a desenhar sua estratégia de crescimento contando com a estréia no mercado acionário. É o caso, por exemplo, do varejista virtual Submarino, da construtora Gafisa e da Andrade Gutierrez Concessões. Alguns classificam essa expectativa como otimismo exagerado. Outros consideram uma extraordinária visão de longo prazo. Quem sobreviver no turbulento mercado de capitais, verá.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame