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Parmalat pede concordata na Itália

Escândalo contábil europeu tem as mesmas dimensões das fraudes nas americanas Enron e WorldCom

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

A fabricante de laticínios italiana Parmalat entrou nesta quarta-feira (24/12) com pedido de concordata na Itália, sob proteção garantida pela lei aprovada às pressas na terça-feira (23/12). A fraude contábil na empresa, estimada em pelo menos 8 bilhões de euros (ou 10 bilhões de dólares) de acordo com o jornal italiano Corriere Della Sera, coloca o escândalo da Parmalat, que faturou 7,5 bilhões de euros em 2002, no mesmo patamar dos congêneres da Enron (9 bilhões de dólares) ou WorldCom (12 bilhões de dólares).

Não está claro se o governo italiano será capaz de salvar a Parmalat, uma vez que tem de se sujeitar às rígidas normas de proteção à competição da União Européia. Na terça-feira (23/12), o Conselho de Ministros da Itália aprovou às pressas um decreto-lei que permite auxiliar grandes empresas ém estado de insolvência, com mais de mil funcionários e dívidas superiores a 1 bilhão de euros. Credores da Parmalat entraram com processo para liquidação judicial da empresa nas Ilhas Cayman.

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O até a semana passada executivo-chefe da Parmalat, Calisto Tanzi, foi citado ao lado de 20 outros executivos na investigação que a Justiça italiana promove por fraude nas contas da empresa, fundada há 42 anos pelo próprio Tanzi. Na quarta-feira (24/12), dia em que era esperado para interrogatório, Tanzi deixou a Itália. Entre os também citados no processo estão os ex-diretores financeiros Alberto Ferraris e Luciano Del Soldato. Mas o verdadeiro arquiteto do labirinto de participações cruzadas que permitiu à Parmalat ocultar bilhões de euros de dívidas parece ter sido o ex-diretor financeiro Fausto Tonna. Depois de interrogatório na Procuradoria de Milão, Tonna limitou-se a declarar à imprensa que a responsabilidade pela ocultação de dívidas cabia à empresa.

O último caminho desbravado pelos investigadores nesse labirinto, segundo reportagem do Corriere della Sera, leva das participações da Parmalat no fundo Epicurum, nas ilhas Cayman (o estopim da crise na semana passada), até contas da família Tanzi na financeira Satalux, sediada no grão-ducado de Luxemburgo.

O recém-empossado executivo-chefe da Parmalat, Enrico Bondi, está colaborando com a Justiça italiana e submeteu uma extensa documentação para análise dos magistrados. Ele foi nomeado pelo próprio governo para comandar a reestruturação da empresa caso ela opte pela concordata.

Paralelamente, o Bank of America apresentou à Procuradoria de Milão uma denúncia da falsidade de um documento que atestava a existência de uma conta de 3,95 bilhões de euros em nome da Bonlat, uma subsidiária da Parmalat, e que havia sido usado no balanço da empresa, aprovado por auditores da Grant Thornton.

Além desse buraco, a Parmalat não consegue provar que teria resgatado outros 2,9 bilhões de euros em bônus, conforme havia declarado em suas demonstrações financeiras. Outro mistério é quanto dinheiro a empresa tem em caixa. As demonstrações contábeis falam em 4,2 bilhões de euros, mas a inexistência da conta da Bonlat põe esse número em xeque.

A forma de concordata pedida pela empresa dependerá do tipo de auxílio que o governo italiano conseguir oferecer para proteger os cerca de 35 000 funcionários, espalhados por 30 países. A lei italiana permite que a concordata seja decretada de diferentes formas. No Brasil, a empresa não atrasou pagamento de salários nem de seus fornecedores diretos de leite, que respondem por 80% do volume captado. Fornecedores indiretos, como cooperativas, e de outros produtos, porém, já foram informados sobre o atraso nos pagamentos.

Ainda na segunda, a Parmalat deixou de pagar a segunda parcela de uma dívida de 400 milhões de dólares aos acionistas minoritários da controladora de sua subsidiária brasileira, que detêm 18,18% da empresa. O pagamento da primeira parcela dessa dívida havia sido adiado na última semana. Caso a empresa brasileira não tivesse lançado ações na Bolsa até o final de 2003, os minoritários tinham a opção de resgatar os bônus de 400 milhões de dólares para se desfazer de sua participação. Mas esse valor praticamente se perde em meio ao buraco que pode chegar a 14 bilhões de euros.

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