Para S&P, venda de ativos da Petrobras deve atrasar um ano
O cenário da agência de risco leva em conta as decisões do TCU, que têm atravancado o processo de desinvestimento da Petrobras
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de fevereiro de 2017 às 14h54.
Rio - A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) considera, em seu cenário básico, um atraso de pelo menos um ano na execução do plano de desinvestimento da Petrobras .
Esse atraso está relacionado com decisões do Tribunal de Contas da União (TCU), que têm dificultado as alienações, em razão de irregularidades encontradas em procedimentos.
O programa de venda de ativos é visto, ao lado da política de preços, como um dos pilares para a desalavancagem da petroleira.
"Mas a empresa pode gerenciar esse atraso", disse a analista Renata Lotfi em teleconferência com jornalistas. "O plano de desinvestimento será importante para ações futuras de rating", completou.
Apesar disso, a S&P não espera uma piora dos ratings da companhia em função desses atrasos.
Renata e o analista Luciano Gremone conversaram com a imprensa a respeito da decisão da agência de elevar de B+ para BB- o rating em escala global da Petrobras no último dia 10. O rating de perfil de crédito também foi elevado, de B- para BB-. A perspectiva é estável.
Em relatório divulgado naquela data, a S&P afirmava que a Petrobras busca uma estratégia focada em acelerar a redução de sua dívida e fortalecer sua liquidez.
"Em nossa opinião, o estabelecimento da política de preços apoia a visibilidade de fluxos de caixa e uma estrutura de capital mais equilibrada", afirmava.
Na teleconferência, os analistas destacaram o avanço recente da companhia em termos de governança após a crise detonada pelas investigações da Lava Jato.
Renata Lofti destacou a melhora dos controles internos, processos de decisão e maior independência da diretoria.
A nova política dos combustíveis da estatal, que prevê uma revisão mensal no preço da gasolina e do óleo diesel com base nas cotações internacionais dos derivados de petróleo, também é um ponto a favor da melhora do rating.
O grande desafio da estatal, entretanto, será sustentar essas mudanças com uma troca de governo, já que o Brasil passará por eleições de 2018.
Manter a política de preços independentemente de quem assumir o comando do País - e o controle da Petrobras - é considerado um ponto fundamental para que a companhia consiga ter fluxo de caixa positivo.
Os analistas destacaram que algo que pode influenciar a política de preços de combustíveis são eventuais parcerias da petroleira no "downstream" (refino, transportes e distribuição). "Precisamos esperar e ver o que acontece", disse Renata.
Com a política de preços, a Petrobras vem conseguindo mostrar independência em relação à controladora União, após anos sendo acusada de manter baixos os preços dos combustíveis para segurar a inflação.
Parte do endividamento da empresa foi acumulado durante o período em que comprava petróleo e derivados no mercado externo a preços superiores ao que praticava internamente.
Nota soberana
Os analistas da agência da S&P disseram que, se a nota soberana do País for elevada, haverá uma ação positiva sobre Petrobras.
Por outro lado, mesmo que a nota soberana fosse rebaixada, a nota da Petrobras seguiria em BB-. Eles afirmaram ainda que apostam que a recuperação da petroleira terá impacto sistêmico sobre a economia brasileira.
No dia 10 de fevereiro, a S&P elevou o rating da petroleira. A nota do Brasil, por outro lado, foi mantida em BB, com perspectiva negativa, o que significa uma probabilidade em três de a agência rebaixar o rating do País.
A analista Renata Lofti destacou que a melhora na percepção do mercado em relação à Petrobras, por conta de ajustes na governança e ações para redução de custo e da dívida, destravou o acesso da estatal ao mercado.
Se antes os financiamentos da Petrobras estavam concentrados em instituições financeiras chinesas, agora a companhia tem conseguido captar de forma diversificada.
"Isso mostra que a Petrobras recuperou acesso ao mercado internacional", disse. A S&P não vê mudanças fundamentais na estrutura de capital da petroleira nos próximos anos.
Questionados sobre os possíveis efeitos das ações coletivas (class actions) nos Estados Unidos, os analistas da S&P responderam que estas podem ser mais gerenciáveis em termos de liquidez do que a agência imaginava. Um dos motivos é a atual situação favorável da petroleira.
Eles relataram ainda que há ações individuais em curso, com valor mais difícil de ser mensurado, porém também acreditam que estas são mais gerenciáveis atualmente.