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Pandemia de gripe suína adiaria recuperação global, diz Economist

Estudos recentes mostram como o surto da doença poderia impactar o cenário econômico

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

As sequelas na economia provocadas pela gripe aviária, em 1997, e pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), em 2003, aumentaram o número de pesquisas sobre os custos econômicos de pandemias. Estudos recentes tentam traçar os estragos que a gripe suína pode trazer para a economia mundial. No ano passado, economistas do Banco Mundial calcularam que uma pandemia com taxas de mortes similares aos da gripe espanhola que aterrorizou o mundo entre 1918 e 1919 poderia reduzir o crescimento mundial em 4,8%. Mas, segundo reportagem publicada pela revista The Economist, a recessão atual mostra que o aumento do efeito econômico de uma pandemia pode ser menos dramático.

Economistas argumentam que uma pandemia poderia afetar a demanda e o fornecimento. A incerteza e o medo de propagação da doença diminuiria os gastos dos consumidores e faria com que as empresas adiassem seus investimentos.

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A experiência da Ásia com a SARS mostra como a economia da região foi afetada. O surto provou uma queda acentuada no consumo. A população evitava sair de casa – assim como estão fazendo no México. Em 29 de abril, o presidente mexicano, Felipe Calderón, anunciou uma suspensão de atividades consideradas “não-essencias” entre os dias 1 e 5 de maio. Entre os eventos cancelados estão eventos esportivos e concertos, além do fechamento de bares e casas noturnas. Tudo isso já custou ao setor de serviços e de indústrias da Cidade do México 55 milhões de dólares por dia desde 24 de abril. E o número pode dobrar.

Frente a esse cenário, o mercado financeiro reagiu. O peso, moeda mexicana, caiu desde que as medidas foram anunciadas. O ministro das Finanças do México, Agustín Carstens, espera que os custos econômicos sejam de 0,3% a 0,5% do PIB do país, baseado em precedentes asiáticos. Luis Flores, economista do banco IXE, calcula que o déficit orçamentário do governo pode ser de 0,7%.

O surto da gripe suína acontece num momento em que a confiança do consumidor ao redor do mundo está baixa. Assim, quaisquer outras quedas na demanda podem ser menores do que a causada pela SARS, quando as aterrissagens nos aeroportos de Hong Kong caíram dois terços em um mês. Mas uma pandemia poderia acabar com as esperanças de uma rápida recuperação da economia mundial.

A incerteza provocada por essa iminência poderia atingir os investimentos. A taxa de risco em países afetados pela gripe pode aumentar e as preocupações sobre segurança – justificáveis ou não – colocariam riscos aos negócios. A China já deixou de importar carne de porco do México, mesmo sem haver evidências de uma possível contaminação dessa maneira.

Mais do que medo

Os potenciais efeitos colaterais da pandemia no fornecimento aconteceriam principalmente pelo aumento no número de doentes e de mortes. Pessoas infectadas não podem trabalhar e outras podem tirar folgas para cuidar dos enfermos. Isso teria um efeito imediato na força de trabalho, mas com consequências que podem durar muitos anos. As consequências econômicas mais graves da AIDS, por exemplo, vieram da morte e da contaminação de jovens adultos.

Os custos mundiais com mortes e hospitalizações são difíceis de calcular por conta da falta de informações sobre as despesas médicas de cada país. Entretanto, Martin Meltzer, Nancy Cox e Keiji Fukuda, da equipe de epidemiologia da Organização Mundial da Saúde (OMS), calcularam o impacto para os Estados Unidos num estudo de 1999. Segundo o estudo, uma pandemia que afetasse entre 15% e 35% da população geraria custos entre 71,3 bilhões de dólares e 166,5 bilhões – em valores calculados para aquele ano.

Por causa da crise econômica, mais pessoas estão desempregadas. Isso provavelmente significa que o custo imediato de perdas adicionais no rendimento seria menor do que as estimativas traçadas por Meltzer, Cox e Fukuda.

Diversos estudos juntaram todas essas informações para estimar o impacto global de uma pandemia no crescimento econômico. Em 2006, um estudo feito pelos pesquisadores Warwick McKibbin e Alexandra Sidorenko para o Lowy Institute for International Policy, da Austrália, apontou que mesmo uma leve pandemia poderia diminuir 0,8% o crescimento global. Num cenário mais pessimista, a queda poderia atingir 12,6%. Eles acreditam que uma pandemia similar a que começou em 1918 reduziria o crescimento da economia americana em 3% e 8,3% no Japão.

O America’s Congressional Budget Office (CBO) – órgão americano que controla orçamento – também calculou o prejuízo na economia. Segundo o estudo uma pandemia similar reduziria o crescimento em 5% e um surto mais leve derrubaria em 1,5%. Para a CBO, uma severa pandemia seria como a recessão do pós-guerra.

As preocupações com a gripe suína vêm num momento em que a economia enfrenta uma das piores crises da história. Isso diminuiria os efeitos econômicos de uma pandemia, mas não seria um conforto para o ninguém.

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