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Os planos de Zylbersztajn para a Varig

Companhia aérea precisa reaver credibilidade

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

David Zylberstajn está com a fisionomia cansada e não parece se alterar com a situação em que encontrou na Varig. Nem o fato de ter parado as aulas de meditação que vinha fazendo o deixa abalado. Do escritório de sua consultoria em Ipanema, ele administra há duas semanas o abacaxi empresarial mais conhecido do país. Nesse período, Zylberstajn, que também já foi diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo no governo de Fernando Henrique Cardoso e secretário de Energia de São Paulo na gestão Mário Covas, tornou-se interlocutor freqüente do vice-presidente, José Alencar. Os dois se encontraram pessoalmente duas vezes desde o dia 7 de maio, quando Zylberstajn assumiu a presidência do conselho de administração da Varig. Telefonemas foram inúmeros. Os dois se falam no mínimo três vezes ao dia. Nessas conversas, Alencar pede informações sobre o negócio e raramente resiste em relembrar os passos já tomados no processo de negociação para tirar a empresa do atoleiro.

Zylberstajn diz que não pode adiantar detalhes da operação que está montando na Varig, mas espera ter mais o que falar daqui a duas semanas, quando seus executivos se encontram com os da TAP para dar contorno final às negociações. "Se pudesse, eu dava informações todos os dias", diz. A frase é uma síntese da grande aposta do executivo e da Fundação Rubem Berta, que o contratou conquistar a confiança dos investidores e, acima de tudo, do governo, maior credor da companhia, com 63% do total da dívida de 9,5 bilhões de reais. O próprio Zylberstajn diz que tudo depende de um choque de credibilidade, de passar a sensação de que "agora vai".

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Com base nesse critério, a simples idéia de uma associação com a TAP era a melhor aposta do grupo comandado por Zylberstajn. A associação ainda está sendo negociada, mas é evidente que a entrada da companhia portuguesa no negócio não resolve a situação financeira da Varig. Por lei, a TAP pode comprar no máximo 20% do capital da empresa brasileira. Se valer a intenção atual da empresa, é o que deve ser feito. Fontes da própria TAP afirmam que a empresa não tem dinheiro para isso. A companhia, que vem se recuperando financeiramente nos últimos dois anos, registrou no último trimestre prejuízo de 29,4 milhões de euros.

A questão mais freqüente no mercado de aviação é como a TAP irá pagar a Varig. Zylberstajn desdenha esse tipo de comentário e diz que o negócio envolve dinheiro, sim. "Isso é coisa de quem não entende nada do que está acontecendo. Eles vão ver no final", afirma o executivo. Ainda assim, ele se recusa a estimar o valor da transação com a TAP ou dar maiores detalhes sobre o plano de reestruturação, que deve estar concluído em três ou quatro meses.

A única coisa que Zylberstajn confirma é que a associação entre as duas empresas envolve todas as subsidiárias da Varig Variglog, a VEM, de manutenção, Rio Sul e Nordeste com exceção dos hotéis da rede Tropical, que pertencem à Fundação Rubem Berta. A razão para a cautela é o acordo de confidencialidade firmado entre as partes, mas pode ser também o fato de que não há certeza absoluta de que essa novela terá final feliz. Somente o memorando de entendimentos, que diz expressamente que não há garantia nenhuma de acordo por ora, levou 12 horas para ser escrito, durante a sexta-feira 13 de maio. Além disso, o contrato do presidente da TAP, o brasileiro Fernando Pinto, termina em junho. Em Portugal, tanto o governo como os analistas consideram certo que ele vá ter o contrato renovado, mas muita gente aqui na Varig não confia plenamente nisso.

Caso decole, o plano de Zylberstajn também deve incluir o lançamento de ações no mercado através de um fundo de investimentos, para pulverizar as ações da companhia. O plano inclui ainda uma negociação com os credores privados, principalmente as empresas de leasing de aviões. Zylberstajn afirma que a mesma companhia que há uma semana ameaçava tomar 12 aeronaves da Varig, a IFLC (International Finance Leasing Corporation), já aceitou aumentar o prazo.

Espera-se uma mudança nos parâmetros de gestão da companhia. Entre os exemplos de má administração que o novo conselho encontrou na Varig está a descoberta de que há nada menos que cem pessoas na empresa autorizadas a distribuir passagens de graça sem maiores critérios. Para o novo conselho de administração, não há choque de credibilidade sem a melhoria da gestão da companhia. Nada disso, no entanto, pode ser feito sem um entendimento com o governo a respeito da imensa dívida que a Varig carrega. Zylberstajn sabe disso. "Era natural que os credores desconfiassem. Agora, esperamos, no final do processo, ter convencido o governo a nos conceder condições mais favoráveis para o pagamento das nossas dívidas. Não foi feita nenhuma promessa, mas essa é a nossa perspectiva", diz.

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