Negócios

Operação brasileira agrava crise da Parmalat italiana

Empresa paga 150 milhões de euros em dívidas, mas captação de 400 milhões de dólares feita no Brasil há quatro anos vence no fim do mês

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Não só o setor bancário, os investidores e o governo italiano estão preocupados com as suspeitas de que a Parmalat - a maior fabricante de laticínios do mundo, com presença em 31 países, 35 000 funcionários e faturamento de 7,5 bilhões de euros em 2002 - está à beira da insolvência. Os sócios minoritários da subsidiária brasileira - um grupo americano de fundos de investimento - também correm o risco de sair prejudicados com a crise. Nem o anúncio, nesta sexta-feira (12/12), de que a empresa quitou 150 milhões de euros em dívidas vencidas desde o último dia 8 serviu para tranqüilizar o mercado.

A crise na Parmalat, sediada nas proximidades de Parma, na Itália, veio a público com o alerta da empresa de auditoria Deloitte & Touche. A Deloitte questionou em novembro último o investimento de cerca de 600 milhões de dólares da empresa no fundo de risco Epicurum, registrado nas Ilhas Cayman. Em 12/11, diante do nervosismo do mercado, que derrubou as ações da Parmalat em 20% no dia da publicação da notícia, a empresa anunciou que liquidaria o investimento no Epicurum.

Mas a situação se agravou na última segunda-feira (08/12), quando a empresa, que afirma passar por um período de baixa liquidez, informou ao mercado que não conseguira resgatar o investimento do fundo. No mesmo comunicado, a empresa revelou que adiaria o pagamento de 150 milhões de euros em títulos, vencidos no dia 8/12 . O bônus foi quitado apenas nesta sexta-feira (12/12).

Em 1999, um grupo americano de fundos investiu cerca de 400 milhões de dólares na Parmalat Empreendimentos Administração Ltda, que controla a subsidiária brasileira. Em troca, obteve 18,18% do capital da controladora. Pelo acordo, a Parmalat Empreendimentos deveria aumentar o capital da subsidiária brasileira por meio do lançamento de ações da empresa até o dia 31 de dezembro deste ano. Caso isso não fosse feito, os investidores poderiam obrigar a matriz italiana a recomprar os 18,18% da empresa brasileira pelos mesmos 400 milhões de dólares.

Sem chegar ao lucro, como previsto na ocasião da captação dos recursos, a subsidiária brasileira não teve o capital aumentado. Neste momento, a matriz tenta renegociar o contrato. A Parmalat do Brasil confirma a captação, mas prefere não comentar o caso. "O contrato está sendo negociado pela matriz", afirmou o porta-voz da Parmalat no país.

O grupo de minoritários tem como alternativas pedir a liquidação do investimento ou negociá-lo com condições mais duras para a empresa, segundo um executivo próximo à Parmalat Brasil. No entanto, os investidores devem levar a pior, pelo menos, temporariamente, na opinião de outro executivo, ligado a uma das principais administradoras brasileiras de recursos. "Nesses casos não há muito a fazer. Geralmente a saída é negociar prazos maiores."

O não-pagamento anunciado no começo da semana frustrouautoridades financeiras e bancos italianos. Havia, inclusive, suspeitas de que a contabilidade da empresa tenha sido fraudada, segundo noticiário publicado na imprensa internacional. "No papel parece que está tudo bonitinho", afirma um analista de mercado. "Mas isso provavelmente não reflete a realidade." O fundador, Calisto Tanzi, ainda não conseguiu explicar por que a Parmalat demorou para pagar os 150 milhões de euros, se em seu último balanço constavam 4,2 bilhões de euros em caixa.

Anteontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor's afirmou que a companhia corre risco de default. Nesta semana, a S&P também rebaixou as ações da Parmalat por duas vezes em menos de 24 horas, uma medida adotada raramente.

Em meio a essa confusão, dois diretores financeiros da empresa já foram trocados. Na quarta-feira (10/11), a companhia anunciou a contratação de Enrico Bondi, reconhecido na Itália como especialista em reestruturação de empresas. Bondi chega à Parmalat por pressão dos bancos credores, ainda traumatizados com a falência da Cirio, uma das maiores empresas do país.

Ontem, quinta-feira (11/12), as ações da Parmalat na bolsa de Milão caíram 47%. Os negócios com os papéis foram suspensos. Nesta sexta-feira, elas voltaram a cair 11%, e houve nova suspensão. De acordo com reportagens publicadas nesta sexta-feira (12/12) na imprensa italiana, o governo teria liberado à empresa 35 milhões de euros em abatimento de impostos.

Hora ruim

A crise da Parmalat pega a subsidiária brasileira em um momento de reestruturação. O executivo Ricardo Gonçalves, contratado no final de 2001 com a missão de tornar a empresa lucrativa, está promovendo uma faxina operacional na companhia. Gonçalves, que trabalhou 31 anos na Nestlé - e presidiu as subsidiárias da empresa suíça no Chile, México e Brasil -, fechou 8 das 18 fábricas que existiam antes de sua chegada. Integrou as quatro empresas do grupo que trabalhavam individualmente (Parmalat, Batávia, Gelateria e a fábrica de biscoitos) e reformulou o portfólio de produtos da Parmalat.

"O foco agora é pródutos lácteos, bebidas não alcoólicas e alguns produtos relacionados à culinária italiana, como molho de tomate", afirmou Gonçalves recentemente em entrevista à revista EXAME.

Os resultados das mudanças no Brasil começaram a aparecer neste ano. De janeiro a setembro a empresa apresentou um prejuízo de 80 milhões de reais - menos da metade dos 210 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

<

p align="justify">A Parmalat chegou ao Brasil em 1977 e se expandiu aceleradamente na década de 90 - passou de uma receita de 30 milhões de dólares para mais de 1 bilhão. Os resultados da empresa, no entanto, não acompanharam seu crescimento. A companhia acumula prejuízos desde 1998, quando abriu o capital no país.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

CFOs do futuro: T&E Summit, da Paytrack, destaca novo papel das lideranças financeiras nas empresas

De Porto Alegre para o mundo: a Elofy traz ao Brasil soluções de RH reconhecidas globalmente

Expansão internacional: Bauducco deve gerar cerca de 600 empregos com nova fábrica nos EUA

Esta fintech chamou atenção do ex-CFO do Nubank oferecendo “Pix internacional” para empresas