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O tombo da Ambev – e o futuro

O mundo dos negócios está cheio de teorias sobre os nichos de mercado resistentes à crise. Os cosméticos são certamente o maior exemplo – em tempos de aperto, dizem, os consumidores deixam de trocar de carro, mas compram um perfume novo para levantar o ânimo. Também há centenas de estudos sobre estilos de gestão que […]

AMBEV: a crise econômica, o desemprego e a falta de confiança do consumidor levaram a companhia a manter os preços competitivos / Marcello Bravo

AMBEV: a crise econômica, o desemprego e a falta de confiança do consumidor levaram a companhia a manter os preços competitivos / Marcello Bravo

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2016 às 13h06.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h22.

O mundo dos negócios está cheio de teorias sobre os nichos de mercado resistentes à crise. Os cosméticos são certamente o maior exemplo – em tempos de aperto, dizem, os consumidores deixam de trocar de carro, mas compram um perfume novo para levantar o ânimo. Também há centenas de estudos sobre estilos de gestão que se adaptam a esses momentos.

Companhias com custos enxutos, bônus por resultados e que não dependem de um único produto costumam levar vantagem. Poucas empresas no mundo conseguem aliar essas três vantagens competitivas como a cervejaria Ambev. A companhia vende produtos extremamente populares, baratos e com marcas fortes, além de ter uma gestão meritocrática copiada mundo afora.

Deu certo em crises anteriores. Nos últimos dez anos, o valor de mercado da companhia cresceu oito vezes, num fenômeno que ficou conhecido como superciclo do chope. A Ambev já vale 300 bilhões de reais. Nesse processo, a companhia aumentou o volume, o faturamento e a rentabilidade mesmo quando a economia brasileira encolheu, como em 2009, 2014 e 2015 (em 2009, o volume caiu no primeiro trimestre e, em 2015, o volume recuou, 1 ponto percentual ao final do ano).

Mas, desta vez, nem a Ambev escapou. A empresa divulgou os resultados do primeiro trimestre de 2016 nesta quarta-feira e já havia avisado seus investidores que a situação estava difícil. Mas o tombo foi maior que o esperado. Analistas dizem ser a maior queda já vista na companhia, criada nos anos 90. O faturamento cresceu apenas 3%, para 11,6 bilhões de reais, num ano com inflação na casa dos 10%. Os outros números são ainda piores. O volume de bebidas caiu 7%. A margem operacional caiu 1,6 ponto percentual, para 45,5%. E o lucro caiu 2,4%, para 3 bilhões.

A situação foi ainda pior no Brasil, responsável por dois terços da receita, onde o faturamento caiu 4%, e o volume despencou 10%. “Tivemos um fraco início de ano”, reconheceu Bernardo Pinto Paiva, diretor geral da companhia, na conferência de divulgação de resultados. Entre os fatores que jogaram contra, além da crise, estão o carnaval antecipado e os aumentos de preços para compensar altas de impostos. A concorrência também avançou, com novas fábricas especialmente no Nordeste. Nos outros mercados em que atua, a Ambev teve bons resultados. Na América Central e no Caribe, o faturamento aumentou 19% e o lucro operacional cresceu 28%. Na América do Sul, tanto a receita quanto o lucro operacional avançaram 15%.

Para melhorar os resultados, a Ambev deve acelerar a venda de marcas mais caras, de cervejas em garrafas pequenas de vidro retornáveis, e também de bebidas como a Skol Beats Spirit, cujo volume vendido dobrou no primeiro trimestre. E deve investir ainda mais em sucos e bebidas naturais, com a recente compra da marca carioca Do Bem. A empresa diz que, em abril, os volumes já devem voltar a subir com a ajuda do calor fora do comum, dentre outros fatores. As Olimpíadas também devem ajudar no segundo semestre. E, claro, a Ambev vai intensificar ainda mais o controle de custos. “Temos um time criativo para encontrar novas oportunidades, e ágil para implementar”, disse Bernardo Pinto Paiva.

Mas analistas não esperam grandes avanços de receita nem de lucros ao longo do ano. Um relatório do banco BTG Pactual diz que a empresa vai continuar sofrendo com uma saturação na indústria e com a demanda em baixa. “Eles estão em um encruzilhada. Para aumentar o volume de vendas, teriam que cobrar menos e abrir mão da rentabilidade. Como volume e lucro estão em queda, é difícil escolher a batalha”, diz um concorrente. “Talvez o melhor seja ter um pouco de paciência e esperar por uma recuperação do mercado”. Seria uma grande novidade para a companhia.

 

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