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"O segredo de uma sociedade é saber organizar-se", diz especialista

Porto Alegre, 21 de março (Portal EXAME) - "É função do Terceiro Setor contribuir para a construção de um Estado de direito. Orientar todos os seus esforços e propósitos para tornar possível o exercício dos direitos humanos, cuidar e proteger a vida. Esse é o projeto ético que pode proporcionar maior transparência ao Terceiro Setor […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Porto Alegre, 21 de março (Portal EXAME) - "É função do Terceiro Setor contribuir para a construção de um Estado de direito. Orientar todos os seus esforços e propósitos para tornar possível o exercício dos direitos humanos, cuidar e proteger a vida. Esse é o projeto ético que pode proporcionar maior transparência ao Terceiro Setor no século XXI."

A mensagem acima sintetiza o pensamento de um dos maiores pensadores do Terceiro Setor, o filósofo e especialista em pesquisa e tecnologia, Bernardo Toro, um colombiano de 57 anos que preside a Confederação Colombiana das Organizações Não-Governamentais (ONGs). Toro também é diretor da faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Javeriana em Bogotá e ex-presidente do Centro Colombiano de Responsabilidade Empresarial.

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Um dos convidados do Fórum Social da Publicidade, evento paralelo ao III Fórum Social Mundial, ocorrido em janeiro último em Porto Alegre, Toro lembrou que é o momento das empresas perceberem que, com o crescimento da sociedade civil organizada, elas precisam ser cada vez mais éticas e assumir seu papel na transformação social. A seguir as principais idéias que Toro defendeu numa entrevista à Exame:

ÉTICA

A ética é o bem mais importante de uma sociedade hoje em dia e o mais rentável. Imagine se amanhã todos nos tornássemos éticos. O que aconteceria com os recursos da nação, tanto os públicos quanto os privados? Nos sobrariam recursos. Porque a ética é a arte de escolher, de tomar decisões que convêm à vida digna dos demais. Não se pode vender produtos de má qualidade; tem que distribui-los de forma que todos que necessitam o bem, obtenham esse bem; tem que praticar preços justos; tem que oferecer produtos que durem. Não existe uma fábrica de ética. Não se pode impor a ética. Você tem que ser ético. Os bens sociais mais importantes só se pode construir, não se pode comprar.

CRESCIMENTO DO TERCEIRO SETOR

Estamos descobrindo que os bens importantes para a sobrevivência são os bens sociais e não os materiais. Não podemos seguir definindo desenvolvimento em termos de consumo, ainda que o consumo vá permanecer sempre. Começamos a entender que a ética, a austeridade, a probidade, a participação da sociedade civil, tudo isso é importante. A multiplicação das organizações civis significa que a América Latina está descobrindo a maior de todas as ciências que é saber organizar-se. O segredo de uma sociedade é saber organizar-se. As sociedades são fortes quando uma pessoa pertence a muitas organizações. Ser importante em uma sociedade não é ter dinheiro. É ter muitos contratos sociais, pertencer a muitas organizações úteis. Quanto mais os indivíduos participarem ativamente delas, mais os seus direitos serão protegidos. Uma sociedade será tanto mais forte, quanto mais cada pessoa pertencer a mais organizações. O primeiro passo para superar a pobreza é organizar-se. E cada vez mais os setores populares, a classe média e as empresas entendem isso. Há um grande esforço para promover as organizações.

AS EMPRESAS E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

As empresas estão entendendo o que os economistas chamam de externalidades positivas. O empresário que tem um projeto de longo prazo, que busca ficar numa sociedade durante muito tempo produzindo um bem, precisa ter responsabilidade social.

A contaminação do ambiente é uma externalidade negativa, porque está produzindo um dano para alguém. Apoiar uma pesquisa importante para a comunidade é uma externalidade positiva. O segredo do desenvolvimento é tratar de produzir cada vez mais externalidades positivas. Os empresários estão descobrindo que quanto mais enriquecem o ambiente, melhor para eles. E as empresas da América Latina estão evoluindo para isso. Antes elas acreditavam que se ganhassem sozinhas, melhor. A lógica anterior permitia acumular muita riqueza em poucos lugares e distribuir muita pobreza em outros lugares. Agora, a lógica do ganha-ganha está mostrando que tem futuro: se os outros não vão bem, eu também não vou bem. Por isso, a responsabilidade social empresarial ganhou tanta força. Como passar de economias de enclaves, que desconhecem os entornos, a economias que compartilham uma história, que geram externalidades positivas? Como produzir bens que as pessoas amem, não apenas comprem, mas que aprecie? As empresas estão descobrindo a resposta: sem certos bens sociais, não podemos avançar.

RESPONSABILIDADE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO

Um país é desenvolvido quando aprende a converter os dons em bens. Temos muita água doce. Isso é um dom, não é um bem. Temos reservas biológicas importantes. Isso é um dom, não é um bem. Para transformar isso num bem, é preciso pesquisar, produzir, acumular e distribuir. A questão é como criamos mais riqueza para consumir com austeridade, porque a opulência, a ganância, são os grandes inimigos do desenvolvimento. A austeridade é um fator de desenvolvimento. Neste momento, o papel social das empresas consiste em converter os dons em bens e serviços que contribuam para a dignidade humana, porque nem tudo que é rentável, é ético. Produzir cocaína é rentável, mas não é ético.

A utopia da responsabilidade social é um balanço social que responda a uma pergunta: minha empresa respeita os direitos humanos? Se a resposta for sim, o balanço social está feito. Os direitos humanos deveriam ser o grande critério do balanço social de todas as empresas do mundo.

GLOBALIZAÇÃO

Temos muito poucas coisas globalizadas: as multinacionais, as finanças, a televisão, os mercados. Mas ainda não temos globalizado o conceito de responsabilidade, não temos globalizadas as pessoas. Os produtos podem passar as fronteiras. As pessoas, não. A ocupação do mundo não está globalizada. Não temos globalizado o conceito de humanização, por isso são tão importantes os direitos humanos: porque é um princípio para globalizarmo-nos como seres humanos.

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