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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.
Victor Lopes não conhecia Eliezer Batista quando foi convidado pelo produtor Carlos Pousa e pela TvZERO para produzir o longa-metragem sobre a vida do pai de Eike Batista. Moçambicano radicado no Brasil, Lopes já havia feito um documentário sobre a língua portuguesa (Língua - Vidas em Português) e finaliza outro sobre Serra Pelada (que tem o nome provisório de A Lenda da Montanha de Ouro).
Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil, que estreou na semana passada nos cinemas de nove cidades, em breve deve virar um DVD e também passar na TV. Em entrevista ao Portal EXAME, Lopes diz que teve "liberdade total" na direção do documentário e que mostrou alguns conflitos da Vale apesar de a mineradora ter sido uma das patrocinadoras da fita. "Não vou contra a inteligência do espectador", diz. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Portal EXAME - Você fez um filme que foi pago com dinheiro de empresas interessadas em contar essa história. Que limitações isso impôs ao seu trabalho?
Lopes - Tive liberdade total para fazer o filme. Mas reconheço que não é um filme de confrontos. O que interessava era mostrar a grandeza de Eliezer Batista. Vejo nele um vulto histórico, é como se eu estivesse contando a história de Villa-Lobos.
Portal EXAME - Mas a Vale, por exemplo, patrocinou o filme e sua história faz parte do roteiro o tempo todo...
Lopes - A Aracruz, a Vale, a japonesa Mitsui e a EBX foram patrocinadores. Todas, de alguma forma, fazem parte da história. Agora, quando eu faço um filme, não vou contra a inteligência do telespectador. As contradições da Vale que estão presentes na cabeça de cada um de nós também estão presentes no filme. A postura da Vale em relação ao Eliezer após o golpe militar e a discussão sobre a privatização da empresa estão lá.
Portal EXAME - Em todos os trechos em que aparece no filme, o presidente da Vale, Roger Agnelli, adota um tom bastante elogioso em relação ao Eliezer e sua importância para a construção da empresa. Ele não ficou chateado com as recentes críticas feitas por Eike Batista a sua gestão? Eike chegou a sugerir que a substituição de Agnelli por Sérgio Rosa, o presidente da Previ...
Lopes - Quando o Eike criticou Agnelli e a Vale, o filme já estava finalizado. Essa fita está pronta há quatro meses. A entrevista com o Agnelli foi gravada há mais de um ano atrás. Não estive com ele desde então e não saberia responder essa pergunta.
Portal EXAME - Qual foi sua impressão pessoal sobre o Eike?
Lopes - É um cara bastante arrojado. Quando eu o entrevistei no começo de 2008, ele fez declarações sobre os Estados Unidos que me surpreenderam bastante. Lembro que ele disse: "Os EUA não são uma questão vital para mim, não são uma referência." E isso aconteceu muito antes que a crise se agravasse. Então achei ele um cara super ligado.
Portal EXAME - Além da entrevista, Eike participou do filme de alguma outra forma?
Lopes - Foi ele sugeriu o título Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil. Foi super espontâneo. Ele disse assim: "Se o Lula é o filho do Brasil [uma referência ao filme sobre a vida do presidente que estreia no próximo mês], papai é o engenheiro".
Portal EXAME - Certamente um dos melhores dos trechos do filme é aquele em que Eliezer vai às lágrimas ao falar sobre a construção de uma estrada de ferro. Como foi feita a cena?
Lopes - Ele realmente se emocionou naquele episódio. Já tínhamos uma relação de confiança, e isso ajudou nessa cena. Na hora, o dr. Eliezer chega a pedir para que a cena fosse cortada. Se ele quisesse fazer isso, poderia. Mas ao revê-la, decidiu incluí-la. Ali eu acho que aparece um cara com uma utopia de igualdade social que ninguém esperava ver. Mesmo alguém de extrema esquerda não deixará de reconhecer a importância do dr. Eliezer para o Brasil. Ele tem 85 anos, teve quatro AVCs, mas mostra possuir valores que estão muito acima da riqueza. Só essa cena já vale o ingresso. Eu mesmo me emociono sempre que a vejo.