Wal-Mart compra rede brasileira do Sonae por R$ 1,73 bilhão
Em comunicado à bolsa de valores portuguesa, o grupo Sonae vendeu as 140 lojas da sua subsidiária brasileira ao grupo americano, a maior empresa de varejo do mundo
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.
Foram longos meses de negociação entre americanos e portugueses mas com um final triunfal, segundo o tom do principal executivo no Brasil do Wal-Mart, a maior empresa do mundo. "Chegamos lá", afirmou o presidente do Wal-Mart no Brasil, Vicente Trius, ao anunciar a um grupo de empregados a compra da rede brasileira do Sonae nesta quarta-feira (14/12). A aquisição custou aos americanos 635 milhões de euros, cerca de 1,729 bilhão e o depósito foi feito ontem.
O tom triunfal de Trius aos funcionários reflete o significado que a aquisição da subsidiária do grupo português tem para o varejo nacional. Após dez anos de uma atuação considerada tímida para os padrões da maior empresa do mundo, a compra do Sonae concretiza o que parecia ser o destino manifesto do Wal-Mart no Brasil: disputar a liderança do mercado com Pão de Açúcar e Carrefour. O faturamento somado de Wal-Mart e Sonae foi de 10,4 bilhões de reais no ano passado. O líder Pão de Açúcar faturou 15,4 bilhões; o Carrefour, 12,1 bilhões de reais.
O Sonae possuía 140 lojas localizadas na região Sul e Sudeste com as bandeiras Nacional, BIG, Mercadorama e Maxxi. Com a compra, o Wal-Mart passa agora a contar com 295 lojas espalhadas por 17 das 27 unidades da federação brasileiras. A expansão do grupo americano mundo em território brasileiro era esperada, especialmente desde que o Wal-Mart comprou a cadeia de lojas nordestina Bompreço por 315 milhões de dólares, no ano passado. Com o Sonae, a rede estende sua atuação para o sul e encosta no Carrefour em poderio de escala. De acordo com Vicente Trius, todas as bandeiras do Sonae serão mantidas.
O namoro entre Wal-Mart e Sonae persiste há mais de um ano, quando começaram as sondagens. Em julho do ano passado, o principal acionista do Sonae, o empresário português Belmiro de Azevedo, já admitia publicamente as dificuldades do negócio no Brasil. "Somos corredores de longo prazo e temos sido pacientes. Mas a paciência esgota-se", afirmou (leia reportagem de EXAME sobre o grupo português). Desde que ficou claro que o Sonae fecharia as portas de sua operação brasileira, as negociações entre as duas empresas se intensificaram. Nos últimos três meses, a possível aquisição se tornou uma usina de boatos. A assinatura do contrato foi adiada diversas vezes. Os momentos mais tensos das conversas aconteceram no último mês, quando o Carrefour entrou nas negociações.
Em comunicado à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), em Lisboa, o Sonae afirma que "a decisão da Modelo Continente [controladora dos supermercados Sonae em todo o mundo] de concretizar o desinvestimento no mercado brasileiro foi influenciada pela dificuldade da operação em apresentar níveis de rentabilidade superiores ao elevado custo do capital empregado" no mercado brasileiro. No comunicado, a empresa também afirma que as elevadas taxas de juro reais praticadas no Brasil colocaram o custo do capital em patamares extremamente elevados, inviabilizando o negócio. Desde 1989, quando entrou no país, o Sonae investiu 1,3 bilhão de reais a maior parte entre 1997 e 1999, quando o real equivalia ao dólar. A desvalorização cambial, em janeiro de 1999, triplicou o prazo de retorno dos investimentos.
Os principais executivos do Sonae no Brasil, Sergio Maia e José Dimas Gonçalves, serão vice-presidentes do Wal-Mart. Maia será responsável por toda a operação de varejo da empresa, enquanto Gonçalves cuidará da área de recursos humanos e da prevenção de perdas. No ano que vem, o Wal-Mart investirá 600 milhões de reais em sua expansão e outros 150 milhões na reforma de lojas.