Histórias de novatas que derrubam gigantes viraram um novo normal no mundo dos negócios. As montadoras de automóveis encontraram uma fórmula inusitada para não se transformarem na Kodak da vez. Fabricantes do porte de Toyota, General Motors, BMW e Volkswagen, em vez de entrar em guerra contra as startups de compartilhamento de veículos, estão pegando carona nesse novo formato de negócio, inclusive no Brasil. Prova disso são as recentes alianças anunciadas entre as montadoras e companhias como Uber, Lyft, Gett e Scoop Technologies.
Até agora a General Motors foi a que apostou mais alto na parceria. Na última semana, a companhia anunciou um projeto piloto de compartilhamento de carros, chamado Maven. O programa foi lançado nos Estados Unidos em janeiro e o Brasil é o segundo país a adotá-lo. “Queremos ser atores da mobilidade”, disse o vice-presidente da General Motors, Marcos Munhoz. Em fase de testes desde março na fábrica de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, por enquanto apenas sete unidades do modelo Cruze estão disponíveis para funcionários. O programa tem 800 inscritos e o usuário pode baixar um App para fazer a reserva.
O próximo passo, previsto para o fim do ano, é levar o serviço a um grande condomínio de São Paulo, com dez carros. Em outra etapa, o Maven permitirá a retirada ou entrega de veículos em pontos específicos da cidade – a exemplo do que ocorre com os programas de bicicletas em São Paulo. Na fase de testes, o aluguel do carro por uma hora custa 35 reais. Nos Estados Unidos, a hora de uso custa oito dólares e o programa já completou mais de 1 milhão de milhas rodadas em Boston, Chicago e Washington.
O Maven é parte do resultado das aquisições recentes da fabricante. No início de janeiro, a GM investiu 500 milhões de dólares no Lyft, principal rival do Uber nos Estados Unidos. Duas semana depois, comprou o que sobrou do Sidecar, outro serviço do mesmo segmento que encerrou suas atividades em dezembro de 2015, por mais 39 milhões de dólares. Segundo a montadora, que não revela muitos detalhes, o objetivo é ampliar seu faturamento no novo nicho e ganhar força no desenvolvimento de carros autônomos.
Para Ricardo Bacellar, diretor para o setor automotivo da consultoria KPMG, as parcerias são interessantes para as duas partes: as montadoras passam a ter acesso a um banco de dados importante e ingressam em um novo segmento de negócio, enquanto as companhias de compartilhamento aproveitam os investimentos e a ajuda de engenheiros especializados para o desenvolvimento dos produtos. “Não estamos mais falando de futorologia, a indústria precisa se adaptar rapidamente e aceitar que o conceito de propriedade de veículos vai mudar de forma rápida”, diz.
O Brasil virou o campo de testes ideal
Dentro desse novo cenário, o carro continuará a ser um bem de consumo aspiracional, porém isso deve ganhar outra escala em decorrência da queda de interesse dos mais jovens. “Tudo se configura para que o carro compartilhado seja um bem básico, enquanto o particular será sinal de status e cada vez menos consumido”, diz Bacellar.
Na esteira dessa mudança de comportamento, formou-se recentemente uma parceria gente grande: a Toyota, maior montadora do mundo, anunciou um memorando de entendimento com o maior símbolo do compartilhamento de veículos atualmente, o Uber. As empresas não divulgaram os valores envolvidos, mas afirmaram que vão criar opções de aluguel de veículos da Toyota com possibilidade de compra ao final de um período e prestações cobertas com a renda que o motorista obtiver como participante do Uber.
A Toyota disse que também irá colaborar em outras áreas, como o desenvolvimento de aplicativos que deem suporte aos motoristas do Uber, compartilhando conhecimento e acelerando esforços de pesquisa entre as companhas. Apesar de o Uber já ter um projeto de carro autônomo, não ficou claro se a colaboração entre a Toyota e Uber incluirá o desenvolvimento destes tipos de veículos.
Antes mesmo que os primeiros resultados sejam mensurados, criou-se uma corrida entre as maiores montadoras do planeta para ter um negócio de compartilhamento para chamar de seu. A alemã Volkswagen também anunciou aporte de 300 milhões na Gett, um aplicativo para chamar corridas de táxi que compete com o Uber. De acordo com a montadora, o investimento será usado para financiar o crescimento do aplicativo na Europa e em Nova York. Atualmente, a Gett, cuja sede fica em Israel, opera em 60 cidades do mundo. Em nota, a fabricante alemã disse que o investimento faz parte da estratégia “para que a companhia seja a líder mundial de oferta de mobilidade até 2025”.
A BMW também entrou na dança e afirmou que sua unidade de investimento de risco aplicou um valor não revelado na empresa californiana Scoop Technologies, que desenvolveu um aplicativo de compartilhamento de veículos. “As montadoras não estão entrando na guerra como oponentes, e sim fazendo alianças para participar desse novo segmento e garantir um faturamento maior”, diz Bacellar.
Mais do que entre montadoras e startups de compartilhamento, a briga tende a ser entre montadoras e as gigantes de tecnologia. Google e Apple têm planos declarados de produzir veículos autônomos – que devem sair do papel até 2020. Os detalhes dos projetos ainda são um mistério, mas eles irão muito além da propriedade tradicional de veículos como conhecemos hoje.
A única certeza em todas essas mudanças é que os jovens comprarão menos carros e compartilharão mais. Nesse cenário, a crise transformou o Brasil no campo de testes ideal. As vendas de automóveis, em 2015, voltaram ao patamar de 2007 – na casa das 2,5 milhões de unidades. No primeiro trimestre deste ano, recuaram mais 30%. O Uber, por sua vez, tem planos de quintuplicar seus negócios no país. Incentivos para empresas como a GM convencerem os brasileiros a andar em seus carros compartilhados, portanto, não faltam.
(Michele Loureiro)
Histórias de novatas que derrubam gigantes viraram um novo normal no mundo dos negócios. As montadoras de automóveis encontraram uma fórmula inusitada para não se transformarem na Kodak da vez. Fabricantes do porte de Toyota, General Motors, BMW e Volkswagen, em vez de entrar em guerra contra as startups de compartilhamento de veículos, estão pegando carona nesse novo formato de negócio, inclusive no Brasil. Prova disso são as recentes alianças anunciadas entre as montadoras e companhias como Uber, Lyft, Gett e Scoop Technologies.
Até agora a General Motors foi a que apostou mais alto na parceria. Na última semana, a companhia anunciou um projeto piloto de compartilhamento de carros, chamado Maven. O programa foi lançado nos Estados Unidos em janeiro e o Brasil é o segundo país a adotá-lo. “Queremos ser atores da mobilidade”, disse o vice-presidente da General Motors, Marcos Munhoz. Em fase de testes desde março na fábrica de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, por enquanto apenas sete unidades do modelo Cruze estão disponíveis para funcionários. O programa tem 800 inscritos e o usuário pode baixar um App para fazer a reserva.
O próximo passo, previsto para o fim do ano, é levar o serviço a um grande condomínio de São Paulo, com dez carros. Em outra etapa, o Maven permitirá a retirada ou entrega de veículos em pontos específicos da cidade – a exemplo do que ocorre com os programas de bicicletas em São Paulo. Na fase de testes, o aluguel do carro por uma hora custa 35 reais. Nos Estados Unidos, a hora de uso custa oito dólares e o programa já completou mais de 1 milhão de milhas rodadas em Boston, Chicago e Washington.
O Maven é parte do resultado das aquisições recentes da fabricante. No início de janeiro, a GM investiu 500 milhões de dólares no Lyft, principal rival do Uber nos Estados Unidos. Duas semana depois, comprou o que sobrou do Sidecar, outro serviço do mesmo segmento que encerrou suas atividades em dezembro de 2015, por mais 39 milhões de dólares. Segundo a montadora, que não revela muitos detalhes, o objetivo é ampliar seu faturamento no novo nicho e ganhar força no desenvolvimento de carros autônomos.
Para Ricardo Bacellar, diretor para o setor automotivo da consultoria KPMG, as parcerias são interessantes para as duas partes: as montadoras passam a ter acesso a um banco de dados importante e ingressam em um novo segmento de negócio, enquanto as companhias de compartilhamento aproveitam os investimentos e a ajuda de engenheiros especializados para o desenvolvimento dos produtos. “Não estamos mais falando de futorologia, a indústria precisa se adaptar rapidamente e aceitar que o conceito de propriedade de veículos vai mudar de forma rápida”, diz.
O Brasil virou o campo de testes ideal
Dentro desse novo cenário, o carro continuará a ser um bem de consumo aspiracional, porém isso deve ganhar outra escala em decorrência da queda de interesse dos mais jovens. “Tudo se configura para que o carro compartilhado seja um bem básico, enquanto o particular será sinal de status e cada vez menos consumido”, diz Bacellar.
Na esteira dessa mudança de comportamento, formou-se recentemente uma parceria gente grande: a Toyota, maior montadora do mundo, anunciou um memorando de entendimento com o maior símbolo do compartilhamento de veículos atualmente, o Uber. As empresas não divulgaram os valores envolvidos, mas afirmaram que vão criar opções de aluguel de veículos da Toyota com possibilidade de compra ao final de um período e prestações cobertas com a renda que o motorista obtiver como participante do Uber.
A Toyota disse que também irá colaborar em outras áreas, como o desenvolvimento de aplicativos que deem suporte aos motoristas do Uber, compartilhando conhecimento e acelerando esforços de pesquisa entre as companhas. Apesar de o Uber já ter um projeto de carro autônomo, não ficou claro se a colaboração entre a Toyota e Uber incluirá o desenvolvimento destes tipos de veículos.
Antes mesmo que os primeiros resultados sejam mensurados, criou-se uma corrida entre as maiores montadoras do planeta para ter um negócio de compartilhamento para chamar de seu. A alemã Volkswagen também anunciou aporte de 300 milhões na Gett, um aplicativo para chamar corridas de táxi que compete com o Uber. De acordo com a montadora, o investimento será usado para financiar o crescimento do aplicativo na Europa e em Nova York. Atualmente, a Gett, cuja sede fica em Israel, opera em 60 cidades do mundo. Em nota, a fabricante alemã disse que o investimento faz parte da estratégia “para que a companhia seja a líder mundial de oferta de mobilidade até 2025”.
A BMW também entrou na dança e afirmou que sua unidade de investimento de risco aplicou um valor não revelado na empresa californiana Scoop Technologies, que desenvolveu um aplicativo de compartilhamento de veículos. “As montadoras não estão entrando na guerra como oponentes, e sim fazendo alianças para participar desse novo segmento e garantir um faturamento maior”, diz Bacellar.
Mais do que entre montadoras e startups de compartilhamento, a briga tende a ser entre montadoras e as gigantes de tecnologia. Google e Apple têm planos declarados de produzir veículos autônomos – que devem sair do papel até 2020. Os detalhes dos projetos ainda são um mistério, mas eles irão muito além da propriedade tradicional de veículos como conhecemos hoje.
A única certeza em todas essas mudanças é que os jovens comprarão menos carros e compartilharão mais. Nesse cenário, a crise transformou o Brasil no campo de testes ideal. As vendas de automóveis, em 2015, voltaram ao patamar de 2007 – na casa das 2,5 milhões de unidades. No primeiro trimestre deste ano, recuaram mais 30%. O Uber, por sua vez, tem planos de quintuplicar seus negócios no país. Incentivos para empresas como a GM convencerem os brasileiros a andar em seus carros compartilhados, portanto, não faltam.
(Michele Loureiro)