Negócios

Leis protecionistas contribuíram para a crise do Carrefour

Criadas para proteger sobretudo os pequenos varejistas, algumas leis francesas acabaram minando a competitividade da segunda maior rede de hipermercados do mundo

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

O protecionismo da legislação francesa, criada para fortalecer as companhias locais, começou a prejudicar o próprio país. O exemplo mais recente, de acordo com o americano The Wall Street Journal, é a crise do Carrefour, segunda maior rede de hipermercados do planeta, que culminou com o pedido de demissão do presidente mundial, Daniel Bernard, nesta quinta-feira (3/2).

A crescente concorrência com redes varejistas como a americana Wal-Mart, que avança sobre a Europa, realça a necessidade de mudanças nas leis francesas e européias que regem o varejo. Na França, por exemplo, a Lei Galland proíbe que os varejistas vendam produtos abaixo do preço de custo. A determinação visa, sobretudo, a evitar que pequenos varejistas sejam esmagados pelas grandes cadeias, mas também favoreceu o Carrefour. Durante anos, a rede pôde praticar uma política de preços altos e margens elevadas, pois estava a salvo de políticas agressivas de descontos que pudessem ser desencadeadas pela concorrência.

Mas a chegada ao país de redes que apostam em preços baixos, como Wal-Mart, e brechas na legislação pegaram o Carrefour de surpresa. A Lei Galland não se aplica a produtos de marcas próprias, e esta foi a saída encontrada pela concorrência para oferecer artigos mais baratos e descontos generosos. Um exemplo é o avanço da rede alemã Aldi, que só vende marcas próprias.

A concorrência forçou o Carrefour a reduzir preços e receita, esforço que não foi suficiente para evitar a queda das vendas e dos consumidores. Nos últimos 18 meses, as vendas da rede na França caíram 4,3%. A queda é mais preocupante ainda, quando se constata que 60% dos lucros do Carrefour são sustentados pelas operações no país de origem. O tíquete médio de vendas também caiu 12% em dezembro, contra o mesmo mês do ano retrasado.

Daniel Bernard acumulava as presidências executiva e do Conselho de Administração do grupo. Agora, José Luis Duran será o novo presidente executivo e Luc Vandevelde comandará o conselho. De acordo com The Wall Street Journal, espera-se que Duran aumente os investimentos em produtos de marca própria, a fim de oferecer artigos de preços compatíveis com os concorrentes.

Além disso, Duran deve continuar pressionando o governo francês para flexibilizar a Lei Galland, para dar mais poder de barganha à companhia. No Brasil, onde não há uma legislação tão rígida para o varejo, a concorrência feroz entre as grandes redes as leva a exigir preços e margens cada vez menores dos fornecedores, a ponto de muitos deles se queixarem de que há uma ditadura do varejo.

Estoques

Outra fragilidade do Carrefour é a lentidão na logística. A demora no despacho dos produtos para as gôndolas gera situações como uma ocorrida com a Nestlé. Quando lançou o Hot Pockets na Europa, um petisco à base de carne e queijo, a companhia criou uma campanha publicitária exclusiva para os clientes do Carrefour. A demora em levar os produtos até as prateleiras fez com que as peças fossem veiculadas antes que o produto estivesse disponível nos hipermercados.

Os especialistas também criticam o excesso de estoques da rede. Atualmente, o estoque médio do Carrefour é de 32 dias, e a meta de Bernard, antes de se demitir, era baixá-lo para 22 dias neste ano. Enquanto isso, a Wal-Mart tem um sistema de entrega descentralizado, em que os fornecedores despacham os produtos diretamente para as lojas, evitando centros de distribuição e estocagem.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Como um adolescente de 17 anos transformou um empréstimo de US$ 1 mil em uma franquia bilionária

Um acordo de R$ 110 milhões em Bauru: sócios da Ikatec compram participação em empresa de tecnologia

Por que uma rede de ursinho de pelúcia decidiu investir R$ 100 milhões num hotel temático em Gramado

Mais na Exame