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Incentivos ao cinema precisam ser mais bem organizados, diz presidente da Ancine

Gustavo Dahl, presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), criada há dois anos, tem pela frente a missão não só de regular o setor de audi-visual no Brasil, mas também criar normas que ajudem o mercado de cinema, embora profícuo em criatividade nos últimos anos, ainda desorganizado a ponto de tornar-se uma indústria importante para […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Gustavo Dahl, presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), criada há dois anos, tem pela frente a missão não só de regular o setor de audi-visual no Brasil, mas também criar normas que ajudem o mercado de cinema, embora profícuo em criatividade nos últimos anos, ainda desorganizado a ponto de tornar-se uma indústria importante para o país. Dahl acredita no potencial do cinema brasileiro de se transformar em um grande negócio mas, para isso, o setor terá que ganhar escala. Algumas de suas idéias:

Estratégia - O cinema brasileiro tem capacidade de ocupar uma fatia importante no mercado. Hoje, o market share do cinema brasileiro no país é de 8%, já chegou a ser de 35% nas décadas de 70 e 80. Isso mostra o quanto o cinema brasileiro perdeu público e o espaço que tem para crescer. Mas é preciso que haja continuidade nas produções. O que se vê no Brasil é que há uma instabilidade nas produções. Há épocas de grandes produções como nos anos 40, 70 e 80 -- e outras onde o cinema quase desapareceu, como ocorreu no governo Collor quando foram cortados todos os benefícios para estimular a indústria cinematográfica.

Dificuldades - há alguns limitadores para o crescimento do cinema nacional. Um deles é, sem dúvida, a falta de salas de exibição. São necessários investimentos nessas salas, principalmente para o público de baixa renda, hoje excluído das salas de exibição quase todas nas áreas nobres das grandes cidades. E é justamente esse público o maior consumidor dos filmes nacionais. É preciso também se criar políticas que façam as TVs abertas e à cabo, as empresas de vídeo e DVD participarem do desenvolvimento do cinema nacional, contribuindo mais com o setor.

Sucesso e dinheiro - Produções de sucesso como Carandiru e Cidade de Deus ajudam a alavancar recursos para novas produções. É assim que acontece nos Estados Unidos. No Brasil, só quando as grandes distribuidoras americanas apostam no cinema nacional é que as produções conseguem sucesso de público. Elas sabem trabalhar com um perfil de mercado. E o Brasil precisa aprender a tratar o cinema como mercado.

Distribuição - É preciso fazer produções para atrair as grandes massas. E também se apoiar aquelas boas produções que tinham tudo para ser sucesso de público mas que não estouraram nas bilheterias por falta de uma boa divulgação. É o caso de Separações, Houve uma vez dois verões, entre outros. Essa produções são sacrificadas por falta de grandes distribuidores para bancá-las. A distribuição é a força das produções. É na distribuição que a produção cinematográfica se organiza. O país precisa pensar em uma estratégia de distribuição e não só de produção.

Falta de política - A concessão de incentivos à produção cinematográfica precisa ser mais bem organizada. As distribuidoras estrangeiras e produtoras como a Globo Filmes têm essa lógica de mercado. Elas investem em filmes que vão dar resultados. Não se pode continuar produzindo filmes de forma artesanal. Tem que haver uma política estratégica na distribuição dos recursos para realmente se criar uma indústria de cinema profissional, que, no futuro, consiga ser menos dependente de recursos públicos.

Incentivos - A atual política de incentivos transfere para os diretores de marketing das empresas, principalmente das estatais, a capacidade de definir que filmes serão produzidos. Só que isso é feito forma isolada, fora da cadeia econômica. Isso não é certo. Não adianta se dar dinheiro público para se produzir um monte de filmes que não serão exibidos por absoluta inviabilidade técnica e de mercado. Tem que haver uma estratégia na política de concessão de benefícios.

Redução de riscos - A associação da produção, da distribuição e da exibição é a única forma de se diminuir o risco de uma atividade em que é normal 10% dos títulos produzidos serem responsáveis por 50% dos resultados e os outros virarem pó. Mas esse nível de risco só é suportável por uma regularidade na produção, por um mercado interno razoável e uma certa penetração no mercado externo.

Saída - É preciso se criar mecanismos para fomentar a distribuição. Temos que pensar em formas de associar a produção brasileira a distribuidoras independentes internacionais. As grandes produções continuarão sendo apoiadas pelas grandes distribuidoras, mas temos que ter mercado de distribuição também para as médias e boas produções. É preciso também se estimular a produção de filmes de entretenimento. Hoje esse trabalho está restrito às grandes distribuidoras e a Globo Filmes.

Indústria - O potencial do cinema está demonstrado mas é necessária uma política industrial. A TV também tem um papel importante nessa história, na divulgação dos filmes. É preciso ter uma estratégia conjunta para aproveitar esse bom momento do cinema nacional. E é isso que pretendemos fazer aqui na Ancine.

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