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Impacto da quebra da Varig já é avaliado por DAC, credores e concorrência

"Eles jogaram tudo para o alto", diz membro do governo envolvido no caso, sobre a desistência do acordo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Desde o final de novembro, uma dúvida começou a assombrar os passageiros que estão com bilhetes da Varig comprados para o final do ano: a companhia vai continuar voando até lá? O alerta soou no dia 28 de novembro, quando o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, na tentativa de acalmar os viajantes, entrou em cena afirmando que, caso a Varig fechasse as portas, já havia um plano para que outras empresas aéreas assumissem seus passageiros.

O comentário do ministro não foi muito tranqüilizador (afinal, milhares de passageiros da Transbrasil, que deixou de operar no começo do ano, esperam até hoje, no chão, pelo ressarcimento de suas passagens). Mas expôs com tintas fortes uma realidade até pouco tempo inimaginável: a de que a maior companhia aérea da América Latina e o maior símbolo da aviação nacional pudesse quebrar.

Há sete anos a crise da Varig é um assunto recorrente nos noticiários. Nesse período, a companhia teve quatro presidentes dois engenheiros, um coronel e, por último, o economista Arnim Lore, que pediu demissão no dia 25 de novembro, três meses após ter tomado posse. Nenhum conseguiu tirá-la do atoleiro em que está metida. O problema é que, a cada ano e a cada mudança de comando, os números da empresa só pioram.

A razão da saída de Lore foi a mesma de seus antecessores: ele entrou em conflito com os sete curadores da Fundação Rubem Berta, controladora da companhia com 87,7% de suas ações.

Os curadores não aceitaram o plano de reeestruturação da dívida da empresa _de 2,8 bilhões de reais elaborado por Lore junto com o comitê de credores. Para seu lugar, os curadores que efetivamente dão as cartas na empresa convocaram o diretor de Controladoria e de Relação com os investidores da Varig, Manuel Guedes. Mas, ao contrário de Lore, ele não possui qualquer credibilidade junto aos credores e ao governo, que não acreditam no interesse dos controladores da empresa de realmente fazer um plano para reestruturá-la. "Espero que ele tenha sucesso nas negociações", afirma Arnim Lore. "As dificuldades da Varig são imensas e exige uma rápida solução."

A realidade é que a Varig agoniza. No final do ano passado, a empresa tinha um patrimônio líquido negativo de 520 milhões de reais. Este ano, já está em 1,5 bilhão de reais. Ou seja, mesmo que fosse vendida não sobrariam recursos para pagar todas as dívidas. A empresa fechou o primeiro trimestre deste ano com um prejuízo de 1 bilhão de reais. E a previsão é de que os números do segundo semestre sejam ainda piores. "A companhia está perdendo muito dinheiro", diz um credor.

Não é preciso ser mago das finanças para se perceber que qualquer empresa com um balanço tão ruim está à beira da falência. E, a maior preocupação do governo Fernando Henrique é de que a Varig não tenha realmente fôlego para operar suas contas até o final do ano. "O maior medo é de que essa bomba estoure ainda nesse governo", diz o integrante de um ministério que participou das negociações da Varig com os credores.

O temor é tanto que o Departamento de Aviação Civil (DAC) preparou um estudo analisando o impacto que a quebra da Varig teria sobre o mercado brasileiro de aviação. Pelo estudo apresentado a integrantes do governo, a TAM teria condições de, em duas semanas, absorver todas a rotas nacionais da Varig e, em dois meses, as internacionais.

Alguns dos credores mais intransigentes, como a Boeing e a GE, estariam dispostos a trabalhar imediatamente com a TAM. Isso demonstra que a tamanha deterioração das relações entre os curadores da Varig e os credores. Nas reuniões no BNDES entre credores e os curadores e executivos da empresa, em novembro, o nível de tensão era muito grande. O representante da GE ameaçou várias vezes largar a reunião e executar imediatamente a dívida da Varig , afirma um representante dos credores. A companhia deve cerca de 140 milhões de reais a GE.

O presidente da Petrobras Distribuidora, a BR Distribuidora, Júlio Bueno, também ameaçou, em uma dessas reuniões, não fornecer mais combustível para a Varig. Após insistência do governo, ficou acertado que a BR só venderá o combustível com pagamento à vista. Irritado, Bueno deixou de comparecer a essas reuniões. "Os credores não acreditam em mais nada do que os curadores falam", disse um deles.

No dia 14 de novembro, Lore apresentou aos curadores da Fundação Rubem Berta um memorando de renegociação da dívida vencida de 118 milhões de dólares acertado com os credores. Pelo acordo, a dívida seria rolada até 30 novembro. Nesse dia seria apresentado ao BNDES o programa de reestruturação da empresa. Feito isso, o BNDES estaria disposto a fazer um empréstimo de 300 milhões de dólares para a companhia. Havia, porém, uma exigência: o aporte só seria feito caso a Fundação Rubem Berta concordasse em ficar com apenas 25% do controle da empresa.

Os curadores recusaram-se a assinar o memorando, o que acabou levando a saída de Lore. A alegação para a recusa, segundo um executivo da empresa, é que, em nenhum momento os credores colocaram no papel como ficaria a rolagem da dívida a partir do dia 30. "Nosso medo é que eles usassem o dinheiro do BNDES para receber suas dívidas e deixassem a empresa na mão", diz. Além disso, os credores também não se comprometeram a capitalizar suas dívidas, ou seja, transformar seus débitos em ações da companhia. Também criticaram o fato de apenas cinco o Banco do Brasil, a Petrobras Distribuidora, a GE, o Unibanco e a Infraero, do total de mais de vinte credores serem contemplados pela renegociação da dívida.

Do lado dos credores, a versão é outra. "Eles estão querendo ganhar tempo para negociar com o governo Lula", diz um deles. "Eles acreditam que o PT vai colocar dinheiro para evitar a quebra da companhia." Se é essa expectativa, correm o risco de se frustrar. O presidente nacional do PT, José Dirceu, já deixou claro que se for para se tornar um peso na administração pública é melhor que a Varig seja vendida para estrangeiros. Enquanto isso, o caixa da companhia definha. O Banco do Brasil, a Petrobras Distribuidora, a GE e o Unibanco, os maiores credores da empresa, estão sacando os recebíveis de cartão de crédito. As operadores de cartão transferem diretamente para essas empresas os recursos referentes aos pagamentos de passagens. Enquanto tiver dinheiro para ser sacado, a Varig continua voando.

A maior irritação dos integrantes do governo que patrocinaram as reuniões entre a Varig e seus credores, é que os curadores desperdiçaram uma oportunidade única de fechar um acordo. "Foram oito meses de negociação", disse um integrante do governo. "E eles jogaram tudo para o alto." A maior dificuldade agora, segundo um desses interlocutores, será convencer os credores a voltarem a mesa de negociações. "Agora está tudo muito mais difícil", diz.

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