H&M abre loja estilo "boutique" na Alemanha. Resposta ao fast fashion?
Espaço em Berlim terá um quinto do tamanho de loja tradicional, aulas de ioga, café e integração com o comércio eletrônico
Carolina Riveira
Publicado em 25 de outubro de 2019 às 12h05.
Última atualização em 25 de outubro de 2019 às 12h29.
Uma das maiores varejistas de moda do mundo, a sueca H&M (Hennes & Mauritz) está tentando dar alguns passos em um rumo diferente do "fast fashion" que a consagrou.
A companhia abriu nesta sexta-feira em Berlim, na Alemanha, uma loja no estilo boutique, muito menor que suas tradicionais lojas de dois andares, regada a tecnologia e com foco na "experiência".
A nova loja de Berlim tem um quinto do tamanho das lojas convencionais da H&M. Em um grau maior de personalização, as roupas são selecionadas para atender aos gostos dos compradores locais, incluindo cosméticos veganos e até itens de segunda mão de marcas parceiras.
Além de roupas, a loja vai oferecer aulas de ioga e café em um jardim. O espaço será integrado com o comércio eletrônico, com equipamentos à disposição para que os clientes vejam outras roupas do catálogo -- algo parecido com os guide shops, como da brasileira Amaro.
A H&M vem se esforçando para melhorar seu canal de comércio eletrônico. No terceiro trimestre, as vendas pelo canal subiram 30%, ante alta de mais de 20% no trimestre anterior. A integração entre as lojas físicas e o online está indo "a toda velocidade", segundo disse neste mês ao apresentar os resultados o presidente Karl-Johan Persson. A empresa também afirmou que está reduzindo descontos, como uma forma de cortar custos.
A primeira loja do tipo boutique havia sido aberta como forma de testar o modelo na cidade natal da H&M, em Estocolmo, na Suécia. Mas a implementação na Alemanha é um marco, uma vez que o país é o maior mercado da H&M no mundo, com 462 lojas.
À agência Reuters, a diretora de desenvolvimento de negócio da H&M, Anna Bergare, afirmou que a loja-boutique é um teste para novos conceitos e tecnologias. "Precisamos de lojas perto de onde as pessoas saem. Não estamos acostumados a operar em lugares menores", disse a executiva. Bergare afirmou ainda que a iniciativa é uma resposta às tendências de maior uso do comércio eletrônico e a busca dos consumidores por "experiências" em vez de apenas posses.
Fundada em 1947, a H&M tem no mundo 4.972 lojas em mais de 60 países. Um dos mercados mais recentes nos quais a companhia chegou foi o Uruguai, onde a varejista abriu no ano passado uma loja de 3.000 metros quadrados em um shopping da capital Montevidéu. Na América do Sul, a H&M tem lojas também no Peru e no Chile. Já houve especulações e estudos para que a marca viesse ao Brasil, e a companhia chegou até a anunciar uma loja na avenida Paulista em 2013, mas desistiu.
O movimento da H&M vem em meio a uma queda nas vendas do tipo fast fashion, incluindo em concorrentes como a americana Forever 21 e a espanhola Zara. A Forever 21 , um dos nomes mais conhecidos no mundo neste modelo, pediu recuperação judicial nos Estados Unidos no mês passado. A empresa foi fundada em 1984 e o modelo de roupas rápidas e diversificadas foi responsável por sua ascensão, sobretudo na última década. Mas a companhia sofreu com queda nas vendas e na visitação de shopping centers, sobretudo em meio à concorrência com o e-commerce.
O faturamento da Forever 21 caiu em 1 bilhão de dólares no último ano, de 4,4 bilhões em 2017 para 3,3 bilhões em 2018. Com a recuperação judicial, cerca de 350 unidades deverão ser fechadas em todo o mundo -- mas a empresa deve continuar a operar na América Latina. Atualmente a Forever 21 tem 549 lojas nos Estados Unidos e 251 no resto do mundo.
O mesmo desafio vale para empresas menores, mas que também apostaram no fast fashion na última década. Em edição desta quinzena de EXAME, uma reportagem fala sobre como a Hering voltou a crescer ao investir em tecnologia e retomar o foco em roupas básicas, um pouco na contramão do fast fashion.
O que aconteceu com a Forever 21, afirmam os especialistas, é só o começo do chamado “apocalipse do varejo”. Um relatório do UBS prevê que mais de 75.000 lojas devem fechar na América do Norte entre 2019 e 2026.
A H&M quer se prevenir e oferecer novos modelos antes que isso aconteça.