Governantas por encomenda

O empresário Victor Siaulys, um dos donos do laboratório farmacêutico Aché, gosta de cozinhar nos fins de semana. Para se aperfeiçoar na arte culinária, compra muitos livros de gastronomia. O problema, até há pouco tempo, era achá-los quando precisava. Siaulys tinha o hábito de espalhar seus livros por toda parte: no sítio em Mairiporã, no chalé em Campos do Jordão, no apartamento em que vive no bairro paulistano do Pacaembu. "Em vez de procurar um livro, era mais fácil comprar outro exemplar", diz Siaulys.

Em setembro, ele contratou a Egger & Tranjan, uma consultoria de São Paulo especializada em administrar os assuntos da casa -- um negócio conhecido em inglês como home management. A Egger & Tranjan levou cinco semanas para organizar a biblioteca pessoal de Siaulys. Etiquetou e catalogou por assunto os cerca de 3 000 livros. Agora, Siaulys consegue localizar rapidamente qualquer obra com a ajuda de um computador. Ele decidiu ir mais longe: implantou um sistema para que os 1 200 funcionários do Aché e os 240 da Laramara (Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, inspirada na filha Lara, que nasceu cega, e dirigida por sua mulher, Mara) possam consultar remotamente seu acervo pessoal de livros. Animado, Siaulys pretende pôr em ordem também sua coleção de discos. "Quem tem vida atribulada acaba deixando de lado as coisas pessoais", afirma.

É para atender clientes como Siaulys que Patricia Egger e Renata Tranjan, duas ex-executivas do mercado financeiro, fundaram há um ano a Egger & Tranjan, com um modesto investimento de 90 000 reais. Com cinco funcionários fixos e uma rede de contatos, a empresa se encarrega de gerenciar toda a rotina doméstica do cliente, como treinar empregados, manter a geladeira abastecida, organizar jantares, arquivar documentos e até cuidar do animal de estimação enquanto a família viaja nas férias. "Somos as governantas da casa de clientes padrão AAA", diz Renata. "Quem perde tempo com pequenas coisas em casa não consegue ser eficiente no trabalho", afirma Patricia.

No início, a Egger & Tranjan mirou o público de descasados, solteiros e viúvos que moram sozinhos -- de acordo com o IBGE, só na região metropolitana de São Paulo há mais de 400 000 domicílios ocupados por um único morador. Logo as duas sócias perceberam que era melhor centrar o foco nos empresários e nos altos executivos, incluindo as mulheres. "Muitas mulheres em São Paulo ocupam cargos tão altos quanto os maridos e não têm tempo de cuidar da casa", diz Patricia. O preço depende do número de horas estimado para a execução do serviço. Há pouco tempo, um executivo estrangeiro procurou a Egger & Tranjan para treinar o novo mordomo. O funcionário deve aprender a desempenhar tarefas como atender o telefone, preparar malas de viagem e fretar um helicóptero. As 40 horas de treinamento vão custar 2 000 reais. Em média, a Egger & Tranjan vem atendendo 30 residências por mês.