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Empresas apostam na recuperação das perdas em 2003

É praticamente consenso: a expectativa, tanto do governo quanto do setor privado, é que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça pelo menos 3,5% em 2004, depois de um desempenho quase nulo, próximo de zero, em 2003. Na visão de vários empresários, o próximo ano servirá para recuperar o mercado perdido nos últimos 12 meses. […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

É praticamente consenso: a expectativa, tanto do governo quanto do setor privado, é que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça pelo menos 3,5% em 2004, depois de um desempenho quase nulo, próximo de zero, em 2003. Na visão de vários empresários, o próximo ano servirá para recuperar o mercado perdido nos últimos 12 meses. Para isso, todos contam com queda nos juros. Veja abaixo a opinião de algumas empresas e dos principais setores da economia:

Papel e celulose
De acordo com Murilo Passos, diretor-superintendente da Cia Suzano de Papel e Celulose e da Bahia Sul, o setor como um todo caiu cerca de 10% neste ano. "Acompanhamos esse desempenho. Esperamos recuperar isso em 2004", afirmou Passos. Mesmo com a retração no mercado, a Suzano investiu cerca de 200 milhões de dólares em 2003 e deve aplicar outros 250 milhões em 2004 para ampliar a produção. "Compensamos as vendas no mercado doméstico com o aumento das exportações", disse Passos. Para o próximo ano, o objetivo é ampliar a produção total da empresa em cerca de 10%.

Indústria automobilística
No setor automotivo, a Ford também compensou o desaquecimento da economia interna com um aumento de 40% no volume das exportações. Mas, ao contrário das outras montadoras, ela conseguiu também crescer no mercado doméstico. Enquanto a indústria automobilística perdeu 6,8% em volume de vendas, a Ford cresceu 13% e conquistou 2,1 pontos percentuais de participação de mercado. Ainda assim, a empresa vai fechar o ano no vermelho e conta com a continuidade da queda dos juros para melhorar seu desempenho em 2004. "Juros baixos são essenciais para um setor em que 60% das vendas são financiadas", diz Rogelio Goldfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford. Para a empresa, diz o executivo, a taxa de juros ideal esperada para o próximo ano é de 14%. "No geral, estamos trabalhando com números otimistas", diz ele. Num cenário de juros mais baixos e de um crescimento do PIB por volta de 3%, afirma Goldfarb, as montadoras poderiam voltar a respirar. Este ano, a indústria vendeu 1,3 milhão de veículos e operou com uma ociosidade de 44%. Para 2004, a expectativa é de 1,5 milhão de unidades vendidas.

Siderurgia e metalurgia
A Gerdau, que também aumentou em 90% suas exportações em 2003, afirma que já sentiu os sinais de que o ano de 2004 será melhor. No comparativo dos seis meses deste ano versus o mesmo período de 2002, a queda nas vendas da empresa para o mercado interno foram de 18%. Quando a comparação passa a incluir os números do penúltimo trimestre deste ano, a queda cai para cerca de 12%. "Nós entendemos que isso já é um sinal de recuperação", diz Osvaldo Schirmer, vice-presidente executivo de finanças e de relações com investidores da Gerdau.

Eletroeletrônicos
O segmento de eletroeletrônicos também encerrou o ano com desempenho negativo de 1%. Segundo o presidente da Philips na América Latina, Marcos Magalhães, o faturamento desse segmento deve voltar a crescer, mas será preciso primeiro que o desemprego diminua e que a renda do trabalhador, que encolheu muito, recupere um pouco seu poder de compra. "As classes C e D hoje não têm condições de comprar à vista e temem comprar a prazo", diz ele. A ampliação do crédito ao consumidor é outro ponto que Magalhães afirma ser fundamental para que as vendas voltem a crescer. Segundo ele, a linha de crédito que o governo criou em 2003 para a compra de eletrodomésticos e eletroeletrônicos não surtiu o efeito esperado. "Ela foi pouco divulgada e é muito burocrática. Se continuar assim, não vai adiantar nada", afirma Magalhães.

Varejo
Para o consultor de varejo Eugênio Foganholo, o aumento do consumo em 2004 também está atrelado à percepção de futuro do consumidor. "Queda nos juros e recuperação da renda são fatores significativos, mas o que mais pesa na cabeça do consumidor é se ele vai estar ou não empregado no médio prazo", afirma Foganholo. "Se ele acha que sim, consome". Essa percepção, afirma Foganholo, tende a ficar mais forte em 2004. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe uma boa notícia: pela primeira vez em 2003, a taxa de desocupação caiu de um mês para outro. Em novembro, a Pesquisa Mensal de Emprego, realizada nas seis maiores regiões metropolitanas, registrou um índice de 12,2%, contra 12,9% em outubro. Mas a recuperação no mercado de bens duráveis e semi-duráveis pode levar ainda uns seis ou sete meses. "As pessoas vão primeiro quitar suas dívidas para só depois voltar a pensar em comprar", diz o consultor Paulo Apsen.

Cosméticos
Na avaliação de Guilherme Leal, um dos sócios fundadores da Natura, empresa que em 2003, a despeito do fraco desempenho da economia, conseguiu crescer cerca de 30%, o governo tem agora de estruturar uma agenda de desenvolvimento. "A grande dúvida é se o crescimento que deve ocorrer neste ano será sustentável", diz Leal.

Infra-estrutura e investimentos
A falta de clareza nas regras que regulam diversos setores também tem feito várias empresas adiarem investimentos. O setor de infra-estrutura, por exemplo, que previa aplicar 15 bilhões de dólares no Brasil em 2003, deve encerrar o ano com apenas 8 bilhões investidos. Segundo a Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), devido às indefinições que permanecem, não é possível ainda prever o volume de recursos que estará disponível no ao que vem. O vice-presidente da Bain & Company Rodolfo Spielmann acredita que os investimentos devem mesmo ser retomados somente a partir de 2005. "A maior parte das empresas está com capacidade ociosa e vai conseguir absorver sem problemas o aumento na demanda previsto", diz ele.

Crédito e bancos
Outro desafio para as empresas, segundo ele, será administrar os aumentos de custos, como de mão de obra, já que várias categorias conseguiram reajustes entre 12% e 18%, como o setor de eletroeletrônicos. Os bancos, na avaliação do consultor Spielmann, que nos últimos anos restringiram a concessão de crédito e centraram seus investimentos em títulos, devem agora se reacostumar a emprestar dinheiro: "Eles perderam a prática. O desafio vai ser ampliar a carteira de crédito de forma saudável".

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É praticamente consenso: a expectativa, tanto do governo quanto do setor privado, é que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça pelo menos 3,5% em 2004, depois de um desempenho quase nulo, próximo de zero, em 2003. Na visão de vários empresários, o próximo ano servirá para recuperar o mercado perdido nos últimos 12 meses. Para isso, todos contam com queda nos juros. Veja abaixo a opinião de algumas empresas e dos principais setores da economia:

Papel e celulose
De acordo com Murilo Passos, diretor-superintendente da Cia Suzano de Papel e Celulose e da Bahia Sul, o setor como um todo caiu cerca de 10% neste ano. "Acompanhamos esse desempenho. Esperamos recuperar isso em 2004", afirmou Passos. Mesmo com a retração no mercado, a Suzano investiu cerca de 200 milhões de dólares em 2003 e deve aplicar outros 250 milhões em 2004 para ampliar a produção. "Compensamos as vendas no mercado doméstico com o aumento das exportações", disse Passos. Para o próximo ano, o objetivo é ampliar a produção total da empresa em cerca de 10%.

Indústria automobilística
No setor automotivo, a Ford também compensou o desaquecimento da economia interna com um aumento de 40% no volume das exportações. Mas, ao contrário das outras montadoras, ela conseguiu também crescer no mercado doméstico. Enquanto a indústria automobilística perdeu 6,8% em volume de vendas, a Ford cresceu 13% e conquistou 2,1 pontos percentuais de participação de mercado. Ainda assim, a empresa vai fechar o ano no vermelho e conta com a continuidade da queda dos juros para melhorar seu desempenho em 2004. "Juros baixos são essenciais para um setor em que 60% das vendas são financiadas", diz Rogelio Goldfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford. Para a empresa, diz o executivo, a taxa de juros ideal esperada para o próximo ano é de 14%. "No geral, estamos trabalhando com números otimistas", diz ele. Num cenário de juros mais baixos e de um crescimento do PIB por volta de 3%, afirma Goldfarb, as montadoras poderiam voltar a respirar. Este ano, a indústria vendeu 1,3 milhão de veículos e operou com uma ociosidade de 44%. Para 2004, a expectativa é de 1,5 milhão de unidades vendidas.

Siderurgia e metalurgia
A Gerdau, que também aumentou em 90% suas exportações em 2003, afirma que já sentiu os sinais de que o ano de 2004 será melhor. No comparativo dos seis meses deste ano versus o mesmo período de 2002, a queda nas vendas da empresa para o mercado interno foram de 18%. Quando a comparação passa a incluir os números do penúltimo trimestre deste ano, a queda cai para cerca de 12%. "Nós entendemos que isso já é um sinal de recuperação", diz Osvaldo Schirmer, vice-presidente executivo de finanças e de relações com investidores da Gerdau.

Eletroeletrônicos
O segmento de eletroeletrônicos também encerrou o ano com desempenho negativo de 1%. Segundo o presidente da Philips na América Latina, Marcos Magalhães, o faturamento desse segmento deve voltar a crescer, mas será preciso primeiro que o desemprego diminua e que a renda do trabalhador, que encolheu muito, recupere um pouco seu poder de compra. "As classes C e D hoje não têm condições de comprar à vista e temem comprar a prazo", diz ele. A ampliação do crédito ao consumidor é outro ponto que Magalhães afirma ser fundamental para que as vendas voltem a crescer. Segundo ele, a linha de crédito que o governo criou em 2003 para a compra de eletrodomésticos e eletroeletrônicos não surtiu o efeito esperado. "Ela foi pouco divulgada e é muito burocrática. Se continuar assim, não vai adiantar nada", afirma Magalhães.

Varejo
Para o consultor de varejo Eugênio Foganholo, o aumento do consumo em 2004 também está atrelado à percepção de futuro do consumidor. "Queda nos juros e recuperação da renda são fatores significativos, mas o que mais pesa na cabeça do consumidor é se ele vai estar ou não empregado no médio prazo", afirma Foganholo. "Se ele acha que sim, consome". Essa percepção, afirma Foganholo, tende a ficar mais forte em 2004. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe uma boa notícia: pela primeira vez em 2003, a taxa de desocupação caiu de um mês para outro. Em novembro, a Pesquisa Mensal de Emprego, realizada nas seis maiores regiões metropolitanas, registrou um índice de 12,2%, contra 12,9% em outubro. Mas a recuperação no mercado de bens duráveis e semi-duráveis pode levar ainda uns seis ou sete meses. "As pessoas vão primeiro quitar suas dívidas para só depois voltar a pensar em comprar", diz o consultor Paulo Apsen.

Cosméticos
Na avaliação de Guilherme Leal, um dos sócios fundadores da Natura, empresa que em 2003, a despeito do fraco desempenho da economia, conseguiu crescer cerca de 30%, o governo tem agora de estruturar uma agenda de desenvolvimento. "A grande dúvida é se o crescimento que deve ocorrer neste ano será sustentável", diz Leal.

Infra-estrutura e investimentos
A falta de clareza nas regras que regulam diversos setores também tem feito várias empresas adiarem investimentos. O setor de infra-estrutura, por exemplo, que previa aplicar 15 bilhões de dólares no Brasil em 2003, deve encerrar o ano com apenas 8 bilhões investidos. Segundo a Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), devido às indefinições que permanecem, não é possível ainda prever o volume de recursos que estará disponível no ao que vem. O vice-presidente da Bain & Company Rodolfo Spielmann acredita que os investimentos devem mesmo ser retomados somente a partir de 2005. "A maior parte das empresas está com capacidade ociosa e vai conseguir absorver sem problemas o aumento na demanda previsto", diz ele.

Crédito e bancos
Outro desafio para as empresas, segundo ele, será administrar os aumentos de custos, como de mão de obra, já que várias categorias conseguiram reajustes entre 12% e 18%, como o setor de eletroeletrônicos. Os bancos, na avaliação do consultor Spielmann, que nos últimos anos restringiram a concessão de crédito e centraram seus investimentos em títulos, devem agora se reacostumar a emprestar dinheiro: "Eles perderam a prática. O desafio vai ser ampliar a carteira de crédito de forma saudável".

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