Negócios

CSN perde Corus, divulga prejuízo, mas ainda sai no lucro

Esta quarta-feira foi um dia agitado Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Depois da divulgação do fim do acordo de intenções com a anglo-holandesa Corus para formar a quinta maior siderúrgica do mundo, a empresa anunciou nesta tarde seu balanço trimestral com um prejuízo de 169,5 milhões, apesar de ter registrado vendas maiores no período. Os bastidores […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Esta quarta-feira foi um dia agitado Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Depois da divulgação do fim do acordo de intenções com a anglo-holandesa Corus para formar a quinta maior siderúrgica do mundo, a empresa anunciou nesta tarde seu balanço trimestral com um prejuízo de 169,5 milhões, apesar de ter registrado vendas maiores no período.

Os bastidores da separação não foram bem contados até agora. A brasileira disse que já estava combinada a desistência do negócio porque os números da Corus não batiam com o prometido. A anglo-holandesa, por sua vez, se antecipou e disse que as incertezas no Brasil e a volatilidade do mercado internacional a levaram a desistir do negócio.

Segundo um porta-voz da companhia, a volatilidade da moeda brasileira, a crescente aversão de credores ao risco, além de um panorama sombrio para os mercados financeiros seriam os principais fatores por trás da decisão de abortar a operação de fusão. O contrato de fusão com a Corus estava previsto para ser fechado em março.

Ao mesmo tempo, o grupo fez seu mea-culpa e afirmou que a produção de aço nos seus principais mercados, no Reino Unido e em outras partes da Europa, não atingiu o nível projetado e que a recuperação na segunda metade do ano seria menos sólida que o esperado _fato colocado pela CSN como um dos problemas para a separação.

A Companhia Siderúrgica Nacional afirmou por meio de sua assessoria de imprensa nesta quarta-feira que havia comunicado oficialmente à siderúrgica anglo-holandesa Corus o rompimento do memorando de intenções que previa a fusão das empresas em março de 2003 e o contrato de intenções, assinado em 17 de julho.

A assessoria da empresa disse que os executivos da CSN estão surpresos com os argumentos utilizados pela companhia estrangeira, de que estaria deixando o negócio diante das incertezas nos mercados mundiais e da volatilidade dos mercados brasileiros. "A mudança de governo (no Brasil) está ocorrendo de forma tranquila e o dólar tem cedido a cada dia. As incertezas só estão diminuindo", disse o assessor.

Além de pegar o mercado de surpresa, a notícia do fim do acordo acontece no mesmo dia em que a CSN divulgou seu balanço trimestral, com um grande prejuízo: 169,5 milhões de reais no terceiro trimestre deste ano, apesar do crescimento das vendas. No mesmo período do ano passado, a empresa teve lucro de 607,4 milhões de reais, ajudado pela diluição do impacto da desvalorização cambial no balanço. De janeiro a setembro, a empresa acumula perdas de 576,7 milhões de reais, frente ao lucro de 426,9 milhões de reais obtido entre janeiro e setembro de 2001, segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira.

Mas, ao analisar os balanços da Corus, parece que quem sai ganhando é a CSN. A anglo-holandesa é a sétima maior siderúrgica do mundo. E seus balanços estão no vermelho desde 1999. Apenas nos últimos dois anos os prejuízos superaram os 2 bilhões de dólares. A margem de Ebitda zerou em 2001. A indústria automobilística britânica, um dos principais clientes da Corus, reduziu seus volumes de produção e, recentemente, a empresa decidiu deixar os negócios de alumínio e de aço inoxidável. Num recente estudo feito pela Merrill Lynch, suas fábricas na Inglaterra e na Holanda são descritas como mais antigas que as da CSN e pouco integradas. Segundo estimativas do banco Morgan Stanley, cada tonelada de aço que sai de seus fornos custa 260 dólares contra 160 dólares da CSN.

A visão dos analistas

Os analistas estão divididos quanto ao final do acordo.

"Isso é ruim para a CSN, porque ela precisa de escala para competir na reestruturação do setor siderúrgico brasileiro", disse a analista do BES Securities, Cristiane Viana, que prevê abertura em queda para as ações da companhia.

"O rompimento com a Corus não deve afetar muito o desempenho da CSN, porque ela tem forte geração de caixa e boas perspectivas, além de ser uma boa pagadora de dividendos", afirmou o diretor de operações de um grande banco norte-americano, em São Paulo.

"O mercado viu que o fim do acordo não foi tão ruim e agora vai voltar a olhar a CSN sem atrelar o seu preço à Corus, como estava acontecendo desde o anúncio da fusão", disse a analista Juliana Chu, do Banco Itaú. "Dentro do processo de consolidação que o setor está começando a passar no Brasil é importante ganhar escala, o que aconteceria com a fusão, mas tem que ver como será definida a estratégia da CSN, ter uma visão melhor", disse a analista.

Para o analista do banco Sudameris Roberto Reis, "pode haver um lado positivo no rompimento, porque isso pode ser um catalisador de fusões entre empresas nacionais", afirmou.

Flavio Portella, gestor de fundos do BBV Banco, disse que para o acionista da CSN o rompimento deve ser bom, "porque a Corus não temum desempenho muito bom lá fora".

Ruim também para a Corus

O banco de investimentos Merrill Lynch reduziu a classificação da Corus de "compra" para "neutro" nesta quarta-feira depois que a siderúrgica anglo-holandesa emitiu um alerta de resultados e cancelou a fusão com a Companhia Siderúrgica Nacional. Às 13h30 as ações da Corus caíam 29,41% a 33 centavos de libras, depois do anúncio do fim da fusão.

O analista da Merrill Lynch, Mark Burridge, disse que o impacto da notícia o fez reduzir a classificação e questionar até que ponto havia mais por trás da decisão do que o realmente anunciado pelas empresas para abortar a fusão.

"Sem os benefícios da CSN ou de um acordo similar, a Corus vai encontrar dificuldade em competir com produtores europeus de baixo custo", disse a Merrill, recomendando a seus investidores que transfiram seus recursos para a Arcelor na Europa e BHP Billiton no Reino Unido. "Suspeitamos que o alerta sobre lucros também foi resultado da reestruturação econômica, bem como na demora dos resultados com o aumento do preço do aço", disse Burridge.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame