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Crise? O Santander ficou de fora

Letícia Toledo  Historicamente, os grandes bancos brasileiros escolhem não participar das crises. As instituições são tão sólidas que conseguem ampliar seus (bilionários) lucros em quaisquer circunstâncias. Desta vez tem sido diferente. Itaú, Banco do Brasil e Bradesco, juntos, tiveram uma redução de mais de 20% em seus lucros nos primeiros nove meses do ano. Mas […]

SÉRGIO RIAL, PRESIDENTE DO SANTANDER: ele herdou e acelerou mudanças para melhorar a rentabilidade  / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

SÉRGIO RIAL, PRESIDENTE DO SANTANDER: ele herdou e acelerou mudanças para melhorar a rentabilidade / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

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Letícia Toledo

Publicado em 17 de novembro de 2016 às 16h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h41.

Letícia Toledo 

Historicamente, os grandes bancos brasileiros escolhem não participar das crises. As instituições são tão sólidas que conseguem ampliar seus (bilionários) lucros em quaisquer circunstâncias. Desta vez tem sido diferente. Itaú, Banco do Brasil e Bradesco, juntos, tiveram uma redução de mais de 20% em seus lucros nos primeiros nove meses do ano. Mas há uma exceção: o Santander conseguiu lucrar quase 7% mais nos primeiros nove meses do ano, superando trimestre após trimestre as projeções da maioria dos analistas. Foram 5,3 bilhões de reais entre janeiro e setembro.

“Passados três quartos do ano, podemos dizer com um alto grau de confiança que 2016 deve ser o melhor ano para o banco desde o seu IPO em 2009”, afirmaram analistas do banco BTG Pactual em relatório após os resultados do terceiro trimestre no final de outubro.

Os papéis da companhia atualmente estão cotados na casa dos 26 reais, uma alta de 76% no ano, superando o valor da abertura de capital, quando cada papel valia 23,5 reais (descontada a inflação do período, o desempenho ainda é negativo).

As ações dos bancos, é bem verdade, têm sido um fenômeno no Brasil com a expectativa de melhora da economia. No Banco do Brasil, as ações subiram 83%; no Bradesco, 75,9%; no Itaú, 56,7%. Ainda assim, analistas atribuem parte da alta dos papéis do Santander aos seus dez trimestres consecutivos de aumento nos lucros.

Os ganhos trimestrais vieram, principalmente, com um aumento das receitas de crédito e com tarifas, que compensaram as despesas com inadimplência – que têm tirado parte dos lucros dos outros bancos. “Uma das críticas ao Santander sempre foi a baixa receita com prestação de serviços. Agora finalmente o banco parece avançar”, diz Lenon Borges, analista da corretora Ativa Investimentos. No terceiro trimestre, a receita com prestação de serviços totalizou 3,43 bilhões de reais, alta de 17,7% na comparação anual. Essa mesma receita, no Itaú, avançou 7%.

O desempenho da operação brasileira tem sido fundamental para os resultados do grupo espanhol. O Santander Brasil atualmente representa a maior contribuição individual para o lucro do conglomerado. No acumulado de nove meses, o Santander teve lucro de 4,6 bilhões de euros, sendo que 20% vieram do Brasil, 19% do Reino Unido e 14%, da Espanha. A segunda maior operação, no Reino Unido, está cercada de incertezas após a votação do país de deixar a União Europeia, em junho.

Mudanças

Como costuma acontecer, a melhora do Santander Brasil não veio do dia para a noite. O carioca Sérgio Rial assumiu a presidência do banco em janeiro, mas especialistas afirmam que o resultado atual é fruto de uma melhora que teve início com seu antecessor, Jesús Zabalza, que comandou o banco de 2013 até janeiro deste ano. Para analistas, Zabalza implementou processos que levaram à trajetória de queda da inadimplência e à melhora no atendimento ao consumidor.

“Melhoramos o relacionamento com o cliente. Relançamos várias linhas de crédito e o programa de atendimento. Implementamos, por exemplo, o programa clique único, em que é possível contratar produtos com um único clique na internet. Hoje, no financiamento de automóveis o processo é todo digital: antes, era necessário preencher 107 campos para obter uma oferta de financiamento, hoje são apenas seis”, diz Angel Santodomingo, vice-presidente executivo e diretor financeiro do Santander Brasil.

A melhora no atendimento, por exemplo, fez com que o banco perdesse a posição número 1 no ranking de reclamações do Banco Central – a pior de todas. Capturar novos clientes é essencial para o futuro do banco. No ano passado, o banco perdeu a disputa para a compra das operações do HSBC no Brasil para o Bradesco e este ano perdeu a disputa pelo Citi para o Itaú.

Após gastar 40 bilhões de dólares nas últimas duas décadas para comprar uma série de concorrentes, que incluíram o Banespa e o Real, o banco tinha planos de se tornar líder do mercado. Em 2007, quando comprou o Real, se tornou o terceiro maior banco do país, atrás de Banco do Brasil e Bradesco. Em 2009, quando abriu seu capital, o banco captou 14,1 bilhões de reais – o maior IPO da história da Bovespa até então. Depois de tanto remar, o banco é o quinto maior do país, com ativos de 598 bilhões de reais.
“Ter escala é fundamental, mas os custos de uma operação de fusão também são enormes. Estamos convencidos de nossa capacidade de crescimento orgânico. Somos o único banco internacional com tamanho relevante no país hoje”, diz Santodomingo .

Problemas

Apesar das melhoras, todos os 16 analistas de bancos que acompanham a empresa recomendam a venda das ações. Além de considerarem que os papéis da companhia estão caros, para eles o banco ainda tem um problema crucial: a baixa rentabilidade em comparação com as outras instituições financeiras do país. “A principal questão do Santander é a Rentabilidade sobre o Patrimônio (ROE), enquanto no Itaú o ROE é de 19,9%, no Santander é 13%”, diz Lenon Borges, da Ativa Investimentos.

“Embora a dinâmica operacional tenha melhorado, com maiores receitas de juros e taxas, os níveis de rentabilidade permanecem sem brilho”, dizem analistas do banco JP Morgan em relatório. “A cotação atual das ações é difícil de justificar”.

Em seu Investors Day deste ano, o banco apresentou planos para melhorar sua rentabilidade. A estratégia principal é tentar aumentar o número de clientes. Até junho (último dado divulgado) o banco tinha 16,4 milhões de clientes ativos, um crescimento de 4% em relação ao mesmo período de 2015. Em 2018, o banco espera ter 19,8 milhões de clientes ativos.

Para ajudar nessa empreitada, o Santander lançou, em agosto, sua conta corrente e cartão pré-pago 100% digitais por meio da ContaSuper – fintech adquirida este ano. O banco quer aumentar a abertura de contas, o lançamento de cartões e a venda de produtos pelos canais digitais, que, segundo seus cálculos, pode trazer uma economia de custos de 320 milhões de reais entre 2016 e 2017. “O mercado quer ver o Santander Brasil entregar resultados. É questão de tempo”, diz Santodomingo. Se a economia for vantajosa também para os consumidores, muito melhor.

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