Negócios

Conheça a história dos empresários que fundaram a Fiesp

Dos nove fundadores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), somente um terço prosperou e manteve o negócio original. Conheça a história dos empresários, verdadeiros magnatas do século 20, que criaram a maior federação de indústrias do país. Francesco Matarazzo O Conde, como foi intitulado em 1917 pelo rei da Itália, Vittorio […]

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Dos nove fundadores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), somente um terço prosperou e manteve o negócio original. Conheça a história dos empresários, verdadeiros magnatas do século 20, que criaram a maior federação de indústrias do país.

Francesco Matarazzo

O Conde, como foi intitulado em 1917 pelo rei da Itália, Vittorio Emanuelle, era um empresário de dimensões incomparáveis. Chegou da Itália em 1881 para tentar a sorte no Brasil. Trazia algum dinheiro e esperava uma embarcação com quilos de banha de porco para começar seus negócios. A carga foi perdida no mar, quando a barca que a trazia afundou. Matarazzo foi então para Sorocaba, onde recebeu a ajuda de outro italiano e abriu um armazém. Percebendo que a banha utilizada no Brasil era importada, resolveu abrir uma fábrica do produto. Este foi o ponto de partida de Matarazzo. Em 1890, associou-se a alguns dos irmãos que estavam no Brasil e investiu no ramo do comércio. Importou farinha da Argentina, durante a Guerra Hispano-Americana, em 1898, que dificultava a importação do produto daquela região. Anos depois construiu um moinho, um dos primeiros do Brasil. O Conde sempre estava atento a novos mercados e desenvolvia suas indústrias com base na substituição das importações. Construiu fábricas de alimentos, de higiene pessoal e tecelagem, fundou bancos e abriu empresas no exterior. O conglomerado era quase todo verticalizado, contando de fazendas a indústrias de embalagem.

Horácio Lafer

Junto com os irmãos e os primos, o lituano Horácio Lafer fundou a Klabin Irmãos & Cia., em 1899, em São Paulo, para importação e comercialização de artigos de escritórios e tipografia. Quatro anos depois, já estavam produzindo papel em uma fábrica arrendada. Em 1909, a Klabin construiu sua primeira fábrica própria, a Companhia Fabricadora de Papel, e, nos anos 20, estava entre os maiores produtores de papel do Brasil. Viajavam regularmente à Europa e investiam em fazendas por todo o Brasil na tentativa de baratear custos. Em 1934, os primos e irmãos fundaram a Klabin do Paraná, que, anos depois, viria a produzir papel jornal e para embalagem. A profissionalização da empresa foi implementada nos anos 70. Cada uma das seis famílias controladoras da empresa criou uma holding que elege um representante para representá-la no conselho geral.

Alfried Weiszflog

Alfried Weiszflog saiu da Alemanha, em 1896, em busca de novas oportunidades no Brasil, onde já estava seu irmão. Os dois se associaram ao conterrâneo Bühnaeds, que tinha uma empresa de importação de papéis e papelaria. Em 1905, com a morte do sócio, criaram a Weiszflog Irmãos Estabelecimento Gráfico, passando, anos depois, a trabalhar também como editores. Publicaram o primeiro livro a quatro cores, "O Patinho Feio", em 1915. Na década seguinte, compraram a Cia. Melhoramentos de São Paulo, que passava por dificuldades financeiras. Alfried Weiszflog realizou um programa de reequipamento industrial na empresa, passando a ser a primeira a produzir celulose a partir de eucalipto. A profissionalização da Melhoramentos foi iniciada durante a Segunda Guerra Mundial e terminada na última década.

José Ermírio de Moraes

Mesmo tendo nascido em um engenho de cana-de-açúcar, o pernambucano José Ermírio de Moraes teve uma vida rural curta. Foi colocado em um colégio no Recife e, logo depois, mandado para a Escola de Minas do Colorado, nos Estados Unidos. Após sua formatura, em 1921, em uma viagem à Europa, conheceu o industrial Antônio Pereira Inácio, proprietário da fábrica de tecidos Votorantim, que o convidou para trabalhar em sua empresa. Ermírio de Moraes aceitou o convite e, pouco depois, casou-se com Helena, filha de Pereira Inácio. Em 1925, assumiu a diretoria da Sociedade Anônima Votorantim. A diversificação da Votorantim foi iniciada com a primeira fábrica de cimento, inaugurada em 1936. Nos anos seguintes, o grupo investiu em indústria química, siderúrgica, de alumínio e de cítricos.

Antonio Devisate

Antonio Devisate era paulista. Começou na indústria calçadista na década de 20 com a fábrica Rocha, que, posteriormente, passou a se chamar Companhia de Calçados Devisate. Apesar de ter se casado, não teve filhos. Criou apenas uma enteada. Devisate distribuiu alguns cargos da empresa entre os irmãos e sobrinhos. Um deles chegou a abrir lojas no Rio de Janeiro, mas não seguiu por muito tempo. No início da década de 60, quando surgiram no mercado os calçados vulcanizados, Devisate, com 70 anos, decidiu passar os negócios para alguém da família. "Como ninguém quis assumir a fábrica, ele pagou todos os funcionários e fechou as portas", conta a filha da enteada de Devisate, Mirte Vagnotti, que hoje aluga o imóvel na rua Maria Crespi.

Jorge Street

Jorge Street era formado em Medicina, mas não exerceu a profissão por muito tempo. Recebeu de herança do pai a participação em uma indústria têxtil no Rio de Janeiro e decidiu investir no ramo, adquirindo outras empresas. Tinha então a Fábrica de Juta São João, embrião da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, e a fábrica Rnak. Em 1904, Street expandiu seus negócios para São Paulo. Comprou a fábrica de juta Santana e, três anos depois, transferiu todo o maquinário que estava no Rio para a capital paulista. Todo seu conglomerado industrial acabou enquanto ainda estava vivo. As fábricas foram liquidadas ao longo da década de 20. "Tudo que ele comprava era sob hipoteca. Em 1921, fez um grande empréstimo, mas, dois anos depois, houve um realinhamento dos juros, e ele não pôde continuar no ramo", conta Palmira Petratti, professora de história da Unesp, que estuda a vida de Street há 20 anos. Depois de honrar todas as dívidas, o industrial resolveu trabalhar como funcionário público no Ministério do Trabalho.

Carl Adolph von Bülow

Carl Adolph, de origem dinamarquesa, era filho de um dos controladores da Companhia Antarctica Paulista, Adam Dietrik von Bülow. No final do século 19, Adam adquiriu, junto com o amigo alemão Antonio Zerrener, uma firma de importação e exportação de café, algumas fazendas e a cervejaria. Os dois trabalharam quase três décadas juntos até 1923, quando Adam morreu. Foi aí que Carl Adolph assumiu a empresa, mas as ações do pai foram divididas com os outros cinco irmãos. Mais tarde, com a morte de Zerrener, que não tinha descendentes, criou-se a Fundação Antonio e Helena Zerrener para administrar os bens deixados a parentes da Alemanha. As irmãs de Carl Adolph aproveitaram para vender suas ações à fundação, que passou a controlar a empresa. A família von Bülow, antes com metade do controle da cervejaria, ficou com pouco menos de 30%, em 1936. A participação acionária do núcleo familiar diminuiu nas décadas seguintes. Alguns herdeiros venderam suas ações e outros as mantiveram até a fusão da Antarctica com a Brahma no ano 2000, quando foi criada a Ambev.

Plácido Gonçalves Meirelles

O gaúcho Plácido Gonçalves Meirelles, do setor têxtil. Ele começou no ramo como funcionário de armazéns de algodão no Rio de Janeiro, trabalhou como técnico até formar o segundo conglomerado de algodão, atrás apenas das tecelagens dos Matarazzo. Porém, logo depois da fundação da Fiesp, tudo foi por água abaixo. Com a crise da bolsa de Nova York, em 1929, Meirelles teve um prejuízo enorme. Nos anos seguintes, viveu para fechar as indústrias. Morreu em 1934, ao terminar de pagar todos os encargos. Restou apenas uma fábrica, a Fiação e Tecelagem de Tatuí, herdada pelos filhos Augusto e Dario. Os dois irmãos conseguiram reerguer o negócio. Durante a guerra, fizeram muito dinheiro com a comercialização de tecido, mas desistiram do negócio. Em 1946, venderam a empresa e investiram em fazendas de gado holandês.

Roberto Simonsen

Um dos mais novos da geração pioneira da Fiesp, Simonsen começou seus negócios na área de engenharia civil, com a Companhia Construtora de Santos. Logo nos primeiros anos de atividade, modernizou 59 quartéis em 36 cidades, ganhando fama e fortuna. O passo seguinte foi entrar para o ramo industrial, comprando ações da Cerâmica São Caetano. "Era uma das mais modernas da época. Contava com 20 engenheiros para criar novos produtos", lembra um dos netos, Victor Álvaro Simonsen, que trabalhou na empresa, na Fiesp e hoje é consultor. Simonsen dividia a prática empresarial com a política. Em 1932, foi um dos líderes da revolução Constitucionalista de São Paulo. Dois anos depois, foi eleito deputado federal e, em 1945, senador. Os filhos assumiram alguns negócios e ele os ajudou a criar outros, como a Sofunge, de placas metálicas para automóveis, a Sotema de prestação de serviços para construção e a Fábrica Nacionais de Vagões. Atualmente, nenhuma está em atividade. Discussões familiares sobre quem assumiria a gestão das empresas, quase todas divididas entre os três filhos, fizeram com que optassem pela venda dos negócios.

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