Como Abilio luta para manter sua influência no Pão de Açúcar
Propostas do Casino esvaziariam algumas atribuições atuais de Abilio, segundo o empresário
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2012 às 10h15.
São Paulo - Mais uma vez, Abilio Diniz e o Casino estão em campos opostos de uma mesma contenda. Na semana passada, os franceses enviaram uma correspondência ao empresário brasileiro pedindo que ele, na posição de presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar , convocasse uma reunião para discutir alterações no estatuto social da empresa. A ideia é que o tema fosse levado depois à assembleia de acionistas.
De posse da nova proposta, Abilio entendeu que algumas das iniciativas teriam sido formatadas para limitar sua influência na gestão da empresa, diminuindo direitos que ele teria assegurado pelo acordo de acionistas firmado lá atrás, em 2005. Procurados por EXAME.com, Abilio e o Casino preferiram não se pronunciar sobre o caso.
Mas o empresário reagiu. Ontem, endereçou uma carta ao Casino pedindo que as propostas fossem reconsideradas. Um dos pontos que mais teria incomodado Abilio seria a criação de um assento de vice-presidente no conselho. Hoje é ele quem escolhe quem, na sua ausência, o substitui na cadeira de presidente. Na hipótese de falecimento, inclusive, o empresário tem a prerrogativa estendida à sua família.
O Casino argumentou que as mudanças melhorariam a governança do Pão de Açúcar. Para Abilio, no entanto, essa não seria a única alteração que esvaziaria seu poder. A proposta do Casino também pede que o quórum do conselho caia de 10 para 8 membros. O grupo conta com 15 assentos, sendo oito de indicação do Casino (outros três são de Abilio e quatro são independentes). Na prática, portanto, as deliberações poderiam acontecer apenas com o aval dos membros ligados ao Casino.
Pessoas ligadas ao Casino afirmam que a leitura não faz sentido, já que a maioria das cadeiras já pertence ao franceses. Não é o que acredita Abilio, para quem a iniciativa não deixaria de mudar sua competência à frente do conselho de administração do GPA. Na carta, ele pede que pelo menos um representante da família Diniz necessariamente precise marcar presença na avaliação das matérias em que ele tem direito a veto.
Comitês
A criação de um comitê de auditoria e de um comitê de governança corporativa também é levantada pelo Casino. Abilio, por outro lado, afirma que o conselho fiscal da companhia já exerce as mesmas funções que o comitê de auditoria iria desempenhar. Sobre a adoção de critérios que iriam melhorar a transparência do GPA, ele sugeriu que a entrada no Novo Mercado fosse considerada, ao invés de mudanças pontuais no estatuto.
Hoje, o GPA conta com comitês técnicos de trabalho, como de recursos humanos e desenvolvimento sustentável, por exemplo. No estatuto atual, a responsabilidade por convocar cada presidente de comitê para reunião cabe ao presidente do conselho - no caso, Abilio. O Casino quer mudar este desenho, de maneira que a coordenação do presidente não seja mais necessária. O ponto também provocou chiadeira.
Até agora, o Casino ainda não respondeu à carta de Abílio. Nos bastidores, a impressão do time do herdeiro do Pão de Açúcar é que essa seria uma tentativa dos franceses de enfraquecer a liderança do brasileiro dentro do GPA, "vestindo" as alterações com uma capa de boas práticas. Do lado do Casino, a defesa é que a governança do GPA é que está em jogo - e a empresa confia na sua proposta. Animosidades à parte, Abilio não tem direito de vetar mudanças no estatuto. Por isso, o Casino pode seguir em frente com a convocação. Basta que qualquer outro membro do conselho faça o pedido.
Desde que assumiu o controle do Grupo Pão de Açúcar em junho, o Casino vem promovendo uma série de mudanças na companhia, como a indicação de novos executivos e a reestruturação de áreas de negócio.