Como a dona da Telhanorte e Brasilit cria seus materiais
Quem não se sente desconfortável num ambiente muito quente ou abafado? Ou em um auditório que faz eco? Ou ainda com sons de passos vindos do andar de cima?
Karin Salomão
Publicado em 10 de fevereiro de 2017 às 10h48.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2017 às 10h58.
São Paulo – Quem não se sente desconfortável num ambiente muito quente ou abafado? Ou em um auditório que faz eco? Ou ainda com sons de passos vindos do andar de cima? O grupo Saint Gobain, dono da Telhanorte e da Brasilit, entende muito bem destes incômodos. No seu centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Capivari, São Paulo, a companhia cria e testa novos produtos para melhorar o conforto de um ambiente, seja uma casa ou um escritório. Os prédios, segundo Paul Houang, diretor do centro, precisam ter melhores condições térmicas, acústicas e até de qualidade do ar, para aumentar a qualidade de vida. Veja nas imagens por dentro do centro de P&D da Saint Gobain.
Inaugurado em abril de 2016, este é um dos oito centros de pesquisa e desenvolvimento que a empresa tem no mundo e um dos mais desenvolvidos. A área do lugar é de 40 mil metros quadrados e a área construída é de 3 mil metros quadrados. Aqui, trabalham 19 pessoas, sendo 11 pesquisadores e 8 técnicos. Por causa do esforço de pesquisa e desenvolvimento da empresa, a cada ano ela registra 350 novas patentes no mundo. A cada quatro produtos vendidos, um foi desenvolvido nos últimos cinco anos.
Criado na França por ordem do Rei Luis XIV em 1665 para fabricar os espelhos para o Palácio de Versalhes, o grupo se tornou uma multinacional, fabricante de materiais tecnológicos. A companhia tem 17.000 funcionários no Brasil, além de 57 fábricas, com faturamento de R$ 8,7 bilhões em 2015. Entre as principais marcas da Saint-Gobain no País estão a Brasilit, Carborundum, Isover, Norton, PAM, Placo, Sekurit, Weber e Telhanorte. A Saint Gobain está presente em 66 países com 170 mil funcionários.
No centro, a empresa estuda as dinâmicas que ocorrem dentro de um prédio, como mudanças de calor, luz e ruído, para desenvolver escritórios e residências mais confortáveis. E, antes de lançar os produtos no mercado, a Saint Gobain os testa em sua própria casa. Além de ser um espaço para criar novos materiais, o centro de Pesquisa e Desenvolvimento também é um teste a céu aberto dessas criações. Um desses testes foi bastante bem-sucedido. O centro gasta apenas um terço da energia média de outros edifícios. Enquanto no Brasil os melhores prédios gastam 160 quilowatts de energia por hora em um metro quadrado, o centro gasta cerca de 55. Isso porque ele foi construído de tal forma a aproveitar melhor a luz do sol e impedir a entrada de calor, para gastar menos energia com ar-condicionado. O centro é formado por duas alas, distribuídas para buscar o melhor uso da luz do dia.
Na foto, está o condutivímetro, uma máquina que mede o quanto um material é capaz de conduzir calor. No momento, está sendo testada a lã de vidro, material bastante usado para isolamento térmico e acústico de um ambiente.
Este é um dos equipamentos mais caros do laboratório. O microscópio aumenta o objeto em até 1.000 vezes. No momento, ele está analisando um componente da argamassa. As bolinhas, que podem ser vistas no saco em frente ao computador, são ligeiramente ocas. Elas aumentam a capacidade da massa de isolar o calor e o som e deixam o material mais fácil de misturar e mais leve.
Pode não parecer, mas até as paredes podem ter muita tecnologia envolvida. Entre as soluções da Saint Gobain, está a parede de dry wall, feita de duas camadas de gesso e oca no meio. Mais barata que o concreto, isola termicamente o prédio. Além disso, o vidro de todas as janelas do centro é duplo e bloqueia tanto raios infravermelhos quanto ultravioletas. Assim, apenas a luz visível pelo olho humano entra no prédio, bloqueando cerca de 75% da energia e do calor.
Depois de criar os materiais no laboratório, chegou a parte mais divertida: testar se eles realmente funcionam. Aqui, o laboratório testa a resistência de uma parede a impactos, usando um saco de boxe.
O laboratório também testa a durabilidade dos materiais ao simular a passagem do tempo em uma câmara climatizada, para verificar se o material resiste a calor, umidade e o gás carbônico na atmosfera. Também há testes de choques térmicos, nos quais o material é aquecido a 80° C e depois recebe um jato de água fria. Qualquer trinco ou rachadura no material indica que ele não foi bem desenvolvido. Na foto, está o teste de reação ao fogo, que verifica a velocidade de queima e se ele desprende substâncias tóxicas ou uma fumaça muito densa. Isso irá determinar se o material é seguro e se ele pode ser usado em determinados ambientes.
Este ambiente é um espaço sensorial. Aqui, é possível testar como a acústica e luminosidade podem ser controladas com certos materiais. O vidro da janela desta sala é eletrocrômico. Essa palavra complicada significa que impulsos elétricos mudam a cor da janela, aumentando o bloqueio da entrada de luz. Há quatro painéis separados e cada um pode ser regulado de forma independente.
Neste auditório, a Saint Gobain testa formas de melhorar a acústica. Aqui, é possível dar uma palestra sem nenhum microfone por causa do material usado na parede, que impede a reverberação do som. O revestimento também filtra o ar e remove cheiros fortes como tinta e gás carbônico.
Do lado de fora do escritório há testes em casas que simulam as construções do programa do governo Minha Casa Minha Vida. À esquerda, a casa não possui nenhuma proteção contra o calor e à direita a casa tem forro de gesso e lã de vidro, isolantes térmicos. A diferença entre as duas residências, em um dia de sol forte, pode chegar a mais de 10° C. As duas casas também têm faixas pintadas com uma cor mais escura. Aqui, não há nenhuma tecnologia complexa, apenas física simples: cores mais escuras absorvem mais luz e calor, o que impacta diretamente na temperatura do lado de dentro da casa.
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