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Buscar um sócio virou opção de empresas para encher o caixa

Com a crise, empresas que querem investir em 2009 têm procurado parceiros que injetem capital em troca de fatias minoritárias

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Juntar forças em um momento de dificuldade é uma reação natural de pessoas e empresas. Diante da crise financeira mundial, o caminho escolhido por muitas companhias é a busca de novos sócios ou de parcerias estratégicas para reforçar o caixa e conseguir musculatura para continuar investindo e crescendo em 2009. Antes de a turbulência internacional tornar-se aguda, muitos negócios não seguiam adiante porque a ponta vendedora acreditava que conseguiria manter o ritmo de expansão, seja com recursos próprios, seja com o capital levantado no mercado financeiro. Mas desde agosto, quando o pânico se alastrou pelo mundo e o crédito secou, as empresas que antes davam um chá de cadeira em potenciais parceiros mudaram de idéia.

Desde agosto, quatro negócios foram retomados pela ponta vendedora no escritório de advocacia Barbosa, Müssnich e Aragão (BMA), uma das maiores bancas dedicadas a fusões e aquisições do Brasil. "Há empresas que perceberam que podem não ter um bom ano de 2009, e buscar um parceiro é uma opção interessante", afirma a advogada Fabiana Fagundes. No total, a equipe de Fabiana trabalha atualmente em 11 transações. Já a consultoria Deloitte foi procurada por pelo menos cinco companhias no mesmo período interessadas em receber aportes de capital por meio da entrada de um novo sócio. "O interesse por essas operações se intensificou nos últimos tempos", diz José Paulo Rocha, sócio da Deloitte para a área de Finanças.

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A piora do cenário para 2009 é o que mais pesa na decisão dessas empresas em aceitar um novo sócio ou parceiro. No início do ano, o relatório Focus do Banco Central, que condensa as expectativas dos bancos para os principais indicadores da economia, mostrava uma projeção de crescimento do PIB de 4,03% para 2009. No último relatório, divulgado no início desta semana, a expectativa já caiu para 3,35%, na esteira do temor de que importantes países, como os Estados Unidos, Inglaterra, China, Japão, além da Europa, freiem bruscamente no próximo ano ou até mesmo mergulhem numa recessão - o que fatalmente prejudicaria os demais países.

A falta de crédito também atrapalha os planos de quem quer tocar seus projetos. Com a liquidez empoçada no sistema financeiro mundial devido à desconfiança generalizada sobre a saúde dos bancos, empresários e executivos estão mais flexíveis a acordos como a venda de fatias minoritárias para fundos de investimentos ou sócios estratégicos.

Todos os portes

Os fundos de private equity, aliás, estão entre os principais compradores nos últimos meses. Somente neste mês, o Gávea, comandado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, realizou dois movimentos. Injetou 130 milhões de dólares na Cosan Limited, holding que controla a Cosan, por meio de uma subscrição privada de ações; e comprou 12,6% da rede gaúcha de mídia RBS.

As empresas mais atraentes a esses fundos são as de médio e grande porte, que apresentem algum tipo de liderança no setor em que atuam e boa governança corporativa. É consenso no mercado que esses investidores não aceitam menos que 30% da empresa, se forem pôr seu dinheiro lá. "Geralmente, um private equity vai injetar pelo menos 50 milhões de reais na empresa. Por isso, a empresa tem de ter um valor de mercado de, no mínimo, 150 milhões de reais", afirma Luís Motta, sócio da KPMG para Corporate Finance.

Isso não significa que empresas menores não estejam procurando essa saída neste momento. "Temos empresas que, após serem capitalizadas, vão chegar a um valor de mercado de 20 milhões de reais", diz Fabiana, da BMA. Ok, o escritório também trabalha num acordo de 2 bilhões de reais, mostrando que as parcerias despertam o interesse de um amplo leque de companhias.

Os especialistas afirmam que os setores que mais se movimentam, neste momento, são os de varejo, educação, bens de consumo e de capital, mídia e comunicação, infra-estrutura, serviços, e tecnologia da informação.

Fusões e aquisições

Já as trocas de controle das empresas ou fusões - outro modo de juntar forças para enfrentar 2009 - tendem a desacelerar nos próximos meses, de acordo com Motta, da KPMG. "Até setembro, quem tinha de fechar negócio já fechou. Se compararmos trimestre a trimestre com 2007, vemos que os negócios foram caindo ao longo do ano. Devemos terminar 2008 um pouco abaixo do ano passado", diz.

A forte queda das ações de muitas empresas na bolsa, por conta da crise, e a disparada do dólar - que torna as companhias brasileiras mais baratas para os estrangeiros - abrem uma janela de oportunidade para novos negócios neste momento. Mas Motta alerta que há forças antagônicas atuando no mercado. Se, por um lado, o preço das companhias está mais barato, por outro, o risco de alguém comprar um mico cresceu. "Além disso, para comprar uma empresa é necessário captar dinheiro e se endividar", diz.

O que pode ser visto nos próximos meses, segundo Fabiana, da BMA, são fusões que não envolvam propriamente aporte de capital, como a troca de ações. "Neste caso, as empresas estão mais juntando forças do que buscando recursos financeiros", afirma. Outro modo de as empresas buscarem um co-piloto para atravessar 2009 - um ano que parece cada vez mais árido para os negócios.

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