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Braskem investe em megaprojeto petroquímico na Venezuela

Em parceria com a venezuelana Pequiven, a companhia pretende construir complexo para disputar o mercado da América do Norte

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.

A Braskem assinou, nesta segunda-feira (17/4), um acordo para com a venezuelana Pequiven para desenvolver estudos técnico-financeiros para a implantação de um grande complexo petroquímico na Venezuela. Batizado de Complexo de Jose, o projeto envolve a construção de um cracker (unidade para transformação de etano em eteno) com capacidade anual de 1,2 milhão de toneladas de eteno, além de unidades de produção de polietileno e outros produtos petroquímicos de segunda geração. O projeto está avaliado entre 1,5 bilhão e 2,5 bilhões de dólares.

O arranjo societário e os tipos de produtos que serão fabricados no complexo deverão ser definidos nos próximos seis meses. Por isso, a Braskem ainda não definiu o quanto poderá investir no projeto, mas as conversas iniciais apontam para uma participação meio-a-meio com a Pequiven, desde que os venezuelanos aceitem algumas condições. Se as condições forem favoráveis, a Braskem não descarta, inclusive, assumir uma posição majoritária no empreendimento. Estrategicamente, a principal é que a comercialização dos produtos para outros países seja comandada pela Braskem, enquanto a Pequiven cuidaria das vendas na Venezuela.

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Se o parceiro concordar, controlar as exportações de petroquímicos a partir do Complexo de Jose será um importante passo para a estratégia de internacionalização da Braskem, que concentraria seus esforços na conquista dos mercados da América do Norte. Situado em uma área com boa logística, o Complexo de Jose fica a poucas horas de barco das grandes petroquímicas americanas instaladas no Golfo do México.

Além disso, o baixo custo do gás natural venezuelano (principal matéria-prima para a fabricação dos produtos planejados) é outro trunfo da Braskem para abrir espaço no exterior. Enquanto, nos Estados Unidos, cobram-se de 6 a 12 dólares por milhão de BTU (unidade de poder calorífico) de gás, na Venezuela, o preço baixa para cerca de 1,5 dólar. "Este projeto é um gol de placa da Braskem. É um megaprojeto em escala mundial. Iniciativas semelhantes só são encontradas no Oriente Médio, sobretudo no Irã", afirma o presidente da companhia, José Carlos Grubisich.

Regionalização

Segundo Grubisich, o Complexo de Jose permitirá uma regionalização do atendimento da Braskem. Enquanto essa planta será voltada para a demanda da Venezuela e da América do Norte, o projeto de um pólo petroquímico na Bolívia serviria para atender ao Mercosul. Por isso, até o momento, a intenção da companhia é desenvolver os dois projetos simultaneamente. "Os dois projetos são complementares", diz o executivo. Grubisich nega que o anúncio desta segunda-feira represente uma freada nos planos da Bolívia, devido às recentes ameaças do novo presidente do país, Evo Morales, de nacionalizar as reservas de gás e outras instalações petroquímicas. "Entendemos que a Bolívia passa por uma transição política, mas o projeto é importante para o Mercosul", afirma.

Além do Complexo de Jose, a Braskem negocia ainda outra parceria com a Pequiven - uma planta de produção de polipropileno, avaliada em 250 milhões de dólares e capaz de gerar 400 000 toneladas por ano do produto. Grubisich garante que o projeto também está em andamento e o modelo de parceria deve ser definido até julho.

Atualmente, a Braskem possui plantas de produção apenas no Brasil - 13, no total. As fábricas na Venezuela e na Bolívia marcariam o início da internacionalização da companhia, com unidades produtivas em outros países - e não apenas escritórios comerciais. No ano passado, 20% da produção de polietileno da companhia foi exportada - o equivalente a 350 000 toneladas. A planta de Jose seria capaz de produzir cerca de 1 milhão de toneladas de polietileno por ano. Mesmo que a Braskem detenha metade do capital do projeto, o volume sob sua responsabilidade já representaria um grande salto nos negócios internacionais da companhia.

O objetivo é que o Complexo de Jose entre em operação no final de 2010 ou início de 2011, mesma época em que começaria a produção na Bolívia.

Financiamento

Nos últimos anos, a Braskem concentrou-se em reduzir seu grau de endividamento. No ano passado, por exemplo, a dívida líquida da companhia baixou 17% em relação a 2004, de 1,457 bilhão de dólares para 1,211 bilhão. Já a relação dívida líquida/ebitda baixou de 1,52 para 1,36. Por isso, parte do mercado vê com preocupação as recentes incursões da companhia em projetos de grande porte, que poderiam comprometer sua saúde financeira graças ao aumento da alavancagem.

O complexo de Jose e a planta de polipropileno de El Tablazo, na Venezuela, representam um investimento total de, pelo menos, 1,87 bilhão de dólares. Já o complexo petroquímico da Bolívia demandaria cerca de 1 bilhão de dólares dos sócios. No Brasil, a empresa acaba de comprar a Politeno, por um valor inicial de 111,3 milhões de dólares, mais um prêmio a ser pago ao final de 18 meses, com base no desempenho financeiro da companhia. Por último, a empresa investe também numa planta de polipropileno no município paulista de Paulínia, em parceria com a Petroquisa, orçada em 240 milhões de dólares.

De acordo com Grubisich, não há motivos para preocupação, pois todos os investimentos são submetidos à aprovação do conselho de administração, que estabeleceu um teto de endividamento para a companhia. Segundo o executivo, ainda as formas de financiamento para o complexo de Jose ainda não foram definidas, mas as alternativas são recursos do próprio caixa dos sócios, além de créditos junto a órgãos multilaterais de fomento e linhas das demais instituições financeiras.

O executivo não descarta, ainda, a elevação do nível de endividamento da Braskem para cumpir os compromissos acertados. "No momento de máximo investimento nos projetos, a relação dívida líquida/ebitda pode chegar a 2,5 ou 3,5 vezes, baixando depois com a entrada em operação dos projetos, o que aumentará a geração de caixa", diz.

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