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A Suécia e o rei dos caças estão de olho na FAB

Em meados de junho, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu a visita do investidor Peter Wallenberg, 76 anos, patriarca do clã mais poderoso no mundo dos negócios da Suécia. A família controla o Investor, empresa que tem 12 bilhões de dólares em participações em empresas diversas. Peter foi presidente do conselho administrativo de 1982 a […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Em meados de junho, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu a visita do investidor Peter Wallenberg, 76 anos, patriarca do clã mais poderoso no mundo dos negócios da Suécia. A família controla o Investor, empresa que tem 12 bilhões de dólares em participações em empresas diversas.

Peter foi presidente do conselho administrativo de 1982 a 1997 e hoje é presidente emérito do conselho. É neto de Marcus Wallenberg (1864-1943), que fundou o Investor em 1916, e tio do atual executivo-chefe, também chamado Marcus Wallenberg.

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Wallenberg veio ao Brasil conversar sobre o avião de combate JAS39, produzido pela Gripen, que é metade da inglesa BAE Systems, metade da sueca Saab na qual o Investor tem 37% dos votos. Junto com o patriarca, foram conversar com Fernando Henrique os executivos Christer Ros, vice-presidente da Gripen do Brasil, e Erik Belfrage, vice-presidente sênior do SEB (Banco Privado da Escandinávia, um dos maiores da Suécia, que tem os Wallenberg entre os principais acionistas).

A decisão da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre qual avião será comprado (há cinco na disputa) não se baseará somente no desempenho do aparelho, mas também em vantagens comerciais que sejam oferecidas pelo vendedor. O caça da Gripen não está em posição vantajosa na disputa da licitação da FAB, mas a conversa com os executivos ilustra muita coisa sobre esse complexo tipo de negociação, seja qual for o avião escolhido. Confira:

EXAME - O que poderia ser produzido no Brasil como resultado de um acordo de compra de caças?

ROS - A exigência do governo brasileiro é que os fornecedores ofereçam 100% do valor do contrato em vantagens comerciais. Nós já aceitamos esse termo. Estamos em discussão contínua sobre quais áreas poderiam ser abordadas. Não é possível dizer quais serão assim, no início das conversações. Oferecemos aos clientes uma série de possibilidades.

BELFRAGE - Nossas companhias vêem esse acordo como o início de um investimento. O caça estará em contínuo desenvolvimento ao longo dos próximos 30 anos e queremos que nossos clientes sejam parceiros nesse desenvolvimento. Na África do Sul, associamo-nos a empresas locais de hardware e software para prosseguir com o desenvolvimento. Gostaríamos de fazer o mesmo no Brasil.

Se você perguntar qual programa, qual peça, qual parafuso (será feito no Brasil), tenho de responder: não faço idéia. Esse não é o ponto principal da discussão. Mas queremos nos associar a empresas brasileiras no desenvolvimento futuro da aeronave.

EXAME - Isso já é um fato? Empresas sul-africanas produzirão equipamento e software para a aeronave?

ROS - Sim, e produzirão para outros clientes. Valerá o mesmo para o Brasil. Nós colocaremos tecnologia aqui e haverá produção para outros clientes, como a Suécia e a África do Sul.

WALLENBERG - O acordo pode ajudar o Brasil a exportar, que é a prioridade do país agora. Vocês nunca foram tão ativos nesse campo como estão sendo neste momento.

EXAME - Qual é o tamanho do contrato com a África do Sul? Quanto de investimento foi definido?

ROS - É um contrato de 28 caças. Temos um cronograma de investimento de 10 anos, definido com o governo sul-africano, que define metas por etapas: tanto de investimento, tanto de exportações, tanto de transferência de tecnologia. É impossível dizer quanto de dinheiro o contrato todo vai movimentar.

WALLENBERG - Há 15 anos, a África do Sul estava isolada. Hoje, eles podem até fazer exigências em investimento e empregos. Um acordo desse tipo tem também conseqüências sobre financiamento externo, que é difícil de obter para países como Brasil e África do Sul.

EXAME - Quando o contrato começa?

ROS - A entrega das aeronaves será feita de 2006 a 2009 e o cronograma de investimentos termina em 2012.

WALLENBERG - Esses prazos são normais nessa indústria. Os caças são muito avançados e exigem conhecimentos muito sofisticados, de ponta, de todo o pessoal envolvido no processo, da equipe de manutenção aos pilotos. Se alguém comete um erro, alguém morre. A cada nova tecnologia desenvolvida, a cada nova tecnologia que é colocada nas mãos dos especialistas locais, é preciso um trabalho para que eles entendam o que aquelas novidades podem fazer. Leva tempo para o cliente. Se eu enviasse todos os caças de uma vez, os clientes possivelmente nem poderiam usá-los. Eles ficariam sentados em volta, olhando para as aeronaves, porque não teriam a infra-estrutura necessária para trabalhar com todas elas.

EXAME - Os pilotos brasileiros estão acostumados a pilotar os F5 Tiger, da Northrop, e os Mirage III, da Dassault-Breguet. Há muita diferença entre pilotar esses aviões e o Gripen?

BELFRAGE - Sim. O Gripen é um caça de quarta geração, o Mirage III é de terceira geração e o Tiger de segunda geração.

WALLENBERG - Que tal falar a ele sobre o desempenho do caça em aterrissagens?

ROS (para Wallenberg) - Temos de ser um tanto rígidos ao falar nisso. Há exigências de sigilo muito fortes da Força Aérea Brasileira, que não nos permitem tratar em público de certas especificações técnicas da aeronave.

EXAME - Quais outras forças aéreas européias usam o Gripen?

ROS - A Força Aérea Sueca, desde 1999. Depois ele foi selecionado em duras concorrências na África do Sul onde enfrentou o Mirage --, na Hungria onde o Mirage e o F16 estavam na disputa -- e na República Checa.

EXAME - Alguma outra das empresas do Investor tem no momento planos de investir mais no Brasil?

A Stora [a sueca Stora, na qual o Investor tem 23% dos votos, fundiu-se com a finlandesa Enso, formando a produtora de papel StoraEnso] tem um programa importante. Estamos associados à Aracruz, para estabelecer uma produção de polpa no Norte [a parceria da Aracruz com a StoraEnso se chama Veracel e avalia a construção de uma fábrica em Eunápolis, BA]. Acredito que será a maior unidade do tipo no mundo, ela produzirá 950 000 toneladas de polpa por ano. Ela será produzida a partir de eucalipto, que começamos a plantar há alguns anos. Dependíamos de portos e estradas que agora estão funcionando.

SOBRE O INVESTOR:

  • O Investor tem gestão profissional desde 1949, mas sócios minoritários ainda consideram a administração familiar, pouco transparente e, em parte, responsável pelos problemas da Ericsson. Um dos minoritários que questiona publicamente a atuação do clã Wallenberg é o investidor suíço Martin Ebner, que tem grandes participações no UBS, no Credit Suisse e na ABB. Para Ebner, o Investor que tem ações negociadas na Bolsa de Estocolmo -- não será uma companhia verdadeiramente aberta enquanto os Wallenberg o controlarem.
  • Uma empresa que hoje fatura 16,5 bilhões de dólares por ano foi comprada com uma única moeda em 1924. Foi por uma coroa sueca (equivalente a 30 centavos de real na cotação do início de julho) que o Investor comprou a endividada estatal Astra. Em 1931, os novos donos começaram a investir em pesquisa e desenvolvimento. Resultado: em 1999, a companhia se fundiu com a britânica Zeneca e formou a AstraZeneca, uma das maiores companhias farmacêuticas do mundo.
  • Nas duas maiores empresas suecas no Brasil (segundo o guia MELHORES E MAIORES de EXAME) Scania e Electrolux, o Investor tem 15% e 24% dos votos, respectivamente. Há participações votantes significativas também em companhias como Ericsson (39%), ABB (5%) e AstraZeneca (5%).
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