Negócios

A receita da Tencent para chegar aos U$ 500 bilhões

A companhia ultrapassou o Facebook em valor de mercado, e tem um modelo de negócios que serve de inspiração para as gigantes do ocidente

TENCENT: a empresa chinesa, listada em Hong Kong desde 2004, chegou ontem a 523 bilhões de dólares (Sean Lee/Getty Images)

TENCENT: a empresa chinesa, listada em Hong Kong desde 2004, chegou ontem a 523 bilhões de dólares (Sean Lee/Getty Images)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 22 de novembro de 2017 às 15h45.

Última atualização em 22 de novembro de 2017 às 15h45.

Jornalistas e analistas ocidentais adoram chamar o empresário chinês Ma Huateng, dono do conglomerado de internet Tencent, de o “Zuckerberg chinês”.

O americano Mark Zuckerberg, como se sabe, é o garoto que criou num dormitório de Harvard a maior rede social do planeta, o Facebook, em 2004. Hoje, aos 33 anos, Zuckerberg é o quinto homem mais rico do mundo, com fortuna de 73 bilhões de dólares, segundo a Forbes, e uma miríade de negócios em internet que incluem o WhatsApp e o Instagram.

Aos 46 anos, Ma Huateng, assim como Zuckerberg, criou seu negócio num dormitório universitário, mas em Shenzhen, em 1999. A empresa começou com a rede social QQ e em 2011 criou o app de mensagens mais popular da China, o WeChat, usado por 960 milhões de pessoas. Assim como o americano, Huateng tem um perfil discreto, e uma ambição sem tamanho.

No ranking das maiores fortunas, Huateng continua atrás de Zuckerberg. Apesar de ter ganho incríveis 22 bilhões de dólares em 2017, ante 17 bilhões a mais para o “concorrente”, Huateng ainda tem só 47 bilhões de dólares em ações. Mas na competição Tencent vs. Facebook, o perseguidor virou o líder nesta terça-feira.

Depois de valorizar 116% em um ano, a Tencent passou em valor de mercado o Facebook, que subiu 49% em 2017. Em cinco anos, a Tencent subiu 740%, ante 546% do Facebook. Na briga dos bilhões, a empresa chinesa, listada em Hong Kong desde 2004, chegou ontem a 523 bilhões de dólares; a americana valia 519 bilhões. Nesta quarta, a posição voltou a se inverter: 525 para o Facebook, 509 para o WeChat.

Caso a Tencent integrasse o índice S&P 500, seria a quinta empresa mais valiosa nele, em valor de mercado, logo abaixo da Amazon. A companhia chinesa, sozinha, vale metade do valor de todas as empresas listadas na bolsa brasileira somadas: elas valiam, nesta quarta-feira, 948 bilhões de dólares.

Como é possível que uma empresa chinesa, com boa parte de seus negócios na China, valha tanto quanto as empresas online mais incensadas do Ocidente? Sob vários aspectos, a ultrapassagem (momentânea) da Tencent mostra que algo está mudando na ordem mundial da internet. “Apesar de ser pouquíssimo conhecida fora da China, a Tencent é o símbolo da internet, da inovação e do empreendedorismo chinês”, diz In Hsieh, presidente da China-Brasil Internet Promotion Agency.

Enquanto o Facebook é uma empresa global com basicamente uma fonte de receitas, a Tencent é uma empresa essencialmente chinesa com uma miríade de negócios. Enquanto o Facebook tem 96% de seu faturamento dependente de anúncios, a fatia da Tencent é de apenas 17% do total.

Como cresceu e se desenvolveu no mercado chinês, ainda muito concentrado em empresas estatais, a empresa buscou outras fontes de receita, caminhando anos à frente das concorrentes ocidentais. “A Tencent foi pioneira entre os grandes aplicativos de negócios em conseguir monetizar o serviço de várias formas. É um modelo para Facebook, Snapchat e muitos outros no ocidente”, disse Martin Garner, analista da empresa de análises CCS Insight, ao jornal Financial Times.

Para os padrões chineses, Huateng é um especialista em marketing num país que acha publicidade uma distração dos negócios. O pinguinzinho símbolo da QQ decora os edifícios da empresa e é vendido até em lojas de brinquedo. Este repórter visitou em maio a sede da empresa, que ocupa praticamente um bairro ao lado da universidade Shenzhen. Agora, a empresa está construindo uma nova sede, num estonteante edifício de 50 andares para 12.000 funcionários.

No lobby de sua sede, um grande mapa do país, projetado numa parede, mostra em tempo real o número de chineses conectados em tempo real a seus aplicativos: 224 milhões era o número durante a visita. A maior parte deles usa o WeChat para fazer de tudo: agendar uma consulta médica, comprar uma passagem aérea, pagar a conta no restaurante, marcar um encontro.

Outro gigantesco negócio da Tencent é o de games online, no qual ocupa a liderança global. A empresa é dona de jogos como King of Glory e League of Legends. Só no último trimestre a empresa faturou 4,23 bilhões de dólares com games, 48% a mais que há 12 meses. Mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo jogam os games da Tencent, todos os dias.

O grande desafio vai ser repetir nos outros negócios o sucesso global com games. A Tencent ainda é uma empresa essencialmente chinesa, com soluções pensadas para o mercado chinês. Um foco de expansão para os negócios de pagamentos são os países do sudeste asiático que recebem turistas chineses. Mas a estratégia é tímida para um gigante de 500 bilhões de dólares.

Investidores e executivos da companhia não parecem muito preocupados. “Ainda há muita coisa a se fazer na China”, disse em maio uma diretora da Tencent.

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