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A princesa destronada

Os bastidores da sucessão no Pão de Açúcar são revelados pela herdeira Ana Maria Diniz, de 41 anos. Neste depoimento a EXAME, ela conta como o clã decidiu entregar o comando do grupo para um executivo profissional, pondo fim à sua aspiração que era ao mesmo tempo um sonho e um desafio -- suceder o […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Os bastidores da sucessão no Pão de Açúcar são revelados pela herdeira Ana Maria Diniz, de 41 anos. Neste depoimento a EXAME, ela conta como o clã decidiu entregar o comando do grupo para um executivo profissional, pondo fim à sua aspiração que era ao mesmo tempo um sonho e um desafio -- suceder o pai, Abilio:

"Em março do ano passado, depois de passar 11 anos muito focada na empresa, fui a Harvard participar de um curso para presidentes e sócios de empresas. Uma das disciplinas -- family business --, com o consultor John Davis, apresentava por meio de cases como o comportamento dos membros das famílias se repete. Dá até para prever o que vai acontecer, de acordo com o perfil da família. Ao retornar, sugeri a meu pai e a meus irmãos que começássemos a discutir qual seria o nosso futuro em relação à companhia. Todos gostaram da idéia de fazer isso com a intermediação de um profissional experiente como o professor Davis, que já havia orientado mais de 20 famílias mundo afora. No início de julho, eu, meu pai, meus irmãos João Paulo e Pedro Paulo passamos três dias com ele num hotel em Miami. Davis sentou-se com cada um de nós durante 1 hora e meia, perguntando qual a nossa relação com a família, com a empresa e quais os problemas que gostaríamos de tratar. Relacionou os assuntos em comum, colocou-os num quadro e começou a discuti-los. Surgiram duas vertentes: perpetuar a empresa ou vendê-la. E chegamos à conclusão de que queríamos perpetuar e continuar controlando a empresa com uma liderança forte. Também foi a primeira vez que ouvi que não queriam que eu fosse a sucessora de meu pai. Inclusive meu pai. Eu já pressentia um pouco que isso estava na cabeça deles, mas nunca havia sido dito claramente. Lógico que levei um baita susto. No passado, em conversas com meu pai falamos várias vezes que eu seria sua sucessora, por mais ônus que isso pudesse trazer para minha vida familiar. A conversa, em Miami, evoluiu: qual seria a melhor liderança do Pão de Açúcar no momento em que Abilio tivesse de afastar-se? Acabei me convencendo de que deveríamos ter um profissional liderando a empresa enquanto todos estavam com saúde, com o fundador vivo. Engraçado que a gente planejou fazer tudo isso em dez anos. Só que, em agosto, ao retornarmos de Miami, meu pai já estava querendo fazer a transição. Ele falava muito em dividir a responsabilidade. Colocamos a meta para o fim de 2002 e começamos a imaginar quem, dentro do grupo, teria condições de assumir. Só havia uma pessoa, o Augusto Cruz, que tinha um contra e muitos prós. O contra: não era um cara que veio da operação das lojas, passou pela área comercial e assumiu como CEO. Veio de uma função fundamental na área administrativo-financeira, mas de staff. Os prós eram: ultra-respeitado, pessoa de fácil trato, com trânsito com todo mundo e opiniões próprias. É um conciliador, que gosta de ser um facilitador. E essas características são muito importantes ao se passar o controle de um fundador com o perfil de meu pai, com muito peso e forte carisma".

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Os bastidores da sucessão no Pão de Açúcar são revelados pela herdeira Ana Maria Diniz, de 41 anos. Neste depoimento a EXAME, ela conta como o clã decidiu entregar o comando do grupo para um executivo profissional, pondo fim à sua aspiração que era ao mesmo tempo um sonho e um desafio -- suceder o pai, Abilio:

"Em março do ano passado, depois de passar 11 anos muito focada na empresa, fui a Harvard participar de um curso para presidentes e sócios de empresas. Uma das disciplinas -- family business --, com o consultor John Davis, apresentava por meio de cases como o comportamento dos membros das famílias se repete. Dá até para prever o que vai acontecer, de acordo com o perfil da família. Ao retornar, sugeri a meu pai e a meus irmãos que começássemos a discutir qual seria o nosso futuro em relação à companhia. Todos gostaram da idéia de fazer isso com a intermediação de um profissional experiente como o professor Davis, que já havia orientado mais de 20 famílias mundo afora. No início de julho, eu, meu pai, meus irmãos João Paulo e Pedro Paulo passamos três dias com ele num hotel em Miami. Davis sentou-se com cada um de nós durante 1 hora e meia, perguntando qual a nossa relação com a família, com a empresa e quais os problemas que gostaríamos de tratar. Relacionou os assuntos em comum, colocou-os num quadro e começou a discuti-los. Surgiram duas vertentes: perpetuar a empresa ou vendê-la. E chegamos à conclusão de que queríamos perpetuar e continuar controlando a empresa com uma liderança forte. Também foi a primeira vez que ouvi que não queriam que eu fosse a sucessora de meu pai. Inclusive meu pai. Eu já pressentia um pouco que isso estava na cabeça deles, mas nunca havia sido dito claramente. Lógico que levei um baita susto. No passado, em conversas com meu pai falamos várias vezes que eu seria sua sucessora, por mais ônus que isso pudesse trazer para minha vida familiar. A conversa, em Miami, evoluiu: qual seria a melhor liderança do Pão de Açúcar no momento em que Abilio tivesse de afastar-se? Acabei me convencendo de que deveríamos ter um profissional liderando a empresa enquanto todos estavam com saúde, com o fundador vivo. Engraçado que a gente planejou fazer tudo isso em dez anos. Só que, em agosto, ao retornarmos de Miami, meu pai já estava querendo fazer a transição. Ele falava muito em dividir a responsabilidade. Colocamos a meta para o fim de 2002 e começamos a imaginar quem, dentro do grupo, teria condições de assumir. Só havia uma pessoa, o Augusto Cruz, que tinha um contra e muitos prós. O contra: não era um cara que veio da operação das lojas, passou pela área comercial e assumiu como CEO. Veio de uma função fundamental na área administrativo-financeira, mas de staff. Os prós eram: ultra-respeitado, pessoa de fácil trato, com trânsito com todo mundo e opiniões próprias. É um conciliador, que gosta de ser um facilitador. E essas características são muito importantes ao se passar o controle de um fundador com o perfil de meu pai, com muito peso e forte carisma".

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