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Viúvas da guerra erguem bairro com suas mãos no Afeganistão

Situado a 14 quilômetros do centro da capital afegã, o bairro só pode só pode ser acessado a pé e após uma íngreme subida

Afeganistão: Assim como as outras casas do bairro, a de Nazoko dispõe agora de água corrente e luz elétrica, mas ainda sim é muito modesta (Joel Saget/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de julho de 2012 às 21h35.

Cabul - No leste de Cabul, um conjunto de casas humildes, construídas com barro e pedras, se destacam no topo de uma colina: é o bairro das viúvas de guerra, que erguem suas moradias com suas próprias mãos.

Situado a 14 quilômetros do centro da capital afegã, o bairro só pode só pode ser acessado a pé e após uma íngreme subida, entre aparatos bélicos abandonados e maquinárias do Exército.

Ao chegar no bairro, as casas como a de Nazoko, construída por ela mesma, começam a se destacar por toda sua precariedade. ''Não podia ter portas nos quartos e no pátio e, por isso, é muito duro viver aqui durante o inverno'', explica a mulher de 60 anos, que aparece coberta por um lenço.

Assim como as outras casas do bairro, a de Nazoko dispõe agora de água corrente e luz elétrica, mas ainda sim é muito modesta.

A residência, que se encontra no extremo da colina, tem um corredor e um quarto, sem portas e nem colchões. Um tapete doado por um vizinho aparece como o único elemento decorativo.

A história desta mulher reflete o drama vivido por milhões de pessoas nas últimas três décadas no Afeganistão , um país assolado pela violência e pela guerra, e onde o Estado é ainda incapaz de proporcionar algum bem-estar aos seus cidadãos.

''Durante a guerra civil, meu marido e meu filho mais velho morreram, e os ''hazara'' (uma das etnias do país) roubaram minhas propriedades. Portanto, eu tive que emigrar ao norte'', conta a mulher, que possui três filhas, já casadas, e outros dois filhos, ambos traumatizados por conta das agressões sofridas por um grupo de pistoleiros.


No ano de 2006, Nakoto voltou a Cabul já ''sem esperança'' e passou a morar em uma barraca com seus dois filhos. A família permaneceu acampada até decidir construir uma casa neste bairro conhecido como ''Zanabad'', ou seja, casas feitas por mulheres.

''Trabalhei durante três meses para construir este quarto e este corredor'', comenta a mulher enquanto mostra sua casa.

As mulheres que se encorajam a construir suas casas têm que se sobrepor, primeiro, ao seu desconhecimento técnico, mas também à pobreza, a falta de materiais de construção e de água, que costumam chegar ao local em cima dos lombos dos burros.

A maioria dos homens do bairro trabalha como pedreiros e empurram carrinhos de mãos, enquanto as crianças ganham a vida vendendo chicletes, jornais ou lavando carros nos estacionamentos dos fazendeiros.

''Não tinha dinheiro e construí essa casa sozinha, embora meus vizinhos tenham me ajudado. Eles alimentaram meus filhos enquanto eu trabalhava'', assegura Nazoko.

O início do desdobramento militar internacional, em 2001, levou consigo um fluxo investidor de bilhões de dólares, mas a maioria da população segue imersa na pobreza. Alguns setores, como as viúvas, ainda são reduzidos à discriminação.

Nazoko trabalhou até 2006 em um posto de controle policial, onde se dedicava ao registro das mulheres. Desde sua saída, a mulher não conta com ajudas governamentais e só recebe um saco de farinha procedente do Programa Mundial de Alimentos (WFP).


Com os olhos cheios de lágrimas, Nazoko não se envergonha ao dizer que sua alimentação diária se baseia na mistura de pão com chá, sendo que até o açúcar costuma faltar. Além da falta de alimento, a viúva ainda sofre não possui qualquer tratamento médico e vive se queixando de dores nos ossos.

As viúvas de Zanabad, que já pediram em diversas ocasiões uma equipe de apoio ao Ministério da Mulher, continuam lutando com suas próprias mãos para suprir suas necessidades.

''Eu queria apenas que o Governo instalasse uma porta em nossa casa, já que passamos muito frio aqui durante o inverno'', conta Nazoko ao lado de seu filho Khan Mohammad, de 30 anos.

Existem aproximadamente mil viúvas vivendo com suas famílias em Zanabad, todas sem acesso aos serviços médicos e à escola. Segundo Alá Gül, encarregado administrativo do lugar, o pior é no inverno, quando o bairro fica praticamente incomunicável devido à má qualidade dos acessos.

Pelo menos, suspira Nazoko, eu ainda tenho a satisfação de ter ''uma casa própria''.

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Situado a 14 quilômetros do centro da capital afegã, o bairro só pode só pode ser acessado a pé e após uma íngreme subida, entre aparatos bélicos abandonados e maquinárias do Exército.

Ao chegar no bairro, as casas como a de Nazoko, construída por ela mesma, começam a se destacar por toda sua precariedade. ''Não podia ter portas nos quartos e no pátio e, por isso, é muito duro viver aqui durante o inverno'', explica a mulher de 60 anos, que aparece coberta por um lenço.

Assim como as outras casas do bairro, a de Nazoko dispõe agora de água corrente e luz elétrica, mas ainda sim é muito modesta.

A residência, que se encontra no extremo da colina, tem um corredor e um quarto, sem portas e nem colchões. Um tapete doado por um vizinho aparece como o único elemento decorativo.

A história desta mulher reflete o drama vivido por milhões de pessoas nas últimas três décadas no Afeganistão , um país assolado pela violência e pela guerra, e onde o Estado é ainda incapaz de proporcionar algum bem-estar aos seus cidadãos.

''Durante a guerra civil, meu marido e meu filho mais velho morreram, e os ''hazara'' (uma das etnias do país) roubaram minhas propriedades. Portanto, eu tive que emigrar ao norte'', conta a mulher, que possui três filhas, já casadas, e outros dois filhos, ambos traumatizados por conta das agressões sofridas por um grupo de pistoleiros.


No ano de 2006, Nakoto voltou a Cabul já ''sem esperança'' e passou a morar em uma barraca com seus dois filhos. A família permaneceu acampada até decidir construir uma casa neste bairro conhecido como ''Zanabad'', ou seja, casas feitas por mulheres.

''Trabalhei durante três meses para construir este quarto e este corredor'', comenta a mulher enquanto mostra sua casa.

As mulheres que se encorajam a construir suas casas têm que se sobrepor, primeiro, ao seu desconhecimento técnico, mas também à pobreza, a falta de materiais de construção e de água, que costumam chegar ao local em cima dos lombos dos burros.

A maioria dos homens do bairro trabalha como pedreiros e empurram carrinhos de mãos, enquanto as crianças ganham a vida vendendo chicletes, jornais ou lavando carros nos estacionamentos dos fazendeiros.

''Não tinha dinheiro e construí essa casa sozinha, embora meus vizinhos tenham me ajudado. Eles alimentaram meus filhos enquanto eu trabalhava'', assegura Nazoko.

O início do desdobramento militar internacional, em 2001, levou consigo um fluxo investidor de bilhões de dólares, mas a maioria da população segue imersa na pobreza. Alguns setores, como as viúvas, ainda são reduzidos à discriminação.

Nazoko trabalhou até 2006 em um posto de controle policial, onde se dedicava ao registro das mulheres. Desde sua saída, a mulher não conta com ajudas governamentais e só recebe um saco de farinha procedente do Programa Mundial de Alimentos (WFP).


Com os olhos cheios de lágrimas, Nazoko não se envergonha ao dizer que sua alimentação diária se baseia na mistura de pão com chá, sendo que até o açúcar costuma faltar. Além da falta de alimento, a viúva ainda sofre não possui qualquer tratamento médico e vive se queixando de dores nos ossos.

As viúvas de Zanabad, que já pediram em diversas ocasiões uma equipe de apoio ao Ministério da Mulher, continuam lutando com suas próprias mãos para suprir suas necessidades.

''Eu queria apenas que o Governo instalasse uma porta em nossa casa, já que passamos muito frio aqui durante o inverno'', conta Nazoko ao lado de seu filho Khan Mohammad, de 30 anos.

Existem aproximadamente mil viúvas vivendo com suas famílias em Zanabad, todas sem acesso aos serviços médicos e à escola. Segundo Alá Gül, encarregado administrativo do lugar, o pior é no inverno, quando o bairro fica praticamente incomunicável devido à má qualidade dos acessos.

Pelo menos, suspira Nazoko, eu ainda tenho a satisfação de ter ''uma casa própria''.

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