Exame Logo

Venezuela tem política externa errática, dizem analistas

Assim como o falecido líder Hugo Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro manteve uma linha segundo a qual sempre existe a figura de um inimigo a confrontar

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acena para apoiadores: em fevereiro, Maduro expulsou diplomatas americanos e criticou duramente o presidente Barack Obama (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de março de 2014 às 20h27.

Em menos de um mês, o governo venezuelano anunciou a ruptura das relações com o Panamá, a expulsão de três funcionários americanos por ingerência e responsabilizou o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe pela crise no país, em uma política externa considerada "errática" pelos analistas.

"A política externa é a continuação da interna em qualquer Estado (...) Se temos um país absolutamente convulsionado no político, no econômico, inclusive no militar, a política externa não pode aparecer como algo coerente", afirmou a analista e professora da Universidade Central da Venezuela (UCV) Giovanna De Michele.

Assim como o falecido líder Hugo Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro manteve uma linha segundo a qual sempre existe a figura de um inimigo a confrontar e que se acentuou desde o início dos protestos estudantis.

O governo responsabilizou os empresários venezuelanos pela inflação de 56% ao ano e pela escassez de um em cada quatro produtos das prateleiras dos supermercados.

A "burguesia parasitária", os "fascistas violentos", o "império", a "imprensa internacional": os inimigos parecem abundantes.

O último deles apareceu na quarta-feira, quando Maduro rompeu relações diplomáticas com o governo do Panamá, depois de chamá-lo de "lacaio" e acusá-lo de facilitar uma intervenção estrangeira por intermédio da Organização dos Estados Americanos (OEA).


A culpa do Panamá

A ruptura de relações com o Panamá ocorre não apenas em meio aos protestos estudantis, mas durante os atos comemorativos do primeiro aniversário do falecido líder Hugo Chávez, que ficou em segundo plano, e na presença dos presidentes cubano, Raúl Castro, boliviano, Evo Morales, e do nicaraguense, Daniel Ortega.

O internacionalista Adolfo Salgueiro faz duas leituras desse anúncio. A primeira é que "Maduro monta um grande show para desviar a atenção das manifestações estudantis", pensando nos chefes de Estado. A segunda é que, ao suspender as relações econômicas com o Panamá, "corre o adiamento de uma dívida de US$ 1,2 bilhão que deve cancelar dos empresários panamenhos pelas importações da Zona Livre de Colón".

Foi apenas em julho de 2013, em Caracas, que o presidente Maduro e o panamenho, Ricardo Martinelli, apertaram suas mãos, ao acertar uma "dinamização" de suas relações diplomáticas e comerciais.

"Para os venezuelanos, essa decisão gera uma grandíssima incerteza. Se não houver relações comerciais, por onde vão entrar os produtos que tradicionalmente entravam pelo Canal do Panamá, ou a Zona Franca de Colón e que se consomem no país? Ficamos em um limbo", avaliou De Michele.

A zona franca panamenha, situada no Colón, no litoral atlântico (norte), é considerada a maior da América Latina e se estima que contribua para 8% do Produto Interno Bruto (PIB)do Panamá. Em 2012, o Panamá exportou US$ 15 bilhões, 20% deles para a Venezuela, seu principal mercado.

Para a catedrática da UCV, no contexto internacional, as consequências dessa estratégia de ter um inimigo permanente serão que "ninguém investirá em um país, onde seus investidores possam depender do humor político de um momento determinado".

Já Salgueiro lembra que "quando foi derrocado o presidente (Manuel) Zelaya em Honduras, a Venezuela pediu à OEA que contribuísse, como qualquer Estado-membro pode solicitar".

"Isso demonstra a inconsistência na política externa venezuelana", declarou, referindo-se à recente rejeição de Maduro a uma visita da OEA ao país.


O mal sócio

Com os Estados Unidos, principal comprador do petróleo venezuelano, as tensões no plano diplomático foram permanentes, e nenhum dos dois governos têm embaixadores nas respectivas capitais desde 2010.

Em fevereiro, Maduro expulsou diplomatas americanos, criticou duramente o presidente Barack Obama e, depois, ofereceu reinstalar embaixadores e iniciar um "diálogo de nível".

"Essa volatilidade que a política externa venezuelana demonstrou não apenas com o Panamá, mas com países como Colômbia, ou Estados Unidos, coloca a Venezuela em uma situação de franca desvantagem, e não faz de nós, definitivamente, um sócio confiável. Não somos um parceiro confiável nas relações internacionais", afirma De Michele.

Para a internacionalista, os movimentos diplomáticos do governo venezuelano "já não têm a ver com a afinidade com determinados governos".

Veja também

Em menos de um mês, o governo venezuelano anunciou a ruptura das relações com o Panamá, a expulsão de três funcionários americanos por ingerência e responsabilizou o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe pela crise no país, em uma política externa considerada "errática" pelos analistas.

"A política externa é a continuação da interna em qualquer Estado (...) Se temos um país absolutamente convulsionado no político, no econômico, inclusive no militar, a política externa não pode aparecer como algo coerente", afirmou a analista e professora da Universidade Central da Venezuela (UCV) Giovanna De Michele.

Assim como o falecido líder Hugo Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro manteve uma linha segundo a qual sempre existe a figura de um inimigo a confrontar e que se acentuou desde o início dos protestos estudantis.

O governo responsabilizou os empresários venezuelanos pela inflação de 56% ao ano e pela escassez de um em cada quatro produtos das prateleiras dos supermercados.

A "burguesia parasitária", os "fascistas violentos", o "império", a "imprensa internacional": os inimigos parecem abundantes.

O último deles apareceu na quarta-feira, quando Maduro rompeu relações diplomáticas com o governo do Panamá, depois de chamá-lo de "lacaio" e acusá-lo de facilitar uma intervenção estrangeira por intermédio da Organização dos Estados Americanos (OEA).


A culpa do Panamá

A ruptura de relações com o Panamá ocorre não apenas em meio aos protestos estudantis, mas durante os atos comemorativos do primeiro aniversário do falecido líder Hugo Chávez, que ficou em segundo plano, e na presença dos presidentes cubano, Raúl Castro, boliviano, Evo Morales, e do nicaraguense, Daniel Ortega.

O internacionalista Adolfo Salgueiro faz duas leituras desse anúncio. A primeira é que "Maduro monta um grande show para desviar a atenção das manifestações estudantis", pensando nos chefes de Estado. A segunda é que, ao suspender as relações econômicas com o Panamá, "corre o adiamento de uma dívida de US$ 1,2 bilhão que deve cancelar dos empresários panamenhos pelas importações da Zona Livre de Colón".

Foi apenas em julho de 2013, em Caracas, que o presidente Maduro e o panamenho, Ricardo Martinelli, apertaram suas mãos, ao acertar uma "dinamização" de suas relações diplomáticas e comerciais.

"Para os venezuelanos, essa decisão gera uma grandíssima incerteza. Se não houver relações comerciais, por onde vão entrar os produtos que tradicionalmente entravam pelo Canal do Panamá, ou a Zona Franca de Colón e que se consomem no país? Ficamos em um limbo", avaliou De Michele.

A zona franca panamenha, situada no Colón, no litoral atlântico (norte), é considerada a maior da América Latina e se estima que contribua para 8% do Produto Interno Bruto (PIB)do Panamá. Em 2012, o Panamá exportou US$ 15 bilhões, 20% deles para a Venezuela, seu principal mercado.

Para a catedrática da UCV, no contexto internacional, as consequências dessa estratégia de ter um inimigo permanente serão que "ninguém investirá em um país, onde seus investidores possam depender do humor político de um momento determinado".

Já Salgueiro lembra que "quando foi derrocado o presidente (Manuel) Zelaya em Honduras, a Venezuela pediu à OEA que contribuísse, como qualquer Estado-membro pode solicitar".

"Isso demonstra a inconsistência na política externa venezuelana", declarou, referindo-se à recente rejeição de Maduro a uma visita da OEA ao país.


O mal sócio

Com os Estados Unidos, principal comprador do petróleo venezuelano, as tensões no plano diplomático foram permanentes, e nenhum dos dois governos têm embaixadores nas respectivas capitais desde 2010.

Em fevereiro, Maduro expulsou diplomatas americanos, criticou duramente o presidente Barack Obama e, depois, ofereceu reinstalar embaixadores e iniciar um "diálogo de nível".

"Essa volatilidade que a política externa venezuelana demonstrou não apenas com o Panamá, mas com países como Colômbia, ou Estados Unidos, coloca a Venezuela em uma situação de franca desvantagem, e não faz de nós, definitivamente, um sócio confiável. Não somos um parceiro confiável nas relações internacionais", afirma De Michele.

Para a internacionalista, os movimentos diplomáticos do governo venezuelano "já não têm a ver com a afinidade com determinados governos".

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDiplomaciaPolíticaVenezuela

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame