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Vaticano se prepara para julgar ex-núncio por pedofilia

O Vaticano se preparava para julgar, pela primeira vez, um ex-prelado acusado de pedofilia, o polonês Josef Wesolowski

Praça de São Pedro, no Vaticano: polonês foi colocado sob prisão domiciliar (Vincenzo Pinto/AFP)
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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2014 às 13h37.

Cidade do Vaticano - O Vaticano se preparava para julgar, pela primeira vez, um ex-prelado acusado de pedofilia, o polonês Josef Wesolowski, uma ação realizada a pedido do papa Francisco para marcar o fim do silêncio da Igreja ante esta delicada questão.

Já condenado em junho por um tribunal eclesiástico, Wesolowski foi convocado para uma audiência preliminar que deu início a um processo penal, e foi colocado sob prisão domiciliar.

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"Provavelmente haverá um julgamento", confirmou nesta quarta-feira o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, que não se pronunciou sobre um calendário para o processo. Se Josef Wesolowski for condenado poderá, então, ser aprisionado dentro dos muros do Vaticano.

O único julgamento ocorrido recentemente no Vaticano foi o do ex-mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, preso no Vaticano por vários meses e condenado no final de 2012 por ter vazado documentos confidenciais à imprensa italiana. Meses depois recebeu o perdão papal.

No entanto, nenhum prelado respondeu a crimes na história recente da Santa Sé.

"Este é um marco por sua força, o seu poder e também a sua dimensão simbólica (...) A escolha de Francisco é clara: no Estado em que é soberano e pontífice, não há lugar para clérigos e leigos suspeitos de terem cometido abusos sexuais, e muito menos contra menores de idade", considerou no jornal La Stampa o constitucionalista Francesco Clementi.

Aos 66 anos, Jozef Wesolowski foi ordenado em 1972 pelo arcebispo de Cracóvia, o então cardeal Karol Wojtyla, futuro papa João Paulo II, que o ordenou bispo em 2000.

Nomeado núncio apostólico na Bolívia e em vários países da Ásia, chegou em 2008 na República Dominicana. Em 2013, a imprensa local acusou-o de ter tido relações sexuais com menores. A justiça dominicana garantiu ter identificado pelo menos quatro vítimas com idades entre 12 e 17 anos.

Mas o prelado foi chamado em caráter de emergência em agosto de 2013 ao Vaticano, que também se recusou a extraditá-lo para a Polônia.

Consciência da Igreja

Esta decisão chocou a todos, inclusive membros da Igreja, que exigiam julgamento e sanções rápidas a estes crimes. A ONU citou várias vezes o seu caso como um símbolo da opacidade das práticas do Vaticano.

O prelado, de fato, foi primeiramente levado perante um tribunal eclesiástico, cujos processos não são públicos, e condenado em junho a um redução ao estado laical. Ele apelou.

Um processo criminal foi finalmente lançado, "de acordo com a vontade expressa do papa, para que um caso tão grave e delicado seja tratado rapidamente com o rigor justo e necessário", segundo as palavras do padre Lombardi.

Ao receber no início de julho vítimas de padres pedófilos, Francisco assegurou que a dor das vítimas pesava "na consciência da Igreja" e "pediu perdão" pela cumplicidade ou a indiferença de uma parte da hierarquia.

"Não há espaço na Igreja para aqueles que cometem tais abusos", insistiu.

De acordo com o novo código penal do Vaticano promulgado em julho de 2013, a violência sexual contra menores é punível com 12 anos de prisão e 150.000 euros de multa, e a pena pode aumentar se a vítima for menor de 14 anos.

Desde os anos 1990, a revelação de dezenas de milhares de casos de padres pedófilos em países ocidentais, muitos deles datando dos anos 1960 e 1970, desacreditou o Vaticano e a Igreja Católica, acusados de proteger os agressores por medo de escândalo sem levar em conta as crianças.

O pontificado de Bento XVI, no entanto, marcou o início da mudança do posicionamento da Igreja. Em maio, o núncio para as Nações Unidas, o arcebispo Silvano Tomasi, anunciou que em seis anos os tribunais eclesiásticos ordenou 848 sacerdotes e 2.572 outras pessoas a levar "uma vida de oração e penitência" por incidentes que ocorreram até a década de 1950.

Mas grupos de vítimas se queixam de que os processos permanecem secretos, e que a colaboração com as autoridades civis em vista de processos criminais ainda não é obrigatória.

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