Uma convenção nada convencional
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Os 400 dias mais improváveis da história política americana chegam ao fim nesta segunda-feira. Os próximos 114, até a eleição de 8 de novembro, serão cheios de emoções, é claro. Mas hoje começa a convenção que confirmará o empresário Donald Trump como candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo […]
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2016 às 10h48.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h55.
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York
Os 400 dias mais improváveis da história política americana chegam ao fim nesta segunda-feira. Os próximos 114, até a eleição de 8 de novembro, serão cheios de emoções, é claro. Mas hoje começa a convenção que confirmará o empresário Donald Trump como candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. Trump anunciou sua candidatura em 15 de junho do ano passado. O discurso foi encarado como mais um golpe de mídia do empresário e apresentador do reality show que ficou famoso no país inteiro demitindo candidatos a aprendizes.
Ele já falava em se candidatar a presidente desde os anos 1980, e ameaçou concorrer na última eleição, em 2012. Mas nem o mais otimista de seus apoiadores – e talvez nem sequer o próprio Trump – tinha ideia do furacão político que começava a se formar naquela manhã de junho, num salão de piso de mármore e espelhos folheados a ouro no coração de Manhattan. Nos próximos dias, o mundo verá a apoteose do espetáculo da candidatura de Donald J. Trump – e da potencial destruição do atual Partido Republicano.
Com raras exceções, as convenções dos partidos americanos costumam ser eventos mais teatrais que propriamente políticos. O resultado da votação dos delegados – escolhidos no processo das primárias – já é conhecido de antemão, e republicanos e democratas aproveitam a oportunidade para dar destaque aos temas que serão debatidos na eleição geral, além de colocar sob os holofotes nomes promissores para o futuro – foi na convenção democrata de 2004 que os muitos americanos ouviram pela primeira vez um discurso do então senador Barack Hussein Obama.
Mas o que vai acontecer entre segunda e quinta-feira na Quicken Loans Arena, em Cleveland, Meio-Oeste do país, promete ser um pouco diferente. A ameaça de tapetão foi afastada. A facção republicana que tentou alterar as regras da convenção para liberar os delegados para mudar seus votos foi derrotada, e a indicação de Trump já não corre mais riscos. Mas o espetáculo que vai se desenrolar na arena, ginásio esportivo mais conhecido por ser a casa de LeBron James e dos Cleveland Cavaliers, recém-coroados campeões da NBA, promete outro tipo de surpresa. Celebridades, artistas e esportistas vão dividir o palco com políticos. A Convenção Nacional Republicana deve ser tudo, menos convencional.
O tema geral do evento será Make America Great Again (algo como: fazer dos Estados Unidos de novo um país excelente, ou magnífico, grande, importante), e os assuntos principais serão os mesmos abordados por Trump até aqui: segurança nacional, imigração, comércio internacional e empregos. Mas entre os “oradores não-convencionais”, segundo o próprio partido, estarão personalidade que têm experiência “no mundo real”.
Entre elas estão a ex-astronauta Eileen Collins, primeira mulher a comandar uma missão de ônibus espacial; Antonio Sabato Jr., ex-modelo de roupas íntimas da Calvin Klein e estrela de reality shows; e Mark Geist e John Tiegen, sobreviventes do ataque contra uma representação diplomática americana em Benghazi (Líbia) — um dos calcanhares de aquiles da democrata Hillary Clinton. Também estão previstos discursos de Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (o UFC), e a golfista Natalie Gulbis. Até mesmo o nome de Tim Tebow, jogador de futebol americano que ficou famoso por ajoelhar e agradecer a Deus depois de bons lances, foi aventado, mas o próprio negou via Facebook que vá falar aos republicanos.
A lista dos ausentes também chama a atenção, especialmente por contar com nomes de peso do establishment republicano. Mitt Romney, derrotado por Obama em 2012, não vai dar as caras. John McCain, que perdeu a eleição anterior para Obama, é outro que vai passar longe da festa organizada para Trump – se bem que o senador tem um bom motivo: no ano passado, Trump criticou o histórico de guerra de McCain, que passou cinco anos e meio como refém dos vietcongs. Estrelas ascendentes que poderiam reforçar a diversidade do partido, como a governadora Susana Martinez, do Novo México, também não subirão ao palco. Afastar a imagem de um clube elitista de homens brancos não parece a prioridade dos responsáveis pela agenda.
Não poderia ser diferente: o show é de Donald Trump. No sábado, na apresentação oficial do vice de sua chapa, Mike Pence, Trump tomou a palavra e falou durante quase meia hora – de improviso, basicamente sobre si mesmo e suas propostas. Quando finalmente chamou Pence para o microfone, Trump deixou seu candidato a vice sozinho no palco.
A convenção termina na quinta-feira, quando Trump sobe ao palco para fazer o tradicional discurso aceitando a indicação como candidato republicano à Presidência. Os canhões vão lançar confete no ar e os balões vermelhos, azuis e brancos vão cair do teto. Começa a segunda parte do show de Donald Trump.