Um mês após a queda de Bashir, Sudão está longe de um governo civil
Os militares foram responsáveis pela queda do presidente e instalam um governo transitório muito criticado pelos manifestantes
AFP
Publicado em 11 de maio de 2019 às 14h36.
Um mês depois da destituição do presidente sudanês Omar Al Bashir, os comandantes do exército não parecem dispostos a transferir o poder a uma administração civil e as negociações com os representantes dos protestos estão paralisadas.
Apesar das altas temperaturas, que superam 40 graus, e do início do jejum do Ramadã, milhares de manifestantes permanecem reunidos diante da sede do exército em Cartum, obstinados a conseguir um regime civil.
Eles querem forçar os generais do Conselho Militar de Transição a deixar o poder, como aconteceu com o ex-presidente há exatamente um mês, depois de passar quase 30 anos no poder.
"Ou conseguimos o poder civil que queremos ou permaneceremos aqui para sempre", declarou Iman Hussein, um dos manifestantes, que permanecem desde 6 de abril diante do quartel-general.
Neste sábado, os líderes do protesto reunidos na Aliança para a Liberdade e a Mudança (ALC) indicaram em um comunicado que receberam um convite do exército para retomar as negociações.
A ALC se declarou disposta a participar, mas não revelou a data proposta para o retorno do diálogo. O exército não fez nenhuma declaração a respeito.
Após quase quatro meses de protestos em todo o país, que tiveram como origem o aumento do preço do pão, os manifestantes seguiram em direção ao complexo militar para pedir o apoio dos generais com o objetivo de acabar com o regime de Omar Al Bashir.
No dia 11 de abril, o exército obrigou chefe de Estado a deixar o poder.
Desde então, no entanto, a cúpula militar que assumiu o controle do país se nega a transferir o controle para uma autoridade civil, embora afirme que não utilizará a força para dispersar o protesto.
As concessões feitas aos manifestantes não ajudaram a reduzir as críticas.
As negociações para transferir o poder aos civis por um período de quatro anos, como desejam os manifestantes, estão bloqueadas.
As duas partes divergem sobre a composição do órgão que substituiria o Conselho Militar de 10 membros, já que um lado deseja que os generais continuem como a maioria e outro exige que sejam os civis.
"Eles nos pressionam com o tempo, mas nós os pressionamos permanecendo aqui", afirma Iman Hussein.
"Alguém tem que vencer e no final seremos nós", disse.
No mês passado, a ALC, que lidera o movimento de protestos, enviou aos generais suas propostas sobre a autoridade civil.
Os generais responderam com "muitas reservas" e criticaram a ALC por ter omitido a menção de que a sharia (lei islâmica) deve continuar sendo a base da legislação.
Os generais também estão no alvo dos Estados Unidos e da União Africana, que pedem uma transferência progressiva do poder.
Na quarta-feira, o número dois do Departamento de Estado americano, John Sullivan, conversou por telefone com o general Abdel Fatah Al Burhan, líder do Conselho Militar de Transição, e pediu que siga "rapidamente para um governo interino dirigido por civis" e alcançar um acordo com os líderes dos protestos, reunidos na ALC.
Apesar do processo estagnado, alguns manifestantes mantêm a esperança.
Os militares vão transferir o poder se os líderes dos protestos apresentarem "uma forma de governo civil confiável e viável" a longo prazo, afirmou Sadek al-Mahdi, líder do principal partido da oposição.