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UE e Mercosul relançam negociações para acordo

Cristina Kirchner, presidente da Argentina, apontou os subsídios agrícolas europeus como um entrave para a associação

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Madri - A União Europeia e o Mercosul anunciaram nesta segunda-feira, em Madri, que retomarão as negociações para um acordo de livre comércio, suspensas desde 2004, apesar dos subsídios agrícolas europeus ameaçarem o seu êxito, manifestou a presidente argentina, Cristina Kirchner.

"Decidimos retomar as negociações para chegarmos a um Acordo de Associação que seja ambicioso e equilibrado" com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), declarou o chefe de governo espanhol e presidente rotativo da UE, José Luis Rodríguez Zapatero, após uma cúpula entre ambos os blocos.

Se for concluído com sucesso, o acordo de livre comércio será o "mais importante" dos que a UE assinou, ao supor lucros estimados de 5 bilhões de euros (6,1 bilhões de dólares) em exportações para cada região, expressou o presidente.

Se trata de construir "uma verdadeira associação", para que Europa e o Mercosul "deixem de se verem como clientes para se verem como sócios", afirmou Kirchner em uma coletiva de imprensa, informando que a primeira rodada das negociações ocorrerá no início de julho.

A decisão de retomar essas negociações, suspensas por estarem submetidas à Rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial, em ponto morto na Organização Mundial do Comércio (OMC), foi adiantada no início do mês pela Comissão Europeia, para desgosto da França.


Paris e outras nove capitais europeias protestaram contra essa ação ao estimar que se trata de um "sinal muito ruim para a agricultura europeia".

"Todos sabemos que a razão" pela qual esses países rejeitam essa decisão é porque "temem" pelos subsídios agrícolas europeus, disse a presidente Kirchner.

"Devemos abordar o conceito de protecionismo em toda a sua extensão, alguns acreditam que se encontra nas entradas dos portos", mas também é "subsidiar as produções", disse Kirchner, abrindo o primeiro ponto de conflito entre a UE e o Mercosul nas negociações.

A França é o principal país beneficiário da Polícia Agrícola Comum (PAC), através da qual no ano passado recebeu 11 bilhões de euros (13,5 bilhões de dólares) em subsídios para seus agricultores.

"O grande inconveniente" nas negociações lançadas em 1999 "nunca veio do Mercosul" e prova disso é a reticência mostrada pelos dez países europeus, disse Kirchner.

Esse grupo, integrado além da França pela Irlanda, Grécia, Hungria, Áustria, Luxemburgo, Polônia, Finlândia, Romênia e Chipre, não tem capacidade para bloquear as negociações, cuja liderança está nas mãos da Comissão Europeia, mas poderá vetar no futuro a adoção do TLC.

A iniciativa "não é razoável", em um momento em que os agricultores europeus "atravessam uma das crises mais graves já conhecidas nos últimos 30 anos", criticou nesta segunda-feira em Bruxelas o ministro francês de Agricultura, Bruno Le Maire.


Ao ser interrogado por essas divergências, Zapatero optou por não se aprofundar nessa questão: "A Comissão demonstrou uma capacidade política evidente e há uma maioria de países da UE que estão a favor da retomada", disse.

Se for conquistado um acordo comercial, "todos ganhamos", especialmente os países em desenvolvimento como Uruguai e Paraguai, destacou Zapatero.

Em 2009, as trocas comerciais da UE com o Mercosul representaram quase o mesmo volume que com o resto da América Latina. Há dois anos, para o bloco latino-americano, a Europa foi sua primeira sócia comercial, enquanto que o Mercosul foi o oitavo para o Velho continente, segundo dados da Comissão.

Bruxelas lembra ainda que o Mercosul é um "bloco emergente", com um "grande peso econômico e político", que ainda não concluiu nenhum tratado de livre comércio com nenhum "grande competidor" da UE.

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