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Turquia caminha para repetir resultado do pleito de junho

Provavelmente o resultado das eleições de domingo levará à formação de um parlamento muito parecido com o que foi composto em junho

Eleitores do AKP com bandeiras do partido e da Turquia durante ato na cidade de Konya (REUTERS/Umit Bektas)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2015 às 14h56.

Istambul - Tudo indica que no próximo domingo a Turquia repetirá uma parte de sua história recente: quando todos os votos das eleições gerais antecipadas forem contabilizados, provavelmente o resultado levará à formação de um parlamento muito parecido com o que foi composto em junho e que deixou o país em um beco político sem saída.

As eleições de 7 de junho deste ano tiraram do partido islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP) a maioria absoluta que mantinha desde 2002 e abriram passagem para o Partido Democrático dos Povos (HDP), a legenda da esquerda pró-curda.

A impossibilidade de chegar a acordos de coalizão fez com que a Turquia, pela primeira vez em sua história, ativasse o mecanismo constitucional de formar um governo interino para administrar o país até a repetição do pleito.

Mas as pesquisas indicam até agora que o resultado das próximas eleições será tão parecido com o atual, variando poucas cadeiras, que no dia seguinte a Turquia lidará de novo o mesmo dilema.

O AKP, que obteve 40,9% dos votos no meio do ano, está fazendo impetuosos esforços para recuperar pelo menos as 18 cadeiras que lhe faltam para ter a maioria absoluta, mas é difícil que as consiga, e algumas pesquisas inclusive preveem uma leve queda.

O social-democrata CHP, maior partido da oposição, tem boas chances de subir um ou dois pontos percentuais a partir de seus atuais 25%, embora isto não modifique sua posição no plenário.

Um avanço similar está previsto para o ultranacionalista MHP, com 16,3%, enquanto algumas pesquisas indicam uma pequena queda do HDP, que obteve 13,1% em junho.

No entanto, não se prevê que o HDP corra risco de não atingir a cláusula de barreira de 10% e ficar excluído do parlamento, algo que mudaria a relação de forças políticas e entregaria uma cômoda maioria ao AKP.

O mais surpreendente talvez seja que as constantes ideológicas se mantenham tão estáveis em um país que nos últimos quatro meses viu enormes mudanças políticas e sociais.

Com 140 mortes entre soldados e policiais, um número maior de guerrilheiros abatidos e dezenas de civis vitimados no fogo cruzado só em 2015, e o reinício da guerra com o banido Partido dos Trabalhadores de Curdistão (PKK), a guerrilha curda, o país voltou a se ver em uma situação de violência extrema, fazendo alguns analistas temerem uma volta à situação da década de 1990, quando cidades inteiras foram arrasadas.

A este panorama se somou uma ameaça nova: as redes jihadistas associadas ao grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que foram autoras de três atentados desde junho, entre eles o de 10 de outubro em Ancara, que, com 102 mortes, foi o pior da história da Turquia.

Embora os atentados em grande escala contra civis sejam novidade na Turquia (com exceção de duas ações da Al Qaeda em 2003), a aparente falta de interesse das autoridades em tomar medidas preventivas também lembra capítulos obscuros do conflito curdo dos anos 90.

Os serviços secretos turcos apoiavam a organização islamita radical curda Hezbollah (sem relação com o partido homônimo libanês) em uma guerra suja contra simpatizantes do PKK e a esquerda, por meio de sequestros e assassinatos.

Os três atentados das redes do EI na Turquia tiveram também como alvo a esquerda pró-curda, e alguns políticos da oposição acusaram diretamente o governo de ser corresponsável pelos massacres.

É de se destacar, segundo alguns analistas, que a polícia não tenha feito nenhuma tentativa de desmantelar tais redes fundamentalistas nem sequer depois dos primeiros dois atentados, quando já eram conhecidos os nomes dos envolvidos, suas viagens à Síria e seus vínculos com o EI.

Alguns pais de suspeitos garantiram que denunciaram seus próprios filhos à polícia ao observar sua radicalização, ante o temor de vê-los transformados em terroristas, mas que as autoridades não lhes deram atenção.

Após estas acusações, o AKP, apoiado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, adotou um discurso duro no qual equipara o PKK a jihadistas - "porque todos os terrorismos são iguais".

Em sua postura taxativamente contrária aos movimentos curdos e ao HDP, o AKP recebe certo respaldo do partido ultranacionalista MHP.

O CHP, por sua vez, defende um diálogo de todas as forças com acenos ao HDP e ao setor da esquerda curda.

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Istambul - Tudo indica que no próximo domingo a Turquia repetirá uma parte de sua história recente: quando todos os votos das eleições gerais antecipadas forem contabilizados, provavelmente o resultado levará à formação de um parlamento muito parecido com o que foi composto em junho e que deixou o país em um beco político sem saída.

As eleições de 7 de junho deste ano tiraram do partido islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP) a maioria absoluta que mantinha desde 2002 e abriram passagem para o Partido Democrático dos Povos (HDP), a legenda da esquerda pró-curda.

A impossibilidade de chegar a acordos de coalizão fez com que a Turquia, pela primeira vez em sua história, ativasse o mecanismo constitucional de formar um governo interino para administrar o país até a repetição do pleito.

Mas as pesquisas indicam até agora que o resultado das próximas eleições será tão parecido com o atual, variando poucas cadeiras, que no dia seguinte a Turquia lidará de novo o mesmo dilema.

O AKP, que obteve 40,9% dos votos no meio do ano, está fazendo impetuosos esforços para recuperar pelo menos as 18 cadeiras que lhe faltam para ter a maioria absoluta, mas é difícil que as consiga, e algumas pesquisas inclusive preveem uma leve queda.

O social-democrata CHP, maior partido da oposição, tem boas chances de subir um ou dois pontos percentuais a partir de seus atuais 25%, embora isto não modifique sua posição no plenário.

Um avanço similar está previsto para o ultranacionalista MHP, com 16,3%, enquanto algumas pesquisas indicam uma pequena queda do HDP, que obteve 13,1% em junho.

No entanto, não se prevê que o HDP corra risco de não atingir a cláusula de barreira de 10% e ficar excluído do parlamento, algo que mudaria a relação de forças políticas e entregaria uma cômoda maioria ao AKP.

O mais surpreendente talvez seja que as constantes ideológicas se mantenham tão estáveis em um país que nos últimos quatro meses viu enormes mudanças políticas e sociais.

Com 140 mortes entre soldados e policiais, um número maior de guerrilheiros abatidos e dezenas de civis vitimados no fogo cruzado só em 2015, e o reinício da guerra com o banido Partido dos Trabalhadores de Curdistão (PKK), a guerrilha curda, o país voltou a se ver em uma situação de violência extrema, fazendo alguns analistas temerem uma volta à situação da década de 1990, quando cidades inteiras foram arrasadas.

A este panorama se somou uma ameaça nova: as redes jihadistas associadas ao grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que foram autoras de três atentados desde junho, entre eles o de 10 de outubro em Ancara, que, com 102 mortes, foi o pior da história da Turquia.

Embora os atentados em grande escala contra civis sejam novidade na Turquia (com exceção de duas ações da Al Qaeda em 2003), a aparente falta de interesse das autoridades em tomar medidas preventivas também lembra capítulos obscuros do conflito curdo dos anos 90.

Os serviços secretos turcos apoiavam a organização islamita radical curda Hezbollah (sem relação com o partido homônimo libanês) em uma guerra suja contra simpatizantes do PKK e a esquerda, por meio de sequestros e assassinatos.

Os três atentados das redes do EI na Turquia tiveram também como alvo a esquerda pró-curda, e alguns políticos da oposição acusaram diretamente o governo de ser corresponsável pelos massacres.

É de se destacar, segundo alguns analistas, que a polícia não tenha feito nenhuma tentativa de desmantelar tais redes fundamentalistas nem sequer depois dos primeiros dois atentados, quando já eram conhecidos os nomes dos envolvidos, suas viagens à Síria e seus vínculos com o EI.

Alguns pais de suspeitos garantiram que denunciaram seus próprios filhos à polícia ao observar sua radicalização, ante o temor de vê-los transformados em terroristas, mas que as autoridades não lhes deram atenção.

Após estas acusações, o AKP, apoiado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, adotou um discurso duro no qual equipara o PKK a jihadistas - "porque todos os terrorismos são iguais".

Em sua postura taxativamente contrária aos movimentos curdos e ao HDP, o AKP recebe certo respaldo do partido ultranacionalista MHP.

O CHP, por sua vez, defende um diálogo de todas as forças com acenos ao HDP e ao setor da esquerda curda.

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