Trump sob pressão com a confusão de sua política migratória
Diante das críticas em seu próprio partido, Trump assinou na quarta-feira um decreto que pôs fim às separações sistemáticas
AFP
Publicado em 23 de junho de 2018 às 17h57.
Última atualização em 23 de junho de 2018 às 17h58.
Legisladores democratas que visitaram neste sábado (23) um centro de detenção para imigrantes no Texas denunciaram a política de "tolerância zero" de Donald Trump , que enfrenta o quebra-cabeça das famílias separadas na fronteira com o México e na chegada de novos contingentes de imigrantes.
Após os fortes protestos desencadeados por uma política inflexível, que em poucas semanas separou mais de 2.300 crianças de seus pais que ingressaram ilegalmente nos Estados Unidos, o governo deve responder ao desafio de reunir estas famílias.
O presidente multiplica os sinais contraditórios neste tema explosivo. Diante das críticas em seu próprio partido, Trump assinou na quarta-feira um decreto que pôs fim às separações sistemáticas.
A maior confusão paira desde então sobre o destino destes menores arrancados de seus pais. O Executivo deu um primeiro passo concreto, ao criar uma célula especializada no assunto.
Cerca de 25 legisladores foram ao centro de detenção de imigrantes de McAllen, no Texas.
"A razão pela qual estou aqui é que Donald Trump modificou as políticas e tratou as famílias de forma desumana", protestou Mike Capuano, representante de Massachusetts, durante coletiva de imprensa.
- Uma política "bárbara" -
"Estas pessoas, sobretudo as crianças, estão traumatizadas. E isso faz parte da política de 'tolerância zero' do governo Trump quem para mim, é bárbara", concordou a legisladora democrata pela Califórnia Barbara Lee.
Para sua colega deste estado do sudeste dos Estados Unidos, Mark Takano, continua havendo incerteza demais sobre o destino destas famílias.
Segundo a emissora CNN, que citou funcionários, umas 500 crianças já puderam se reunir com seus pais. As autoridades não comunicaram cifras precisas.
O Departamento de Saúde criou na sexta-feira uma "célula especializada no reagrupamento de crianças não acompanhadas".
Segundo o site Politico, esta célula foi confiada a um responsável por situações de emergência, sinal da profundidade de uma tarefa normalmente designada ao Escritório de Relocalização de Refugiados.
"O secretário Alex Azar mobiliza todos os recursos competentes do departamento (de Saúde) para ajudar ao reagrupamento ou a colocação de crianças e adolescentes estrangeiros desacompanhados na casa de um familiar ou de alguém que os acolha", contou na noite de sexta-feira ao Político Evelyn Stauffer, porta-voz do departamento.
Contatada neste sábado pela AFP, a dependência governamental ainda nãorespondeu à consulta.
A pressão popular para que o governo modifique radicalmente sua política se acentua.
Neste sábado, devem ser realizadas manifestações na Califórnia e no próximo estão previstas 130 mobilizações, uma delas em frente à Casa Branca, em Washington.
- "Crise criada pelo governo" -
Os organizadores do movimento de protesto avaliam que o decreto de Trump não soluciona "uma crise que foi criada pelo governo".
O presidente é esperado neste sábado em Las Vegas, Nevada, onde deve falar de "comércio à imigração com seus seguidores", escreveu em sua conta no Twitter.
"Os democratas favoráveis às fronteiras abertas (...) querem apenas que todo mundo permaneça em nosso país, sem importar em que ponto (os imigrantes) são perigosos", disse Trump em sua mensagem semanal.
Após um novo adiamento da votação parlamentar sobre a reforma migratória, o presidente pediu na sexta-feira aos republicanos para "deixar de perder tempo com a imigração até que sejam eleitos mais senadores e representantes (republicanos) em novembro", durante as eleições de meio de mandato nas quais será renovada a totalidade da Câmara de Deputados e um terço do Senado.
A Marinha americana projeta, por sua vez, erguer campos em bases aéreas abandonadas para reunir dezenas de milhares de migrantes que - estima-se - chegarão nos próximos meses, segundo documento interno divulgado na sexta-feira pela revista Time.