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Superterça vive vazio de idéias políticas nos Estados Unidos, diz analista

Nesta terça-feira, eleitores e candidatos enfatizam mais o estilo de gestão que a discussão de novas políticas para os Estados Unidos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

A corrida presidencial americana chega a esta terça-feira (5/2) marcada muito mais por um debate em torno dos estilos de gestão dos pré-candidatos à Casa Branca, do que por uma verdadeira discussão sobre temas importantes para o país, como a invasão do Iraque ou o déficit orçamentário americano. A avaliação é de Gerald Seib, colunista do The Wall Street Journal. Conhecida como Superterça, este dia assistirá a eleições primárias em 24 estados americanos, de onde sairão mais da metade dos delegados que escolherão os candidatos democrata e republicano à corrida presidencial nas convenções dos partidos nos próximos meses.

Para Seib, o mais desapontador neste ano é a tendência dos eleitores de prestarem mais atenção ao estilo pessoal dos concorrentes, que às idéias que defendem. "Nenhum dos principais candidatos dos dois lados [democrata e republicano] apresentou ainda idéias ou políticas que representem um novo curso ideológico para o país", afirma. A maior parte dos concorrentes, como o republicano John McCain e o democrata Barack Obama, tentam cativar o eleitorado apresentando-se como moderados e centristas.

Um dos motivos do esvaziamento do debate ideológico é o cansaço do eleitorado que, nos últimos anos, viu o governo ser paralisado por ferrenhas disputas entre os dois maiores partidos dos Estados Unidos. O desejo dos americanos é encontrar alguém capaz de administrar eficientemente a máquina pública, colocando-se acima das disputas ideológicas.

"CEO para presidente"

Os eleitores parecem procurar candidatos que transcendam a paralisia dos debates políticos tradicionais, caracterizados pelo embate entre republicanos e democratas. Para muitos eleitores, o currículo dos concorrentes conta menos do que as coisas que eles podem fazer, de fato, para administrar o país.

O crescente número de eleitores independentes e de jovens nas eleições primárias mostra também a busca de um candidato "pós-partidário", segundo Seib. "Resultados importam, e a competência também importa. Mas eu acredito que as pessoas estão cansadas da paralisia partidária que se vêm em Washington, e estão procurando algum CEO [termo em inglês para executivo-chefe, o principal dirigente de uma empresa] que apresente resultados", diz um apoiador de Obama.

Com isso, as eleições de 2008, até o momento, são muito diferentes das anteriores. Em 1980, por exemplo, Ronald Reagan propôs um verdadeiro debate no Partido Republicano sobre as diretrizes que comporiam um novo leque de políticas conservadoras que envolviam desde o corte de taxas até o aumento dos gastos com defesa. Em 1992, Bill Clinton remodelou as idéias do Partido Democrata, quando se aproximou das idéias de direita acerta de comércio exterior, controle dos gastos públicos e revisão dos benefícios sociais. "Aquelas foram grandes idéias políticas que também tiveram um grande impacto real", afirma Seib.

Sem repercussão

A falta de contrastes entre os pré-candidatos de cada partido também é refletida na confusão dos eleitores. Segundo o pesquisador Andrew Kohut, do Pew Reserch Center, não há relação entre as pesquisas de boca-de-urna e as questões prioritárias para os eleitores. "É mais uma questão de qualidades pessoais dos candidatos", diz.

Nas eleições primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul, por exemplo, realizada em 26 de janeiro, Hillary Clinton e Barack Obama receberam proporções semelhantes de votos dos eleitores que afirmam ser a economia o assunto mais importante para o país neste ano. Para comprovar a falta de diferenciação entre os candidatos, Kohut observa que essas proporções são semelhantes ao número de votos que os dois receberam de quem privilegia a guerra do Iraque e a saúde como os principais temas da campanha.

Em outra primária - a de New Hampshire - os eleitores democratas afirmaram que desejam ver as tropas americanas deixarem o Iraque o quanto antes. Ainda assim, Obama, o pré-candidato mais contrário à guerra - recebeu 34% dos votos, perdendo para Hillary, que angariou 41%.

Debate residual

A falta de diferenciação entre os candidatos, segundo Seib, é um fenômeno mais concentrado no interior dos partidos, mas não deixará de ser visto, de algum modo, quando as candidaturas estiverem consolidadas e a disputa mudar de fase.

Uma vez escolhidos os candidatos de cada lado, as diferenças ideológicas entre republicados e democratas tenderão a aparecer. Caso o senador McCain consolide-se como o concorrente republicano, e o senador Obama seja seu adversário democrata, haverá uma grande discussão sobre a guerra do Iraque. Herói de guerra, McCain é defensor da invasão e acredita que o Iraque pode ter o mesmo papel que a antiga Alemanha Ocidental e a Coréia do Sul na geopolítica mundial - o de apoiadores incondicionais dos Estados Unidos. Já os democratas querem as tropas fora do país o quanto antes.

"Mas esse debate será muito mais sobre um resíduo de uma decisão passada - a invasão do Iraque - do que sobre um novo rumo ideológico para a America no mundo. De fato, os debates atuais dentro dos dois partidos são marcados por sua falta de novas direções", afirma Seib.

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