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Sepultura de Kadafi é o imenso deserto líbio

Decisão de enterrar o ex-ditador na região causou polêmica no país

Muammar Kadafi foi enterrado no deserto para evitar que seu túmulo virasse um local de peregrinação  (AFP)

Muammar Kadafi foi enterrado no deserto para evitar que seu túmulo virasse um local de peregrinação (AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2011 às 15h55.

Trípoli - Muammar Kadafi, morto nas mãos das forças insurgentes em sua cidade natal, Sirte, em 20 de outubro, foi enterrado em segredo nesta terça-feira nas areias do deserto líbio, para evitar que seu túmulo se transforme em local de peregrinação.

Um membro do Conselho Militar da máxima autoridade das forças de transição, Saada Abu Shiha, assegurou que 'o enterro aconteceu nesta terça-feira em um lugar do deserto'.

'Deveriam ter jogado o corpo ao mar para ser comido pelos peixes, agora só espero que os cachorros o comam no deserto', dizia Youssef Tarhuni na praça dos Mártires de Trípoli, um desempregado líbio que prefere ser chamado de 'trabalhador livre'.

Tarhuni, que fica nervoso ao falar do governante que ficou no poder durante 42 anos, insiste que Kadafi 'não merece estar enterrado em terra líbia'. 'Estivemos esmagados por ele durante 40 anos', afirma apertando com força e ódio o punho de sua mão direita na altura do peito.

Abdel Baset Hussein, engenheiro que durante o conflito armado se tornou comandante de campo da Brigada dos Mártires da Líbia, insistiu que 'segundo os ulemás, Kadafi não era muçulmano, mas um infiel'.

Entretanto, embora a maioria dos testemunhos nas ruas siga a mesma direção, algumas vozes consideram excessivo o tratamento dado ao corpo de Kadafi.

'Não está certo, tinham que ter entregue a sua família para que o enterrassem, no final era uma pessoa, como puderam enterrar no deserto?', disse à Agência Efe Ahlam Hassan, que passeava com seu marido e dois filhos pela praça dos Mártires.

O enterro de Kadafi aconteceu após vários dias de polêmica durante os quais seu corpo e o de seu filho Mutassim, mortos após serem detidos vivos pelos rebeldes, foram expostos em Misrata para todos que quisessem se aproximar e vê-los.


O mufti da Líbia, xeque Al Sadiq al Guerian, emitiu há dois dias uma ordem religiosa no qual ressaltou que não era legítimo rezar por Kadafi nos templos muçulmanos.

Na ordem, divulgada pela imprensa local, Guerian afirma que 'Kadafi pode ser enterrado em cemitério muçulmano, mas só seus familiares podem lavar seu corpo e rezar por ele'.

As autoridades do Conselho Nacional de Transição disseram que respeitariam o édito emitido pela máxima autoridade religiosa, que também insistia para que Kadafi fosse enterrado em um túmulo sem identificação, para evitar conflitos entre os líbios, ou que se torne um lugar de peregrinação.

De acordo com a televisão Al Jazeera, Kadafi foi enterrado no início do dia junto com seu filho Mutassim e seu ministro da Defesa Abu Bakr Yunis, que morreram em circunstâncias muito similares.

O canal também afirmou que membros da tribo do ex-líder, os 'Gadafa', estiveram presentes no sepultamento.

Com o enterro de Kadafi, foi colocado um fim a vários dias de tensões entre as autoridades centrais e as forças insurgentes de Misrata, uma das cidades que mais sofreu o assédio das brigadas pró-Kadafi e cuja participação na tomada de Trípoli e de Sirte foi decisiva.

As milícias de Misrata que detiveram Kadafi na quinta-feira, depois que ele sobreviveu a um ataque da Otan contra o comboio onde estava para fugir de Sirte, se apressaram para levá-lo a sua cidade como fosse um troféu de guerra.

Na parte dianteira de um carro, rodeado por uma caravana de veículos e dezenas de rebeldes que festejavam sua detenção, o ditador foi humilhado e espancado brutalmente antes de sua morte, como mostram algumas gravações. 

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