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Rigor na educação infantil começa a ser questionado na China

Os defensores da severidade na educação chinesa garantem que seus preceitos, com base no proibido e no elitismo são superiores à "permissividade" ocidental

A China é o único país em desenvolvimento que enfrenta o paradoxo de ser um país com população majoritariamente idosa antes de ser um país rico (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de março de 2012 às 10h53.

Pequim - A educação da juventude na China vem sendo famosa pela austeridade, com destaque para o trabalho e a disciplina dos alunos, mas esta doutrina vem sendo questionada pelas próprias famílias, nos últimos anos.

Os defensores da severidade na educação chinesa garantem que seus preceitos, com base no proibido e no elitismo são superiores à, por assim dizer, "permissividade" ocidental.

A ideia foi defendida, principalmente, no ano passado, em um livro escrito por uma professora da Universidade americana de Yale, de origem chinesa, que louvou as virtudes da coerção.

Nesta obra intitulada "Battle Hymn of the Tiger Mother" (Hino da Batalha de uma Mãe-Tigre, numa tradução livre), Amy Chua enumerou as coisas que suas duas filhas nunca tiveram direito de fazer: uma festa de pijama, com as colegas: atuar numa peça de teatro na escola; ter um companheiro de jogos; ver televisão, brincar no computador, etc.

O livro foi recebido com muita polêmica e reações indignadas nos Estados Unidos, onde a mãe foi comparada a um "tirano"; mas não foi motivo de nenhum debate na China, onde os escolares passam longas horas na sala de aula e onde a autoridade parental é exercida com frequência de forma severa.


Crianças com quatro anos, por exemplo, têm uma carga horária diária na escola de oito horas, podendo chegar a 12 horas para os mais velhos.

No entanto, os deputados reunidos para a sessão anual do Parlamento, que deve encerrar nesta quarta-feira, debateram mudanças nesses ritmos, para aliviar as pressões que sofrem as crianças, explicou à AFP um dos deputados, o professor Zhu Yongxin.

"Acho, com certeza, que a educação chinesa poderia ser mais descontraída. A educação deve ser uma experiência feliz", afirmou, paralelamente à Assembleia Nacional Popular (ANP).

O debate ganhou força, recentemente, com o aparecimento, na internet, de um vídeo amador mostrando uma criança chinesa de quatro anos, forçada pelos pais a correr na neve em Nova York, vestida apenas com um calção e os sapatos.

Os pais justificaram seu gesto extremo: alegaram necessidade de fortalecer o caráter de seu filho e sua saúde. Mas a curta sequência filmada despertou reações indignadas entre os internautas, um sinal de que a opinião está evoluindo.

Segundo o professor Zhu, os pais chineses desejavam, agora, para seus filhos, uma educação "menos severa" - em parte devido à política de filho único, e em parte graças à maior possibilidade de acesso às escolas ocidentais.

"A China está mais aberta - em particular no que diz respeito à educação estrangeira e à aprendizagem - e as escolas estão mais inclinadas a introduzir uma cultura e um pensamento inovadores", destacou.

Nos últimos anos, a China registrou uma grande expansão dos estabelecimentos de ensino alternativos, adotando, principalmente, os princípios do polêmico pensador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), criador das escolas alternativas Waldorf.

A primeira escola Waldorf na China abriu suas portas em 2004, e outras seis foram inauguradas no ano passado.

Nestas escolas, o ensino da leitura, da escrita e da matemática começa numa idade mais elevada que na maior parte dos estabelecimentos tradicionais, acompanhado de um reforço a outras disciplinas, como a música e o desenho.

Yu Shufen decidiu enviar sua filha de sete anos, Duo Duo, a uma escola Waldorf na periferia de Pequim, considerando que ela sofreria muita pressão no sistema estadual clássico.

"Este (sistema chinês) pode ser muito intenso para as crianças; há sempre muitas lições e provas," declarou ela à AFP. "Seu desenvolvimento físico e mental sofre neste meio, pelo que nunca pensei matricular minha filha numa escola pública".

O setor da educação privada está em plena expansão na China, devendo chegar a um montante de 80 bilhões de dólares este ano, contra 60 bilhões de dólares em 2009, segundo o Bank of America Merrill Lynch.

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Pequim - A educação da juventude na China vem sendo famosa pela austeridade, com destaque para o trabalho e a disciplina dos alunos, mas esta doutrina vem sendo questionada pelas próprias famílias, nos últimos anos.

Os defensores da severidade na educação chinesa garantem que seus preceitos, com base no proibido e no elitismo são superiores à, por assim dizer, "permissividade" ocidental.

A ideia foi defendida, principalmente, no ano passado, em um livro escrito por uma professora da Universidade americana de Yale, de origem chinesa, que louvou as virtudes da coerção.

Nesta obra intitulada "Battle Hymn of the Tiger Mother" (Hino da Batalha de uma Mãe-Tigre, numa tradução livre), Amy Chua enumerou as coisas que suas duas filhas nunca tiveram direito de fazer: uma festa de pijama, com as colegas: atuar numa peça de teatro na escola; ter um companheiro de jogos; ver televisão, brincar no computador, etc.

O livro foi recebido com muita polêmica e reações indignadas nos Estados Unidos, onde a mãe foi comparada a um "tirano"; mas não foi motivo de nenhum debate na China, onde os escolares passam longas horas na sala de aula e onde a autoridade parental é exercida com frequência de forma severa.


Crianças com quatro anos, por exemplo, têm uma carga horária diária na escola de oito horas, podendo chegar a 12 horas para os mais velhos.

No entanto, os deputados reunidos para a sessão anual do Parlamento, que deve encerrar nesta quarta-feira, debateram mudanças nesses ritmos, para aliviar as pressões que sofrem as crianças, explicou à AFP um dos deputados, o professor Zhu Yongxin.

"Acho, com certeza, que a educação chinesa poderia ser mais descontraída. A educação deve ser uma experiência feliz", afirmou, paralelamente à Assembleia Nacional Popular (ANP).

O debate ganhou força, recentemente, com o aparecimento, na internet, de um vídeo amador mostrando uma criança chinesa de quatro anos, forçada pelos pais a correr na neve em Nova York, vestida apenas com um calção e os sapatos.

Os pais justificaram seu gesto extremo: alegaram necessidade de fortalecer o caráter de seu filho e sua saúde. Mas a curta sequência filmada despertou reações indignadas entre os internautas, um sinal de que a opinião está evoluindo.

Segundo o professor Zhu, os pais chineses desejavam, agora, para seus filhos, uma educação "menos severa" - em parte devido à política de filho único, e em parte graças à maior possibilidade de acesso às escolas ocidentais.

"A China está mais aberta - em particular no que diz respeito à educação estrangeira e à aprendizagem - e as escolas estão mais inclinadas a introduzir uma cultura e um pensamento inovadores", destacou.

Nos últimos anos, a China registrou uma grande expansão dos estabelecimentos de ensino alternativos, adotando, principalmente, os princípios do polêmico pensador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), criador das escolas alternativas Waldorf.

A primeira escola Waldorf na China abriu suas portas em 2004, e outras seis foram inauguradas no ano passado.

Nestas escolas, o ensino da leitura, da escrita e da matemática começa numa idade mais elevada que na maior parte dos estabelecimentos tradicionais, acompanhado de um reforço a outras disciplinas, como a música e o desenho.

Yu Shufen decidiu enviar sua filha de sete anos, Duo Duo, a uma escola Waldorf na periferia de Pequim, considerando que ela sofreria muita pressão no sistema estadual clássico.

"Este (sistema chinês) pode ser muito intenso para as crianças; há sempre muitas lições e provas," declarou ela à AFP. "Seu desenvolvimento físico e mental sofre neste meio, pelo que nunca pensei matricular minha filha numa escola pública".

O setor da educação privada está em plena expansão na China, devendo chegar a um montante de 80 bilhões de dólares este ano, contra 60 bilhões de dólares em 2009, segundo o Bank of America Merrill Lynch.

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