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Retirada dos EUA do Acordo de Paris é um presente para a China

Diante da decisão de Trump, o governo chinês tentou se apresentar como um pilar do acordo climático assinado em 2015 depois de longas negociações

Donald Trump e Xi jinping: é uma oportunidade para a China aumentar ainda mais os seus investimentos em energias verdes no exterior (Carlos Barria/Reuters)
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AFP

Publicado em 2 de junho de 2017 às 17h15.

Ao retirar seu país do Acordo de Paris sobre o clima, o presidente americano, Donald Trump , volta a dar à potência asiática o papel de ator responsável, apesar de ser o maior poluidor do planeta.

Diante da decisão do chefe de Estado americano, o governo chinês tentou nesta sexta-feira se apresentar como um pilar do acordo climático assinado em 2015 depois de longas negociações.

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"É uma responsabilidade que a China assume como grande país encarregado", afirmou à imprensa o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

"Não nos demos conta de que nossos atos e nosso papel dirigente foram aplaudidos pela comunidade internacional", acrescentou.

A China é o maior poluidor do mundo, mas também é o país que mais investe em energias renováveis, com mais de 100 bilhões de dólares no ano passado, segundo o serviço de informação Bloomberg News Energy Finance.

Pequim se comprometeu a reduzir sua dependência em petróleo e carvão para diminuir a contaminação que asfixia a sua metrópole durante grande parte do ano.

A saída americana do Acordo de Paris lhe dá uma oportunidade de aumentar ainda mais os seus investimentos em energias verdes no exterior, enquanto incrementa a sua influência política nos países que contam cada vez mais com o dinheiro chinês para se desenvolver.

"O paradoxo do 'Estados Unidos primeiro' [lema de Trump durante a sua campanha] é que contribui para colocar os Estados Unidos em segundo lugar enquanto a China se impõe", observa John Mikler. "Isto é fantástico para a China porque a coloca em uma posição favorável".

"Nossa colaboração hoje é mais importante do que nunca", declarou nesta sexta-feira o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao receber o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Bruxelas.

Carvão no exterior

A aproximação empreendida pela China e pela União Europeia no final de 2016 diante dos anseios protecionistas do novo morador da Casa Branca já havia dado ao presente chinês, Xi Jinping, a chance de se apresentar como um defensor da globalização e do livre-comércio.

Declarações que provocaram um sorriso irônico dos empresários estrangeiros que trabalham na China, acostumados a lidar com os obstáculos impostos por Pequim para ter acesso ao mercado chinês.

"É óbvio que a China considera a saída dos Estados Unidos como uma oportunidade no plano diplomático. Isto lhe dá a possibilidade de desempenhar um papel mais positivo no cenário internacional", opina Lauri Myllyvirta, especialista em contaminação atmosférica na ONG Greenpeace.

Essa aura atrai inclusive responsáveis políticos dos Estados Unidos, como o governador da Califórnia, Jerry Brown, que viajará na próxima semana a Pequim para participar de uma reunião sobre energias renováveis. "Queremos estreitar ainda mais a nossa relação com a China", declarou ao jornal Los Angeles Times.

Nos três últimos anos, a China reduziu levemente o seu enorme consumo de carvão, que caiu a 62% de seu balanço energético. Mas os esforços de Pequim neste sentido não se aplicam fora de suas fronteiras, já que o país asiático investe fortemente em projetos de centrais de carvão nos países das "Novas Rotas da Seda", com os quais tenta consolidar as suas relações comerciais.

Segundo um estudo da Global Environment Initiative, organização com sede em Pequim, a China participou entre 2001 e 2016 de 240 projetos de centrais de carvão em 65 países.

"Se perguntarmos aos impulsionadores, dirão que está tudo limpo, mas se observarmos as normas contra a contaminação aplicadas nesses projetos, serão muito mais contaminantes do que o tolerado na China", afirma Myllyvirta. "É uma mancha no balanço da China".

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