Reino Unido discute resposta ao confisco de petroleiro pelo Irã
Uma embarcação de bandeira britânica e outra liberiana foram capturadas por autoridades iranianas no Estreito de Ormuz, provocando tensão entre os países
AFP
Publicado em 22 de julho de 2019 às 11h32.
Após uma reunião de crise presidida pela primeira-ministra Theresa May e consultas com seus aliados europeus, o Reino Unido deve anunciar nesta segunda-feira sua resposta ao confisco pelo Irã de um petroleiro de bandeira britânica no Estreito de Ormuz.
"O navio foi apreendido sob falsos pretextos e os iranianos deveriam liberá-lo imediatamente com sua tripulação", declarou à imprensa o porta-voz de May.
"Não buscamos o confronto com o Irã, mas apreender um navio que está fazendo negócios legítimos por vias marítimas internacionalmente reconhecidas é inaceitável", disse, acrescentando que a operação alimentava a escalada das tensões no Golfo.
Por sua parte, o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabii, afirmou nesta segunda-feira que a apreensão do petroleiro "foi uma medida legal" necessária para "garantir a segurança regional".
Esta crise acontece em um contexto político muito delicado para os britânicos, uma vez que Theresa May, que não conseguiu implementar o Brexit, deixará o cargo na quarta-feira. A chefe do governo conservador preside desde cedo uma reunião de crise interministerial em Downing Street.
Candidato à sucessão de May, o chefe da diplomacia britânica, Jeremy Hunt, deve informar nesta segunda o Parlamento sobre as medidas que o Reino Unido pretende tomar em relação à crise no Golfo.
Hunt conversou no domingo com seus colegas francês e alemão, com quem concordou que "a segurança dos navios no Estreito de Ormuz é uma das principais prioridades dos países europeus", segundo o ministério das Relações Exteriores.
Todas opções estudadas
Quais medidas o Reino Unido pode adotar? "Vamos examinar uma série de opções", declarou no domingo o secretário de Defesa, Tobias Ellwood, sem maiores detalhes.
Questionado pela BBC sobre congelamento de bens, o ministro das Finanças, Philip Hammond, disse: "Nós já temos uma ampla gama de sanções contra o Irã, especialmente sanções financeiras, por isso não está claro que há outras coisas imediatas que podemos fazer".
De propriedade de um armador sueco, o petroleiro Stena Impero foi apreendido na sexta-feira pela Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, que alegou que ele não respeitou o "código marítimo internacional".
O navio e seus 23 tripulantes estão detidos no porto de Bandar Abbas, no sul do Irã.
Poucas horas antes, a Suprema Corte de Gibraltar, território britânico localizado no extremo sul da Espanha, decidiu prorrogar por 30 dias a detenção de um petroleiro iraniano, o Grace 1. Este navio, suspeito de querer entregar petróleo à Síria - o que Teerã nega - foi apreendido em 4 de julho pelas forças britânicas.
A apreensão do Stena Impero e a impotência dos britânicos para impedi-lo reviveram no Reino Unido o debate sobre seu poder militar.
"Não há dúvida de que a (redução) da Marinha Real desde 2005 - que passou de 31 fragatas e destróieres para 19 atualmente - teve um impacto em nossa capacidade de proteger nossos interesses em todo o mundo", afirmou o contra-almirante aposentado Alex Burton.
Alguns também questionaram a apreensão do Grace-1, uma operação que, segundo o ministro do Exterior espanhol Josep Borrell, teria ocorrido a pedido dos Estados Unidos.
"Que diabos pensaram os políticos e autoridades britânicas que autorizaram isso?", perguntou o colunista Patrick Cockburn, especialista em Oriente Médio, no The Independent. "Será que eles realmente acreditaram que os iranianos não se vingariam pelo que consideram uma séria escalada na guerra econômica americana contra eles?"
As tensões entre Teerã e Washington aumentaram desde a retirada unilateral americana em maio de 2018 do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano concluído em 2015.
A região do Golfo e o Estreito de Ormuz, por onde transita um terço do petróleo mundial, está no centro das tensões.