Reguladora aprova nova fábrica da AstraZeneca na Holanda
A falta de doses disponíveis na Europa tem sido tema de embate entre Reino Unido e União Europeia. O objetivo da fábrica nova é resolver parte dos entraves
Carolina Riveira
Publicado em 26 de março de 2021 às 12h36.
Última atualização em 26 de março de 2021 às 17h25.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) aprovou nesta sexta-feira, 26, uma fábrica de produção da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 na Holanda, que está no centro de uma disputa entre o Reino Unido e a União Europeia. A UE enfrenta sérios problemas de abastecimento de vacinas e tem criticado a AstraZeneca.
O regulador europeu informou em um comunicado que também aprovou uma fábrica para a vacina de Pfizer/BioNTech na Alemanha e outra de fabricação da vacina da Moderna na Suíça.
A fábrica que vai fazer as doses da AstraZeneca já estava produzindo, mas faltava o aval da reguladora da União Europeia para que as vacinas fossem distribuídas em massa. A planta é operada pela empresa farmacêutica holandesa Halix, parceira da AstraZeneca.
"A unidade Halix está localizada em Leiden, na Holanda, e vai elevar a quatro o número total de unidades de fabricação autorizadas para a produção da substância ativa da vacina [ da AstraZeneca ]", disse a EMA no comunicado.
A unidade da Halix é centro da disputa entre Reino Unido e União Europeia: os europeus não querem que as doses da AstraZeneca feitas dentro do bloco sejam exportadas — incluindo para o Reino Unido, que deixou a UE após o Brexit.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou na quinta-feira que a AstraZeneca, que entregou aos bloco apenas 30 das 120 milhões de doses prometidas no primeiro trimestre, "terá primeiro que recuperar o atraso" e honrar seu contrato antes de poder exportar para fora do continente.
Países da UE chegaram a barrar exportações de vacinas para fora do bloco, e as medidas restritivas podem, além do Reino Unido, dificultar a chegada de vacinas a outros lugares.
Onde a AstraZeneca faz vacinas?
Atualmente, duas plantas na Inglaterra (além de uma terceira para envasar as doses) fazem a vacina para o Reino Unido. O governo britânico diz que quase nenhuma dose veio da Europa. Parte veio ainda do Instituto Serum, na Índia, o mesmo que enviou doses prontas para o Brasil e um dos parceiros da AstraZeneca no mundo.
Na Europa, a AstraZeneca afirma que boa parte das doses vem da Bélgica. Há ainda outra planta nos Estados Unidos, responsável pelo estoque parado de vacinas que o governo americano possui.
A comissária de Saúde da União Europeia, Stella Kyriakides, saudou a decisão "acelerada" da EMA sobre a fábrica Halix, considerando que isso significaria que vacinas adicionais serão entregues em alguns dias.
"Esperamos agora que as vacinas produzidas por esta fábrica sejam entregues aos Estados-membros da UE nos próximos dias, como parte da obrigação contratual e do compromisso da AstraZeneca com os cidadãos europeus", ressaltou.
Alguns países da UE foram "seriamente afetados pela decepcionante redução nas entregas de vacinas da AstraZeneca", disse Kyriakides.
"Sem as entregas abaixo do esperado da AstraZeneca, as taxas de vacinação na UE poderiam ter sido quase o dobro", acrescentou ela.
A União Europeia aplicou 63 milhões de doses de vacina contra a covid-19, com 10% da população tendo tomado pelo menos a primeira dose. O Reino Unido, onde a AstraZeneca é o carro-chefe de um bem-sucedido programa de vacinação, chegou a 43% da população vacinada com a primeira dose e 32 milhões de doses aplicadas.
Por sua vez, a autorização dada pela reguladora europeia à fábrica da Pfizer, em Marburg, na Alemanha, significa que a farmacêutica americana vai acelerar "a produção e as entregas esperadas do contrato adicional concluído com a BioNtech/Pfizer", de acordo com a comissária.
A UE esperava que, a esta altura, a vacinação já estivesse mais adiantada, mas sofreu com atraso de entregas da AstraZeneca. No momento, boa parte da vacinação no bloco acontece com a vacina da Pfizer.