Angela Merkel: Merkel lamentou ascensão dos partidos de extrema-direita e eurocéticos (John Thys/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2014 às 18h06.
Bruxelas - As forças dominantes continuarão exercendo o controle da atividade política na próxima legislação do Parlamento Europeu, apesar do avanço da direita radical e dos eurocéticos, que motivou contra-ataques dos principais líderes europeus.
Com 214 cadeiras para o Partido Popular Europeu (PPE, conservadores) e 189 para os social-democrata, essas duas formações controlarão a maioria do Parlamento formado por 751 cadeias.
A terceira força do atual Parlamento, os liberais, vão contar com 66 cadeiras, enquanto que os Verdes ficarão com 55.
No total, as forças pró-europeias somam 521 deputados contra os 142 de partidos antissistema, antieuropeus e de extrema-direita.
Entre eles, estão a Frente Nacional francesa, o Partido da Liberdade da Áustria (FPO) e o Partido da Liberdade (PVV) holandês, que já tinham eurodeputados, mas que não faziam parte de um grupo político.
Merkel contra-ataca os eurocéticos
A principal líder do bloco, a chefe de Governo alemã Angela Merkel, considerou lamentável a ascensão dos partidos de extrema-direita e eurocéticos.
A chanceler considerou ainda que a melhor resposta para este avanço é a criação de empregos.
"É surpreendente e lamentável (o avanço dos eurocéticos e nacionalistas), mas agora temos que voltar a conquistar esses eleitores com a implementação de uma política de competitividade, crescimento e emprego", declarou.
A formação da chanceler, o CDU/CSU, vai enviar o maior número de deputados alemães ao Parlamento (34).
Mas, apesar dessa vitória, a Alemanha não está imune ao crescimento das formações extremistas e anti-europeias que se apoderou da UE.
Pela primeira vez na história, um deputado neonazista alemão do NPD ocupará um assento no Parlamento, enquanto o AfD, anti-europeu, ficou com sete deputados.
Extrema-direita causa terremoto na França
Na França, onde a Frente Nacional (FN) provocou um verdadeiro terremoto político ao tornar-se a maior força do país, o presidente francês, François Hollande, pediu que a União Europeia "se retire de onde ela não é necessária" para que seja eficaz.
"A Europa, tornou-se ilegível, incompreensível, até para os Estados", disse Hollande em um discurso transmitido pela televisão.
Considerando que "isto não pode continuar" e que a UE deve ser "simples, clara, para ser eficaz", ele pediu que o bloco "se retire de onde ele não é necessário", sem dar detalhes.
Já o primeiro-ministro Manuel Valls indicou que não entende "a abstenção em massa" dos eleitores socialistas no domingo.
O socialismo no poder na França, chegou em terceiro lugar nas eleições com 14% dos votos.
"Estou convencido de que a Europa pode ser reorientada para apoiar o crescimento e o emprego, o que não acontece há anos", declarou Valls.
Os chefes de Estado e de Governo se reuniram na noite desta terça-feira em Bruxelas para um encontro dedicado a analisar os resultados, particularmente na França.
Para o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, "a confiança dos cidadãos europeus nas elites diminuiu de modo dramático".
Centro-esquerda de Renzi vence os eurocéticos
O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi venceu o jogo contra o Movimento Cinco Estrelas (M5S), eurocético, do comediante Beppe Grillo, após a sua formação de centro-esquerda, o Partido Democrático (PD), obter uma espetacular vitória nas eleições europeias na Itália.
O PD obteve 40,8% dos votos contra 21,2% do M5S, de acordo com os resultados finais, que também apontam para o pior resultado da formação do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o Forza Italia (FI), que ficou em terceiro lugar, com 16,8% dos votos.
Para o jornal Il Fatto Quotidiano, o 'Cavaliere', sem direito de voto por sua condenação por fraude fiscal, está "mais morto do que vivo".
Em relação à última eleição na Itália - as legislativas em 2013 - o M5S e o FI perderam, respectivamente, 3 e 5 milhões de votos, enquanto o jovem chefe de governo ganhou um milhão.
Um "resultado histórico", comemorou em seu Twitter Renzi, de 39 anos.
Esses resultados são ainda mais significativos diante da elevada participação (58,7%) - muito maior do que em toda a União Europeia (43,11%) -, apesar de em baixa em comparação com as eleições europeias anteriores na Itália 2009 (66,4%).
Embora o movimento de Grillo tenha perdido apoio, ele se consolida como a segunda formação do país, muito à frente da direita de Berlusconi, segundo os analistas.
Conservadores britânicos perdem para o Ukip
No Reino Unido, a vitória do Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip) nas eleições europeias obriga trabalhistas, conservadores e liberais a se posicionarem mais energicamente em questões como a imigração ou a União Europeia para as eleições legislativas de 7 de maio de 2015.
É a primeira vez em mais de 100 anos que conservadores ou trabalhistas não ganham eleições, desde que, em 1910, os liberais de Herbert Henry Asquith triunfaram nas legislativas.
A decepção era clara nesta segunda entre os conservadores do partido do primeiro-ministro David Cameron, que ficou em terceiro lugar na preferência dos eleitores, atrás do Ukip e dos trabalhistas.
O eleitorado não parece ter levado em conta nem a queda do desemprego, nem a volta do crescimento econômico, nem os gestos de Cameron em relação à ala mais eurocética de seu partido, como a promessa de convocar um referendo pela continuidade ou não dos britânicos na União Europeia em 2017.
Os conservadores podem ser vítimas do próprio êxito, porque a boa situação econômica contribuiu para atrair mais imigrantes e, paradoxalmente, fortalecer o Ukip.
No mesmo dia em que os britânicos votavam nas eleições europeias, o Escritório Nacional de Estatísticas revelava um aumento "estatisticamente significativo" da imigração procedente da União Europeia: 201.000 em 2014.
O saldo migratório líquido -imigrantes menos emigrantes- foi de +212.000, um salto em comparação com os +177.000 do ano passado, e muito acima da marca de 100.000 prometida por Cameron.
No lado conservador, a frase mais repetida era: "Eu te disse".
Cameron disse ter captado a mensagem passada pelos resultados das eleições europeias: "As pessoas estão muito decepcionadas com a UE, e querem mudança e, no que diz respeito a mim, a mensagem foi recebida e entendida".
O primeiro-ministro se negou taxativamente a colaborar com o Ukip, um partido "que quer destruir os conservadores e não se aliar a eles".
Espanhóis contestam bipartidarismo
Os pequenos partidos espanhóis, com a surpreendente nova formação de esquerda Podemos, capitalizaram nas eleições legislativas europeias o descontentamento com as forças políticas tradicionais e deram um duro golpe no bipartidarismo.
A primeira vítima foi o secretário-geral dos socialistas espanhóis, Alfredo Pérez Rubalcaba, que deixará o cargo em um congresso extraordinário em 19 e 20 de julho.
"Assumo a responsabilidade pelos resultados eleitorais ruins", disse Rubalcaba nesta segunda-feira em uma entrevista coletiva à imprensa.
O Partido Socialista (PSOE) ficou com 14 eurodeputados, nove a menos do que tinha, em um recuo que afetou também a outra grande força espanhola, o governante Partido Popular (PP, direita), que obteve 16 assentos, oito a menos.
O Podemos, criado recentemente, tornou-se a quarta força política espanhola e conseguiu cinco eurodeputados, embora suas aspirações apontam para o governo nacional.
As duras políticas de austeridade aplicadas pelo governo conservador desde a sua chegada ao poder, em 2011, em um país com um quarto da população economicamente ativa sem uma ocupação - apesar de uma tímida reativação econômica -, parecem ter dado asas ao Podemos e a outras forças políticas oposicionistas.
Essas formações também capitalizaram o descontentamento com os políticos tradicionais, muitos deles envolvidos em casos de corrupção.
Além disso, ambos viram a formação separatista da Catalunha ERC se transformar na maior força política dessa região do nordeste da Espanha, para onde está prevista uma consulta sobre a autodeterminação em 9 de novembro.