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Quem é Fawzia Koofi, a deputada afegã que luta pelos direitos das mulheres

Parlamentar já foi ameaçada por pintar as unhas, teve o marido preso e oposição tentou assassiná-la ao assumir o cargo

Fawzia Koofi: deputada feminista faz oposição aos talibãs (Melanie Stetson Freeman/The Christian Science Monitor/Getty Images)

Fawzia Koofi: deputada feminista faz oposição aos talibãs (Melanie Stetson Freeman/The Christian Science Monitor/Getty Images)

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AFP

Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 14h54.

Fawzia Koofi não hesitou em se encontrar com os talibãs, depois que, no passado, eles prenderam seu marido, a ameaçaram com o apedrejamento por pintar as unhas e tentaram assassiná-la quando ela se tornou deputada e defensora dos direitos das mulheres.

Esta pioneira na política, mãe de duas filhas, não podia perder a oportunidade de lhes dizer o que pensa, que a sua misoginia e preconceito nunca mais encontrarão mais raízes no Afeganistão.

"Não é que eu quisesse fazer isso, mas fiz pelas mulheres do Afeganistão", disse ela à AFP em sua casa em Cabul.

"Senti-me poderosa. A sala estava cheia de gente, todos homens. Para mim foi importante estar visível e que a minha mensagem para eles fosse clara", acrescenta.

Apenas duas mulheres foram convidadas a participar desta reunião informal no início de fevereiro entre os talibãs e membros da oposição afegã em um hotel em Moscou.

Essas negociações não incluíram os Estados Unidos, um país com o qual o Talibã vem negociando há meses.

Washington quer acabar com mais de 17 anos de guerra no Afeganistão, mas muitos afegãos temem que uma retirada apressada ou um acordo leve com os insurgentes ao retorno de um regime repressivo ou a uma guerra civil.

Muitas mulheres temem o retorno da opressão da década de 1990, quando os talibãs lhes proibiram o acesso à educação e ao trabalho, e obrigaram-nas a usar a burca.

A reunião em Moscou deu origem a uma cena inimaginável anos atrás. Os mulás escutaram em silêncio enquanto Koofi defendia o direito de suas filhas viverem no Afeganistão moderno.

As afegãs estão "muito mais conectadas hoje". Elas não permitirão que "lhes mudem de época", lembra de ter dito a eles.

"Brincalhona"

Um dos passageiros do voo para Moscou, no qual Koofi estava viajando, era o chefe do departamento de vícios e virtudes do Talebã, a temível polícia moral que percorria as ruas em caminhões e açoitava mulheres suspeitas de indecência.

"Lembro como era perigoso. O barulho da caminhonete Hilux ainda soa em meus ouvidos", conta.

"Me esforveu para ser cordial, aberta e relaxada. Só fui um pouco brincalhona, quis dizer 'talvez eles não gostem do meu jeito de ser, mas sou como sou'", relata.

Alguns não gostaram de ver Koofi nas negociações de Moscou. Ela diz que teve que se impor para ser admitida nos grupos de trabalho. Nada de novo para este deputado, acostumado a ter que lutar em um país considerado um dos mais perigosos do mundo para mulheres e políticos.

Bebê abandonado 

Fawzia Koofi foi um bebê não desejado por ser menina. Sua mãe, uma das sete esposas de um lar, a abandonou sob o sol. Ela ficou chorando, com a pele queimada, quase um dia inteiro até que sua mãe mudou de opinião.

Mais tarde, sua mãe a apoiou e foi a primeira menina da família a ir para o colégio. Sua educação foi interrompida pela chegada ao poder dos talibãs em 1996, quando estudava na faculdade de Medicina.

Depois da intervenção americana em 2001 para expulsar os talibãs do poder, trabalhou para UNICEF e em 2005 entrou na política, tornando-se a primeira mulher vice-presidente do parlamento.

Com o tempo, se acostumou a brigar os parlamentares que tentam restringir os direitos das mulheres e não se ofende por sua impopularidade.

"Meu combate não é muito agradável. Não é algo que as pessoas gostem, sobretudo aos políticos afegãos. Vejo isso como um sinal positivo", afirma.

Em Moscou, não tentou convencer a opinião dos talibãs que se opuseram categoricamente a que uma mulher possa se tornar um dia presidente do Afeganistão.

"Por que eu teria que suplicar a eles para obter o que eu mereço? É um direito garantido por nossa Constituição", afirma.

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