Protesto de apoio ao Parlamento deixa 9 feridos na Venezuela
Os incidentes ocorreram em uma das principais estradas da capital, para onde foi desviado um protesto da oposição que tentou chegar ao Legislativo
AFP
Publicado em 4 de abril de 2017 às 19h47.
Nove pessoas ficaram feridas, uma delas baleada, durante um protesto da oposição venezuelana que nesta terça-feira para exigir a restauração dos poderes do Parlamento, eleições e a libertação de dirigentes políticos presos.
Um jovem manifestante levou um tiro na perna, mas está "fora de perigo", disse à AFP Ramón Muchacho, prefeito de Caracas.
Os demais feridos também não estão em estado grave, acrescentou o funcionário, assinalando que apresentam "traumas", como uma jovem que foi atropelada por um motociclista no meio de uma briga.
Estes incidentes ocorreram em uma das principais estradas da capital, para onde foi desviado um protesto da oposição que tentou chegar ao Legislativo, segundo Muchacho.
O deputado opositor José Olivares e a esposa do dirigente preso Leopoldo López, Lilian Tintori, denunciaram que grupos armados ligados ao governo atiraram contra a manifestação.
"Coletivos de Nicolás Maduro atiraram em nós", afirmou Olivares no Twitter.
"Tivemos que nos jogar no chão", revelou Tintori.
Um dia depois da OEA declarar que na Venezuela há uma "grave alteração" da democracia, mil pessoas tentaram ir até a Assembleia, no centro de Caracas, mas a polícia as impediu.
Isto causou uma resistência, na qual os policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo que atingiram o presidente do Legislativo, Julio Borges, o ex-candidato à presidência Henrique Capriles e deputados como o veterano Henry Ramos Allup.
Os políticos correram para se proteger e ficaram com os olhos irritados, constatou a AFP.
"Assim é que se desrespeita a nomeação parlamentar", denunciou Borges no Twitter.
Richard Blanco, da Assembleia, parou na unidade de "terapia intensiva" por causa dos gases, informou seu partido.
"Isso é ditadura e dentro de pouco tempo não haverá comida, isto é o que querem para seus filhos?!" - gritava para policiais María González, uma enfermeira de 56 anos.
"Lacaios do império"
A maioria opositora do Parlamento tinha previsto iniciar nesta terça-feira um processo para destituir magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que na semana passada assumiu brevemente os poderes do Legislativo e retirou a imunidade parlamentar dos deputados.
A sessão foi adiada para quarta-feira.
Milhares de partidários chavistas se mobilizaram nos arredores do Legislativo para rechaçar a resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA), que anunciou trâmites diplomáticos para retomar a "ordem democrática", incluindo uma possível reunião de chanceleres.
"Apoiamos Maduro diante destes ataques que querem um golpe de Estado. Rechaçamos todos os atos destes chanceleres lacaios do império", disse Angelo Oliva, manifestante chavista.
Durante o protesto, Diosdado Cabello, importante líder chavista, afirmou que "a OEA assinou sua certidão de óbito".
Maduro repudiou na segunda-feira a declaração do organismo, chamando-o de "tribunal da inquisição".
As proximidades da praça para onde foram convocados os opositores amanheceram vigiadas por dezenas de militares com veículos anti-distúrbios.
"Se o povo da Venezuela continuar pressionando, sem se amedrontar, vamos ver a mudança em todos os níveis do Estado até o ponto que Maduro terá que sair", disse a jornalistas o vice-presidente da Assembleia, Freddy Guevara, durante a concentração.
Remoção improvável
As sentenças do TSJ geraram forte rechaço internacional e abriram uma fissura no oficialismo, depois que a procuradora-geral, Luisa Ortega, chavista, denunciou uma "ruptura da ordem constitucional".
Devido a isso, Maduro convocou os poderes públicos para uma reunião - que não contou com a participação do chefe do Legislativo -, na qual ficou acordada a supressão das mais recentes medidas contra o Parlamento.
Mas a oposição, que qualificou as sentenças como um "golpe de Estado", anunciou que continuará nas ruas até que se respeite a Assembleia, cujas decisões são consideras nulas pelo TSJ, que a declarou em desacato em janeiro de 2016.
Também exige eleições, embora o presidente descarte um adiantamento das presidenciais, marcadas para dezembro de 2018.
As eleições nos Estados, que deveriam ser realizadas em 2016, foram adiadas e ainda não têm data, pelo qual a oposição exige um cronograma.
Os juízes do TSJ "ainda ignoram a Assembleia, não há eleições e há presos políticos. Vamos ativar o processo de remoção dos magistrados", disse Guevara.
A Corte alega que o Parlamento está em desacato por não ter desligado formalmente três deputados opositores, acusados de fraude eleitoral.
As possibilidades de remoção dos magistrados são poucas, pois dependem do Poder Cidadão, integrado pela procuradora, pelo defensor e pelo controlador, "aliados do governo", explicou à AFP o constitucionalista José Vicente Haro.