Promotores pedem julgamento da Air France por acidente fatal em 2009
A Procuradoria alega que a companhia aérea "foi negligente e imprudente" por não ter orientado seus pilotos sobre o procedimento em caso de anomalias
Reuters
Publicado em 17 de julho de 2019 às 12h29.
Paris — Promotores franceses querem que a Air France seja julgada pelo acidente fatal de 2009 envolvendo o voo AF447, entre Rio de Janeiro e Paris, que causou a morte de 228 passageiros e tripulantes de 34 nacionalidades, disse uma fonte judicial da França nesta quarta-feira.
A Procuradoria considera que a companhia aérea "foi negligente e imprudente" por não ter fornecido aos seus pilotos informações suficientes sobre o procedimento a ser adotado em caso de anomalias relacionadas às sondas que permitem controlar a velocidade da aeronave, após vários incidentes do mesmo tipo nos meses que antecederam o desastre, de acordo com sua recomendação datada de 12 de julho.
Investigadores franceses apontaram que os pilotos do AF447 cometeram equívocos ao fazer a leitura na perda de velocidade de sensores que estavam bloqueados pelo gelo devido a uma tempestade, o que provocou uma perda de sustentação.
Por outro lado, estima que não há acusações fortes suficientes contra a fabricante da aeronave para um julgamento. A fonte judicial acrescentou que os promotores não incluíram a Airbus em seu pedido de julgamento pelo acidente.
Cabe agora aos juízes de instrução decidir se vão seguir essas requisições e ordenar um julgamento apenas para a companhia aérea.
Nessa batalha judicial, que está em andamento há mais de dez anos, as duas empresas foram indiciadas em 2011 por "homicídios culposos".
O acidente
O avião, um Airbus A330, caiu no oceano Atlântico após decolar do Rio na noite do dia 31 de maio, devido a uma perda de sustentação aerodinâmica. Uma formação de gelo em pleno voo nas sondas pitot levou a uma interrupção das medições de velocidade do Airbus A330 e desorientou os pilotos até que o avião parasse.
As duas caixas-pretas do AF447 foram resgatadas após quase dois anos submersas a 3.900 metros de profundidade no local onde a aeronave afundou.
A investigação provocou uma verdadeira batalha entre especialistas para estabelecer as responsabilidades na queda da aeronave. As partes civis pressionam para que a Airbus e a Air France sejam julgadas.
Em 2012, a primeira expertise apontou para erros da tripulação, problemas técnicos e falta de informações dos pilotos no caso de congelamento das sonda, apesar dos incidentes anteriores relatados à Airbus.
A fabricante pediu então uma segunda expertise, que se concentrou principalmente numa "reação inadequada da tripulação" e nas deficiências da Air France.
Considerando este segundo relatório muito favorável à Airbus, parentes das vítimas e a companhia aérea atacaram a contra-expertise perante a Corte de Apelação de Paris, que ordenou sua anulação e a reabertura da investigação.
A última contra-expertise, apresentada em dezembro de 2017, voltou a provocar indignação das partes civis. Os especialistas reafirmaram que a "causa direta" do acidente "resultou de ações inadequadas em pilotagem manual" da tripulação e tendeu a poupar a Airbus.
Com AFP e Reuters*