Exame Logo

Presidente arrisca tudo para retomar poder total na Turquia

Depois de ter perdido a maioria parlamentar, presidente turco convocou eleições legislativas antecipadas no domingo. A aposta é arriscada

Tayyip Erdogan: presidente perdeu a maioria que tinha no parlamento há 13 anos, um duro revés para o "homem forte" do país (Ints Kalnins/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2015 às 11h25.

A decisão do presidente turco Recep Tayyip Erdogan de realizar no domingo eleições legislativas antecipadas é uma aposta arriscada para recuperar o poder total depois de ter perdido, em junho, a maioria parlamentar.

As pesquisas publicadas nos últimos dias indicam que, como nas legislativas de 7 de junho, seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islâmico-conservador) não obterá a maioria absoluta.

Naquelas eleições, o AKP obteve 40,6% dos votos, mas perdeu a maioria que tinha no parlamento há 13 anos.

O resultado foi um duro revés para o homem forte do país e freou sua ambição de criar uma espécie de "superpresidência", com a qual teria acumulado ainda mais poderes.

Mas, invés de dar-se por vencido, Erdogan fez todo o possível nas semanas seguintes para implodir as negociações para formar uma coalizão. E como não conseguiu, decidiu convocar novas eleições.

"A presidência executiva (que teria dado a ele mais poder) defendida pelo chefe de Estado foi amplamente rejeitada em junho", explica Marc Piérini, pesquisador da Fundação Carnegie Europe.

"Se neste domingo o resultado for parecido, a Europa espera que este período transitório termine, pois não é bom para o país, e que se forme um governo de coalizão", afirma o analista.

Não está claro, no entanto, se Erdogan aceitará uma "coexistência turca".

Há alguns meses, o chefe de Estado abriu mão de suas reuniões públicas diárias nas quais reclamava abertamente uma maioria de 400 deputados para reforçar seus poderes.

"Ele mudou de tática", explica Sinan Ulgen, do Centro de Estudos de Economia e Política Estrangeira (Edam) de Istambul.

"As pesquisas demonstram que sua ingerência durante a campanha de junho foi contraproducente para o AKP", explica.

Autoritarismo

Apesar de se mostrar um pouco mais discreto, Erdogan continua, no entanto, expressando sua intenção de manter as rédeas do país.

"Não cheguei aqui caindo do céu", comentou recentemente. "Foi primeiro-ministro por onze anos e meio. Há projetos que ainda estão por terminar, e temos o dever de continuar com eles".

O chefe de Estado também não mudou sua visão política ou alterou o autoritarismo criticado pela oposição, como demonstra a ação policial esta semana contra dois canais de televisão da oposição.

Na esperança de atrair o voto nacionalista, Erdogan se define como o único capaz de manter a paz e a segurança no país depois da retomada, em julho, dos combates entre as forças de segurança e os rebeldes curdos e depois do atentado de 10 de outubro, em Ancara, que deixou mais de cem mortos durante uma manifestação pacifista pró-curda.

"Há sangue na Turquia e Erdogan tenta aproveitar este clima de tensão para obrigar o país a escolher entre o caos ou a ordem estabelecida", afirma o jornalista Kadri Gürsel, demitido recentemente do jornal Milliyet.

"Mas há poucas probabilidades de que esta estratégia permita recuperar a maioria absoluta porque a sociedade turca está muito polarizada", acrescenta.

As pesquisas confirmam esta análise e dão ao AKP entre 41% e 43% dos votos, menos que Erdogan precisaria para governar sozinho.

Por isso, muitos temem que no domingo à noite o país se encontre novamente bloqueado politicamente, como aconteceu nas eleições de junho.

"As negociações para formar uma coalizão parecem agora ainda mais complicadas", prevê Sinan Ulgen. "E se o AKP ficar a poucos votos da maioria absoluta, o presidente Erdogan poderá convocar eleições pela terceira vez", adverte.

Veja também

A decisão do presidente turco Recep Tayyip Erdogan de realizar no domingo eleições legislativas antecipadas é uma aposta arriscada para recuperar o poder total depois de ter perdido, em junho, a maioria parlamentar.

As pesquisas publicadas nos últimos dias indicam que, como nas legislativas de 7 de junho, seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islâmico-conservador) não obterá a maioria absoluta.

Naquelas eleições, o AKP obteve 40,6% dos votos, mas perdeu a maioria que tinha no parlamento há 13 anos.

O resultado foi um duro revés para o homem forte do país e freou sua ambição de criar uma espécie de "superpresidência", com a qual teria acumulado ainda mais poderes.

Mas, invés de dar-se por vencido, Erdogan fez todo o possível nas semanas seguintes para implodir as negociações para formar uma coalizão. E como não conseguiu, decidiu convocar novas eleições.

"A presidência executiva (que teria dado a ele mais poder) defendida pelo chefe de Estado foi amplamente rejeitada em junho", explica Marc Piérini, pesquisador da Fundação Carnegie Europe.

"Se neste domingo o resultado for parecido, a Europa espera que este período transitório termine, pois não é bom para o país, e que se forme um governo de coalizão", afirma o analista.

Não está claro, no entanto, se Erdogan aceitará uma "coexistência turca".

Há alguns meses, o chefe de Estado abriu mão de suas reuniões públicas diárias nas quais reclamava abertamente uma maioria de 400 deputados para reforçar seus poderes.

"Ele mudou de tática", explica Sinan Ulgen, do Centro de Estudos de Economia e Política Estrangeira (Edam) de Istambul.

"As pesquisas demonstram que sua ingerência durante a campanha de junho foi contraproducente para o AKP", explica.

Autoritarismo

Apesar de se mostrar um pouco mais discreto, Erdogan continua, no entanto, expressando sua intenção de manter as rédeas do país.

"Não cheguei aqui caindo do céu", comentou recentemente. "Foi primeiro-ministro por onze anos e meio. Há projetos que ainda estão por terminar, e temos o dever de continuar com eles".

O chefe de Estado também não mudou sua visão política ou alterou o autoritarismo criticado pela oposição, como demonstra a ação policial esta semana contra dois canais de televisão da oposição.

Na esperança de atrair o voto nacionalista, Erdogan se define como o único capaz de manter a paz e a segurança no país depois da retomada, em julho, dos combates entre as forças de segurança e os rebeldes curdos e depois do atentado de 10 de outubro, em Ancara, que deixou mais de cem mortos durante uma manifestação pacifista pró-curda.

"Há sangue na Turquia e Erdogan tenta aproveitar este clima de tensão para obrigar o país a escolher entre o caos ou a ordem estabelecida", afirma o jornalista Kadri Gürsel, demitido recentemente do jornal Milliyet.

"Mas há poucas probabilidades de que esta estratégia permita recuperar a maioria absoluta porque a sociedade turca está muito polarizada", acrescenta.

As pesquisas confirmam esta análise e dão ao AKP entre 41% e 43% dos votos, menos que Erdogan precisaria para governar sozinho.

Por isso, muitos temem que no domingo à noite o país se encontre novamente bloqueado politicamente, como aconteceu nas eleições de junho.

"As negociações para formar uma coalizão parecem agora ainda mais complicadas", prevê Sinan Ulgen. "E se o AKP ficar a poucos votos da maioria absoluta, o presidente Erdogan poderá convocar eleições pela terceira vez", adverte.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEleiçõesEuropaPolíticaTurquia

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame